E a "Perseguição Suprema" do juiz-presidente do Tribunal Supremo (TS) promete não ficar por aí. Joel Leonardo tem agora condições e elementos para avançar com a sua contra-ofensiva e na sua linha de fogo, além dos dois juízes mencionados, outros como Norberto Capeça, Joaquina Nascimento, Teresa Buta e Norberto Sodré já estão na condição de "próximos mais próximos". É que, de tanto ser alvo de várias notícias na comunicação social, nas redes sociais, de acusações de corrupção e nepotismo, de ter a sua liderança contestada no plenário do TS, Joel Leonardo contratou especialistas que prepararam uma estratégia de promoção da sua imagem e de combate a todo tipo de informação negativa contra si. Depois da fase de blindagem e protecção, começou o ataque contra os inimigos declarados. O aumento do número de juízes no TS favoreceu-o e colocou-o na situação de "alargar para melhor reinar". Está a abrir muitas frentes e a fragilizar a instituição em nome de guerras e perseguições. Além de que ainda se aguarda um pronunciamento da PGR sobre as suspeições levantadas pelo próprio plenário do TS em relação ao seu juiz-presidente, uma situação que ao que parece também lhe causa imensos transtornos e lhe impede de agir plenamente nesta qualidade, sendo que muita da sua acção tem sido feita nas vestes de presidente do Conselho Superior da Magistratura Judicial.
Joel Leonardo pode ser a parte visível de uma luta invisível de grupos por poder e influência junto do poder judicial. É um confronto antigo de grupos que lutam pelo tal poder e influência no poder judicial mas com tentáculos na Cidade Alta e no Kremlin (sede do MPLA). É que a protecção palaciana e partidária é necessária e faz toda a diferença. É que estes grupos dominantes já vêm do tempo da governação de José Eduardo dos Santos. A protecção e promiscuidade palacianas com a Cidade Alta são antigas e o alinhamento partidário também. A corrupção, esquemas, nepotismo, favorecimento e enriquecimento em benefício próprio sempre estiveram no passado e continuam até hoje. Desde sempre os juízes-presidentes dos tribunais superiores tiveram muito poder e autonomia total na gestão das instituições. Dificilmente sabe-se (de forma clara) quanto recebem, como gerem e como gastam. As empresas que prestam serviços aos tribunais são todas deles ou alinhadas com eles, desde as que fazem manutenção dos imóveis, dos AC"s, que fornecem água potável, consumíveis de escritório até serviços de jardinagem, é tudo deles. Empregam quem querem, promovem quando querem e outras arbitrariedades. O problema é que Joel Leonardo está a fazer tudo de forma descarada e a destapar o véu de um modus operandi desta até então tida como "imaculada instituição", o que é mau para a imagem do sistema judicial. As elites não gostam e nem aprovam Joel Leonardo, não o consideram competente e capaz de exercer o cargo de juiz-presidente do Tribunal Supremo e a sua actuação também não abona a seu favor. Elas não concordaram e até hoje engolem a seco a decisão e escolha de João Lourenço, mas respeitam-na, combatendo-a em surdina. Enquanto ficar a ideia de que Joel Leonardo tem "protecção palaciana e partidária", dificilmente será abertamente afrontado com excepção do seu plenário e na comunicação social independente.
A chamada "Turma do Joel" sente que agora também chegou a sua vez e que também tem o direito de reinar, como as elites tiveram no passado. O poder é um afrodisíaco e as pessoas facilmente ganham o gosto por ele. Triste é que está aberta uma guerra e começou a época do vale-tudo. Está muita coisa em jogo. Está poder, dinheiro, influência, estratégia. Há uma luta de grupos pelo controlo do poder judicial, que não começou agora com a situação de Joel Leonardo; como disse, já remonta ao tempo de José Eduardo dos Santos e teve outros actores. É uma luta antiga que passa pelo controlo da PGR, Tribunal Supremo, Tribunal Constitucional e Tribunal de Contas. Joel Leonardo não entra nas contas desta elite que se assume como "guardiã do templo" e, apesar de todos os escândalos e acusações, não demonstra intenções de renunciar e que, enquanto tiver "apoio, confiança e protecção palacianos", dificilmente o fará. Enquanto isso, veremos acontecer as suas "Perseguições Supremas" contra alguns dos seus pares e uma guerra surda dos "guardiões do templo" contra si. Não há sistema judicial e nem País que aguente!