Já se passaram muitos anos, contudo, os laços de sangue são inquebráveis. A família Trucker, descendente de pessoas escravizadas originárias do antigo reino do Ndongo tem feito um trabalho maravilhoso em busca das suas raízes.

Desportivamente, a nação americana tornou-se na principal potência mundial, com particular destaque para o basquetebol em que há uma assinalável presença de afro-descendentes.

Os Estados Unidos são, sem dúvidas, o país do basquetebol e com isto despertam a interesse de atletas de todo o mundo que sonha lá chegar para treinar e competir nas ligas profissionais como a NBA e a WNBA e, antes disto, nas competições estudantis de nível médio e universitário (NCAA).

Aqui em Angola, está a acontecer uma verdadeira rumaria de atletas de basquetebol em busca do sonho americano. Jovens que quase do dia para a noite largam tudo (famílias, estudos, clubes, enfim...) e enchem-se de coragem e sonhos e partem para a "meca" do basquetebol mundial em busca da plena realização desportiva e pessoal.

Muito recentemente, a nossa selecção nacional júnior feminina foi uma "vítima" deste movimento migratório, perdendo praticamente o seu cinco inicial bem na véspera do campeonato africano que se disputa na África do Sul nesta altura.

É óptimo que os nossos jovens sonhem. É melhor ainda que, de facto, estes sonhos sejam concretizados.

No entanto, pelo que tenho tido a oportunidade de observar, há infelizmente alguns, sendo nada poucos, casos de insucesso neste processo de transição para a realidade norte-americana.

Sendo atleta, o caminho para se chegar de modo seguro aos Estados Unidos impõe, necessariamente, uma preparação e uma organização mais minuciosa possível por parte da pessoa responsável por levá-los e das próprias famílias.

O primeiro passo para uma adaptação mais imediata possível à realidade competitiva dos Estados Unidos implica que os jovens atletas se preparem académica e desportivamente.

Nos Estados Unidos, o desporto e, particularmente, o basquetebol é escolar. Para poder jogar é fundamental que o atleta esteja matriculado numa instituição do ensino médio ou universitário e para isto tem que ter um domínio muito acima do razoável da língua inglesa e de algumas disciplinas nucleares no sistema de ensino norte-americano como a matemática.

O que temos observado, em alguns casos, é a atracção de jovens sem condições de "sobrevivência" académica dos Estados Unidos, sendo adaptados a níveis de ensino muito abaixo do que seria desejável, levando-lhes a competir com atletas muito novos em função da classe académica que frequentam.

Penso que há aqui um desafio para a Federação Angolana de Basquetebol diante da realidade que estamos a viver que requer um exercício de diplomacia desportiva e de aproximação com a embaixada dos Estados Unidos em Angola, de modo que com o suporte institucional desta representação diplomática se encontre uma via que garanta uma chegada àquele país de modo mais seguro e consciente.

*Jurista e Presidente do Clube Escola Desportiva Formigas do Cazenga