É necessário avaliar os efeitos da crise desencadeada pela pandemia do coronavírus, bem como reconhecer as lacunas existentes, para que se possam encontrar os pontos de (re)orientação. O objectivo é apenas um: identificar os novos caminhos e as abordagens mais fluídas sobre os modelos de governação e gestão dos portos nos contextos nacional, regional e global.
Os pesquisadores e a comunidade portuária já se debruçam sobre a situação dos portos na era pós-Covid, o que envolve a busca por soluções de governação, métodos de avaliação dos indicadores de desempenho e exploração de novos negócios para as autoridades portuárias.
Vários actores deste sector económico já apresentaram pontos de vista fundamentais para que a indústria marítima e portuária se antecipe relativamente aos factores de risco, a exemplo da crise epidemiológica actual, e às consequências dela resultantes.
A eclosão da Covid-19 provocou a retracção da actividade económica, com efeitos nefastos sobre todos os países, como se conhece. O ritmo de crescimento das mais importantes economias mundiais arrefeceu no terceiro trimestre deste ano, pese embora ter retornado aos indicadores anteriores à pandemia.
O transporte marítimo em quase todas as rotas está a enfrentar uma situação inusitada, com a oferta e a procura totalmente desencontradas. A pandemia forçou a redução da produção industrial, e os portos não tiveram como evitar as consequências danosas dessa forte e inesperada contracção. Sem sombra para dúvidas, os portos, de um modo geral, ainda não atingiram o nível adequado para garantir a tão necessária produtividade.
O mercado chinês, conhecido como a fábrica do mundo, na precisa definição de Marc Levinson, ainda se encontra a recuperar da crise, razão pela qual a procura de bens e serviços ainda é tímida, e as encomendas continuam à espera.
Para exemplificar esta situação, basta dizer que o preço do transporte de um contentor da China para os Estados Unidos da América, as duas mais poderosas economias globais, aumentou de 2,5 mil para 25 mil dólares, numa variação de preço que se multiplica por 10. Não se deve esquecer de que ambos os países partilham uma robusta cadeia global de valor na produção industrial, como electrónicos, têxteis e calçados.
A elevação vertiginosa das tarifas de frete marítimo constitui por si só um sério entrave para a recuperação económica mundial. A Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (UNCTAD) lançou o alerta de que, caso mantido, o aumento do custo do frete provocará uma subida de 11% nos preços de importação, já que 80% das trocas comerciais mundiais são feitas por via marítima.
Já as entregas internacionais, por seu turno, registam atrasos, ou seja, o waiting time (tempo de espera) encontra-se dilatado. Essas demoras estão a provocar congestionamentos nos maiores portos do mundo, problema que tende a agravar-se. Com certeza que os portos do nosso continente, infelizmente, não passarão ao largo desses constrangimentos, que têm como causa justamente a pandemia da Covid-19.
Os problemas de congestionamento portuário não são de fácil e rápida resolução. A superação dessas dificuldades exige, muitas vezes, investimentos vultosos na melhoria das infra-estruturas existentes, o que nem sempre é possível no prazo e ritmo desejados.
Assim, a gestão e a governação dos portos a nível nacional e global devem ser revistas face ao actual quadro epidemiológico, que se agrava pelo surgimento de novas variantes da Covid-19. O resultado é a criação de novas rupturas no sistema de gestão e governação e exploração dos portos.
Não por acaso, a elevação do frete marítimo e o congestionamento portuário foram algumas das abordagens discutidas no XII Congresso dos Portos de Língua Portuguesa, encerrado no passado dia 16, em Luanda. Outros temas que estiveram em destaque durante o evento dizem respeito à digitalização ao serviço da competitividade portuária, à resiliência e à descarbonização da economia, assim como à internacionalização dos portos da lusofonia.

PCA do Porto de Luanda*