Se a Saúde está de boa saúde, se está de baixa médica ou em coma induzido, os vários temas e subtemas abordados nesta edição ajudarão o leitor a ter uma ideia do estado das coisas. É claro que não é algo acabado e que não se esgota por aqui.

Fizemos um trabalho de informação e de dados que poderão ser úteis para os leitores e não só, desde a formação em Saúde no País e a qualidade (ou a falta dela) de ensino nas nossas instituições, os investimentos públicos na Saúde e o facto de estarmos ainda longe dos 15% das despesas do OGE.

A Covid-19 que acentuou e lançou novos desafios ao sector, mas que mobilizou todo um país num processo que, em termos políticos, técnicos, administrativos e logísticos, foi consensualmente considerado bem conduzido. O aumento do número de instituições de saúde e de ensino em Saúde e o aumento do número de profissionais que o País registou nem sempre fazem que exista uma relação ente quantidade e qualidade. A malária continua a ser a maior causa de morte em Angola, a mortalidade infantil é ainda um grande problema que enfrentamos, os números da febre-amarela, tuberculose e HIV/Sida têm aumentado substancialmente. A assistência medicamentosa é outro assunto que merece abordagem por aqui.

Para além das rupturas de stocks, existe adulteração de medicamentos e a sua venda em locais impróprios, bem como o facto de os medicamentos não chegarem a muitas localidades do País. O saneamento básico, a prevenção e programas de vacinação são também importantes em todo esse processo.

Faz-nos falta uma cultura e educação para a saúde. Termos a cultura preventiva e de cuidado com a nossa saúde, a inserção de educação para a saúde no ensino. A valorização e dignificação dos quadros da Saúde são um imperativo, pois, apesar de termos técnicos angolanos a realizarem cirurgias de grande complexidade no País, a leccionarem em instituições de ensino no exterior, a receberem distinções por trabalhos de pesquisa e investigação internacional, bem como a ocuparem cargos de relevância em instituições internacionais, temos registado, nos últimos anos, várias reivindicações e manifestações de profissionais da classe em torno de melhorias de condições sociais e laborais.

É importante olhar-se também para a defesa e exercício da liberdade sindical, onde os sindicatos devem surgir como importantes parceiros sociais e legítimos defensores das diferentes classes e não como apêndices de estruturas partidárias, agindo em nome de interesses alheios aos seus.


Carlos Mariano, conhecido patologista e referenciado académico, foi a escolha para a entrevista desta edição. O antigo decano da Faculdade de Medicina da Universidade Agostinho Neto e ex-director do Hospital Américo Boavida traz-nos importantes elementos estatísticos relevantes para uma análise comparativa do sector no período pré e pós-Independência. Faz uma abordagem real, objectiva e científica do sector da Saúde em Angola. Um exercício exigente, mas interessante, que convido os leitores a apreciar. Em suma, esse é o diagnóstico possível do estado da Saúde na visão do NJ.

Uma radiografia feita em tempo de Dipanda e numa semana em que os enfermeiros iniciaram mais uma greve por melhores condições laborais e dignificação da classe. É consensual dizer-se que a saúde da nossa Saúde ainda inspira muitos cuidados. Rápidas melhoras!