No dia 03 de Fevereiro, chegava a notícia de que Gouveia e Melo seria o novo coordenador do plano de vacinação em Portugal, a tal Task-Force, substituindo Francisco Ramos, que renunciou ao cargo. Ele já fazia parte da equipa de coordenação do plano de vacinação contra a Covid-19, como representante do Ministério da Defesa Nacional de Portugal. Esta terça-feira, 28, foi o fim da missão da equipa coordenadora do processo de vacinação, uma missão que lhe valeu reconhecimento nacional e, ao longo de sete meses, fez dele uma das figuras de destaque na sociedade portuguesa. Gouveia e Melo era auxiliado por um Estado-Maior da Força de Reacção Imediata (FRI), com 20 militares dos três ramos das Forças Armadas e, uma semana após assumir o comando do plano de vacinação, prometeu que, até ao final do ano, a população portuguesa estaria vacinada, com 70% das pessoas imunizadas no início de Setembro. E não é que, em finais de Agosto, duas semanas antes do prazo previsto, o coordenador do plano de vacinação e a sua equipa haviam cumprido todas as metas, e hoje Portugal está prestes a atingir os 85% da população com duas doses de vacina, avançam os órgãos locais de comunicação social. Em um mês com Gouveia e Melo na liderança, já se estavam a vacinar em Portugal pelo menos 100 mil pessoas por dia e três meses depois tinham aberto já os prometidos 162 centros de vacinação que permitiram tornar o processo quatro vezes mais eficiente. A seu pedido, a Direcção-Geral de Saúde encurtou o intervalo entre as duas doses da vacina, com o objectivo de manter o ritmo de vacinação. A credibilidade, a eficácia e o sucesso do programa de vacinação contra a Covid-19 em Portugal têm uma marca: o espírito de missão e de liderança do vice-almirante Gouveia e Melo.

Gouveia e Melo é, praticamente, desconhecido por grande parte dos angolanos (também quando assumiu o cargo de coordenador da Task-Force, era desconhecido pela maioria dos portugueses), por isso trago aqui a sua história e exemplo. Partilho aqui como a sua capacidade de trabalho, de disciplina e de organização foi determinante para o sucesso do processo de vacinação. Foram estabelecidas metas, redefiniram-se prioridades e alteraram-se métodos suportados pelo rigor na estratégia, foco no planeamento e cumprimento de prazos. O facto de a Task-Force ter sido liderada por um militar foi fundamental para o sucesso do plano de vacinação contra a Covid-19 em Portugal.

Os militares impõem disciplina e respeito pelas hierarquias, são mais imunes a pressões, cunhas, esquemas, egos e vaidades próprias dos políticos. Os militares não têm agendas políticas, não estão ao serviço das máquinas partidárias e nem andam na caça ao voto fora de época. Sabem impor autoridade e actuar no terreno. Gouveia e Melo soube lidar com a exposição mediática e usou-a como arma para mobilizar cidadãos para a vacinação e combate ao vírus. O camuflado que usava era também uma forma de passar a mensagem de que o país estava "em guerra" contra um inimigo letal. Como em Angola se tem Portugal como referência para muitas coisas, era importante que se usasse esse exemplo do vice-almirante Gouveia e Melo, para que chegue a hora e vez da tropa.

Temos Forças Armadas com quadros experientes e competentes, mas pouco explorados e valorizados. Apesar de termos um Presidente da República com formação militar e que até foi elogiado dentro e fora do País por ter agido rápido e com atitude quando começaram a surgir os primeiros casos de Covid-19 em Angola, em Março de 2020, apesar de a Comissão Multissectorial de Combate à Covi-19 ser liderada por um general (ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do PR), o certo é que se devia ter um maior contributo das Forças Armadas com o seu pessoal médico das diferentes especialidades, com a sua capacidade de estratégia, liderança e organização, quer seja em processos de vacinação, mobilidade de cidadãos, na organização e coordenação de centros, na sensibilização, explicação/clarificação de métodos e processos.

Apesar das afirmações do ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do PR, general Francisco Furtado, de que se estão a vacinar mais de 70 mil pessoas por dia em Angola, apesar das promessas do secretário de Estado para a Saúde Pública de que, até ao final do ano, se irão vacinar 13 milhões de pessoas, o certo é que o número de cidadãos imunizados (tomaram duas doses da vacina) está abaixo dos 6%. O certo é que em Portugal uma Task-Force coordenada por um militar funcionou. Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa, Marta Temido e Graça Freitas não se sentiram ameaçados pelo protagonismo de Gouveia e Melo e nem o próprio andou atrás dos holofotes da imprensa ou de aprovação popular. Limitou-se a exercer com zelo e espírito de missão uma tarefa que lhe foi incumbida, também deu honra e prestígio às Forças Armadas. E depois da missão cumprida, Gouveia e Melo já prometeu voltar ao anonimato. É claro que dificilmente conseguirá.