No caso da França, trata-se de um país de inegável peso na União Europeia, membro do Conselho de Segurança das Nações Unidas, e quanto ao Reino Unido, a decisão da saída da União Europeia, em resultado do voto favorável dos eleitores depois do referendo realizado, suscitava especial curiosidade.
No que se refere à França, após as eleições para o Parlamento Europeu, que colocaram o partido de extrema-direita, a União Nacional, como o mais votado, com 34%, e suscitaram dúvidas sobre se este partido alcançaria o mesmo resultado à segunda volta e, eventualmente, maioria absoluta.
Quanto ao Reino Unido, a questão que se colocava era a de saber qual a dimensão do crescimento do Partido Trabalhista, na oposição, e qual a decréscimo do Partido Conservador, então no poder.
Os resultados tranquilizaram a admissibilidade, tida como possível, da manutenção na segunda volta da União Nacional, em França, como primeiro partido, ao situar-se na terceira força mais votada, sendo a primeira a Frente Popular, de esquerda, uma coligação de várias organizações partidárias.
Ainda assim, não será fácil para o Presidente da República Macron salvaguardar no novo Governo, seguramente situado ao centro, a necessária estabilidade.
No Reino Unido, o Governo trabalhista alcançou uma maioria absoluta, como as sondagens anunciavam, com um resultado marginal dos partidos extremistas.
Independentemente dos resultados, em França e no Reino Unido, evidenciam um quadro novo no que se refere ao comportamento dos eleitores, reflexo de um outro, mais geral, decorrente da própria incerteza da marcha do mundo.
Esta evidência é tanto mais gritante, face à observação do que se está a passar nos E.U.A., a maior potência mundial, com o eleitorado completamente dividido e com o Supremo Tribunal de Justiça a sentenciar que, na prática, os Presidentes da República não são passíveis de incriminação pelos actos que possam praticar no exercício do cargo.
As transformações, que à escala planetária se vão operando, com uma nova reconfiguração geopolítica, suscitando incertezas no futuro, cavando mais desigualdades dentro dos países, com os cidadãos a distanciarem-se dos partidos políticos, vão-no agravando e os próprios E.U.A. são disso exemplo.
A recente tentativa de assassínio do candidato à Presidente da República, Donald Trump, a todos os títulos condenável, veio acrescentar ainda mais incertezas às já existentes.
Isto porque, desde logo, a reacção emotiva junto dos eleitores que este acto inaceitável revelou na tentativa de homicídio, ao desencadear mecanismos psicológicos de vitimização, colocou o sufrágio eleitoral num plano em que os projectos dos candidatos são totalmente secundarizados em função da competitividade entre ambos.
Tudo parece confinar-se a um confronto de pessoas e não de projectos.
Os exemplos descritos, particularmente, em França e nos E.U.A., evidenciam a necessidade dos partidos políticos deverem repor a defesa dos ideários que é a razão da sua existência, marginalizando a luta fulanizada, para que se aproximem dos cidadãos, entendendo os seus comportamentos e respondendo a uma estratégia de futuro.
A luta do poder pelo poder, para o alcançar ou para o defender e que é descortinável à vista desarmada, só reforça posições extremistas à esquerda e à direita.
Há que retornar à ideologia dos partidos e ao sentido estratégico da política, antes que seja tarde. +Secretário-geral da UCCLA