O apertar dos cintos até que pode ser uma coisa agradável, quando simboliza, por exemplo, uma medida de segurança para passageiros que vão aterrar num voo da nossa companhia de bandeira, mas num avião que não é nem nosso nem está pintado com as nossas cores, e que vai continuar a aterrar no aeroporto velhinho a rebentar pelas costuras quando o novo, por inaugurar, ainda não serve. É tudo nosso no mundo globalizado.
Estão também a apertar os cintos os motoqueiros ao serviço do cidadão que tentam fornecer os seus serviços por uns trocados diários que acumulados, ao final do mês, sustentam as suas famílias e as famílias daqueles que teimam em subtrair uma "gasosa" por conta de mil e um motivos, uns reais e outros camuflados na ausência de um documento, de uma licença, de um capacete de hipismo, e quiçá no futuro será a ausência de cintos de segurança nos motociclos motivo de transgressão administrativa e aplicação de respectiva sanção.
Com os preços a subir e os salários a minguar, enquanto ainda caem nas datas habituais do final do mês, o apertar dos cintos não será resolvido com um simples equilíbrio remuneratório e uniformização dos salários. Tem de haver geração de emprego, oportunidades de negócio e circulação de dinheiro. O cinto invisível que bate o cidadão que na informalidade tenta sobreviver tem de dar lugar à simplificação da burocracia e remoção dos entraves administrativos, das exigências estapafúrdias que só alimentam o tal fenómeno da corrupção e de uma onda solidária.
O aligeirar do cinto permitindo saltar uns buracos é cada vez mais o sonho de muitos pobres e também da classe média que já está tão endividada por conta de empréstimos dolarizados, de ausência de literacia financeira e da dificuldade em satisfazer as suas mais básicas necessidades. Os cintos e as vendas são as amarras que algemam o nosso futuro.