Os exemplos da má despesa foram normalizados. Os tribunais de contas, constitucional e supremo e a Assembleia Nacional são coniventes. A lata com que rebentam com o dinheiro que não temos em coisas supérfluas tem de merecer a indignação do povo de Cabinda ao Cunene, do mar ao Leste.

Numa página do jornal vemos todos os dias os ajustes directos que, sem vergonha e contra a lei, são usados de forma indiscriminada sem atender a nenhum critério de emergência, nem de prioridade social e na outra lemos que o Governo não tem dinheiro para a Merenda Escolar. Nenhum político consciente e humano deixa de dar comida aos filhos da pátria. A comida das crianças é sagrada. Se nos calarmos, seremos todos cúmplices deste crime hediondo, este atentado contra a integridade, a protecção e a vida das nossas crianças, a maioria vivendo abaixo dos limites da dignidade humana.

Temos de criar um escudo contra a barbárie, este descaso que atenta contra todos os direitos na infância. Angola não é propriedade do MPLA, nem do Presidente João Lourenço. Temos de nos levantar. Gritar. Exercer todos os nossos direitos de reclamação. Temos que activar a nossa imaginação, a criatividade, o recurso à participação popular para reivindicar e proteger o Direito das Crianças. Não é apenas a fome. A maioria não tem acesso à saúde. Não tem habitação condigna. Não tem sequer água potável. Milhões não frequentam a escola por ausência de vagas. Não têm estímulos que ajudem a enriquecer o seu futuro. Vivem no inferno da dor, da violação da sua integridade em todos os sentidos e com um sistema de educação caduco, deficiente, imprestável, sem rumo, cheio de buracos e com escolas que parecem saídas de zonas de guerra em curso.

O Presidente João Lourenço não tem empatia, não tem nenhum plano social credível. Aterrou no Governo de paraquedas e ainda assim foi bem recebido pelo povo que acreditou que ele cumpriria as promessas que fez sobre a luta contra a corrupção e a impunidade. Acreditou que ele faria diferente, que seria magnânimo. Um pai. Um político que ouviria a dor do povo. Mas infelizmente não foi capaz de criar nenhuma estratégia de governação assente na ciência e sobretudo assente no amor pela pátria e pelos que menos têm. Hoje percebemos que, definitivamente, está completamente perdido dentro do palácio, cometendo erros atrás de erros e o preço desta desgovernação será pago sem a solidariedade dos seus pares que hoje beneficiam do banquete da imoralidade governativa.

Todos assistimos ao tratamento dado ao Presidente José Eduardo dos Santos pelos traidores que se desunhavam na sua defesa enquanto ele tinha poder absoluto e no lambebotismo. Foram os mesmos que lhe viraram as costas sem nenhum remorso nem agradecimento a um homem que lhes deu tudo em prejuízo do povo. Este é o comportamento das hienas, animais traiçoeiros sem qualquer serventia ética.
A maioria da população que está indignada com o estado do País não fica apenas no patamar do funge de sábado (os que ainda têm funge ao sábado) onde se traçam todas as estratégias de combate ao abuso da governação. É imperativo que a defesa do nosso País não seja feita apenas por grupos de jovens corajosos que dão a cara e a vida nas reclamações populares que são de responsabilidade colectiva. Temos de sair do sofá, do banco ou da pedra e reclamar até à exaustão. Infelizmente o MPLA colocou Angola em cima de um barril de pólvora. O futuro será dramático para todos.

A DEFESA DA CRIANÇA ANGOLANA É IMPERATIVA. Já perdemos várias gerações que hoje vivem no limbo, apátridas dentro de casa. Sem registo que lhes confira a condição de cidadãos. Um nome. O acesso aos direitos elementares. Não são os filhos dos pobres. Não são os filhos dos outros. São os filhos menores que a pátria não abraçou. Os filhos indignos que não ficam bem no postal da "ineficaz diversificação económica". São uma incómoda pedra no sapato da governação. Mas são também os filhos do futuro. Os filhos necessários para garantir a soberania de Angola e por isso jamais poderão ser marginalizados. Temos de conseguir construir um país onde nenhuma criança fique para trás sozinha e sem colo.