Não damos conta disso porque julgamos que a roda da história parou, que os ponteiros do relógio estão encravados à nossa espera e que o mundo é que precisa de Angola e não o seu contrário.
Mas, também não damos conta disso, porque nem sequer nos apercebemos do que se passa à nossa (austral) volta. Ou ainda porque, prisioneiros do passado e de lentes de contacto embaciadas, insistimos em continuar a conduzir a viatura agarrados ao retrovisor.

É claro que ninguém tem dúvida de que Angola precisa, em primeiro lugar, de "contar com as suas próprias forças" para pôr o motor de arranque a trabalhar.

Mas, quando essas forças se apresentam tão fragilizadas, tão corroídas e tão carentes de massa crítica, ao país não resta outra saída senão virar-se para o mundo exterior.
Nesta luta da caça ao capital, há, no entanto, que ser prudente para que o desespero de quem vai à caça não leve os caçadores indígenas a serem caçados.

Para que não voltemos a abrir as portas a tribos de novos caçadores como aquela que, aqui chegada no passado com uma mão à frente e outra atrás, depois de vender a banha da cobra, fartou-se de embolsar milhões à custa da nossa incúria.

Em sentido oposto, há também que ser prudente para não cair na tentação de içar a bandeira do isolacionismo num país que, dependendo em quase tudo do exterior para sobreviver e tendo a corda pendurado ao pescoço, se enveredasse por esse caminho suicida, arriscar-se-ia a resvalar para uma situação verdadeiramente insustentável.

Para travar a progressão das ravinas do subdesenvolvimento e do atraso, as elites angolanas são, por isso, chamadas a abrir as suas mentes ao mundo do conhecimento e do saber para que Angola deixe de ser um mero entreposto comercial de mercadorias.

Essa abertura é determinante para ter o cérebro angolano a comandar o capital e não o capital a mandar no cérebro. Quase meio século depois da Independência é isso, no entanto, que, por aqui, amiúde, vem sucedendo e cada vez menos.

Mas, da mesma forma que Angola não pode abraçar o capitalismo com regras do socialismo, também não se pode abrir ao conhecimento ocultando a ignorância, protegendo o clientelismo ou encorajando a mediocridade.

Como fazê-lo, então? Investindo o capital financeiro interno e externo na aquisição do capital intelectual para assegurar a promoção, a difusão e o desenvolvimento do conhecimento.

Logo, a abertura de Angola ao mundo exterior só será exequível e benéfica se for feita através de investimento sustentável e não por via do negócio das importações, que, sem qualquer controlo, acabaram por transformar, no passado, o país num gigantesco armazém afiançado.

Essa abertura exige rigor na contratação temporária no estrangeiro de recursos humanos comprovadamente qualificados para não "comprar gato por lebre" e para que o país não volte a cair na tentação de promover uma nova indústria de cooperação agora enroupada de uma variante mais sofisticada: a consultoria interna e externa.

Para oxigenarmos a economia, precisamos, pois, de remover a teia da inércia, o desleixo e a mediocridade instalados no funcionalismo público, a vasta cadeia de empecilhos administrativos que o rodeia e o tráfico de influência, que, a partir de poderosos centros de decisão política, vem condicionando o fluxo normal do investimento.

Ao passar pelo fomento da produção interna, geração de riqueza e criação de emprego e de valor acrescentado, esta cadeia de bloqueios reais e artificiais, ao querer viciar as regras do jogo na hora da repatriamento dos lucros, tende a concorrer para afugentar os potenciais investidores. A cadeia de vícios é infindável.

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