Chegando à Ilha por volta das 10 horas da manhã, dão conta, para sua surpresa e regozijo, que o pessoal de limpeza já está, no primeiro dia ano, a limpar a sujidade dos festejos da noite anterior. Depois, levantando o olhar, dão conta de que, ao mesmo tempo que estes trabalhadores e trabalhadoras não estão a gozar um feriado generalizado por razões de dever para com a população, centenas de galfarros, de ambos os sexos, bêbados que nem um cacho, atiram garrafas para a areia, empurram os restos de comida para o mar, enchem o espaço com décebeis incalculáveis de música e vão partindo, alegremente, bancos, depósitos de lixo. Um pouco mais ao lado, a polícia de giro que, felizmente já ocupa alguns espaços da Ilha como forma de prevenção, assiste, impávida e serena, aos desvarios de umas quantas aberrações da natureza que fingem desconhecer formas básicas de convivência humana e o respeito pelos bens públicos.

Nas páginas deste jornal temos, ao longo dos anos e sempre que a realidade o justifica, chamado à atenção para alguns abusos de autoridade que são cometidos por fiscais, polícias que durante muito tempo usavam a força e tiravam partido do medo das populações, para ficar com os seus haveres, roubando muitas vezes os produtos das nossas zungueiras, por exemplo.

E, na mesma proporção, é absolutamente necessário trazer à liça esta forma de estar que se arrasta há anos, quer na Ilha, quer nas poucas praias públicas que sobraram, fenómeno a que o Insituto Marítimo e Portuário de Angola resolveu pôr termo, através de uma campanha iniciada há pouco tempo e que se arrastará por vários meses.

A verdade é que os excessos de autoridade não são mais graves do que a falta desta, e o que vimos assistindo nas nossas praias é a uma autêntica desbunda a "céu aberto". Cacos de garrafas, pregos, seringas, preservativos, lixo de todo o tipo até o mais inimaginavel que não aparece apenas vindo da areia ou do mar. Pelos passeios que se tentam calcorrear, também não faltam artefactos do género.

Em suma, aquele pequeno núcleo familiar acabou empurrado para uma das praias privatizadas e, depois de ter gasto uma soma considerável por um sumo e umas garrafas de água (para justificar a utilização da praia), não teve o direito a, sossegadamente, usufruir de uma praia pública. Não acreditamos que não passe pela cabeça das autoridades administrativas a "genial" ideia de pôr estes javardos (perdoem-nos os leitores mas não têm outro nome) a pagarem coimas pela forma como tornam as nossas praias impossíveis de ser utilizadas. Bastaria, para tanto, que a administração local acertasse com quem dirige os polícias de giro, o pagamento imediato e no local de multas, que até estão previstas. Para tanto, é suficiente um cadernozinho de multas e um multicaixa carregado e funcional.

Se temos o dever de apostar cada vez mais na educação cívica de todos, tudo o que diga respeito a aspectos básicos de convivência e de coabitação não pode passar mais por campanhas ou por conselhos. Esta gente não faria em sua casa o que faz nas praias disponíveis da Ilha de Luanda. E se o quer fazer onde mora que o faça. Num espaço público, livre, que há centenas de anos é utilizado por toda a gente, como forma de relaxar, de nadar ou levar as crianças a brincar, não se pode admitir mais este tipo de comportamentos. E se a única solução é fazer com que doa no bolso, avancemos com ela. Se nem o cidadão comum lá consegue ir, imagine-se um turista. E a família lá entrou no ano com o pé esquerdo. Graças à lumpenagem que toma conta das praias, sob o olhar impávido das autoridades.