Na ADRA, aprendi os efeitos nefastos na vida de milhares de pessoas quando quem tem o poder de tomada de decisão ao nível nacional, provincial ou municipal negligencia detalhes cruciais acerca de comunidades efectadas pelas suas decisões, como as condições topográficas. As relações dos cidadãos com as autoridades locais e tradicionais, os níveis de coesão existente na comunidade, as disputas internas e partidárias, a qualidade dos solos, a proximidade ou a distância dos mercados.


Por exemplo, o Executivo, ao nível Central, pode até lutar para que os municípios façam uma gestão criteriosa do orçamento alocado para o combate à pobreza, mas este é um processo complexo. Assegurar uma boa aplicação dos recursos públicos pode aparentemente ser um passo fácil, mas eliminar os vícios e interesses gerados e que concorrem para que tal não aconteça é um processo longo e difícil, sobretudo num país como o nosso.


Muitas coisas teriam de mudar em Angola para consolidarmos a ideia de que os recursos públicos devem estar ao serviço dos cidadãos no seu todo, e não de uma pequena elite próxima de quem detém ou controla o poder político. Desde o péssimo hábito da subfacturação, a indicação de pessoas incompetentes para cargos, utilizando apenas o critério de militância partidária até à ineficácia de muitas das decisões e orientações superiormente baixadas, são enormes as dificuldades para lidar com tais desafios.


Outro exemplo, quando se enunciam, ao nível nacional, a adopção de importantes medidas macroeconómicas para sairmos da crise e celebra-se o sucesso das medidas de estabilização macroeconómicas, quem vive sumido na fome, pobreza e miséria nas zonas rurais, sabe que vai continuar a passar por dificuldades devido a problemas intrínsecos, tais como a localização geográfica da zona, os níveis de assimetrias regionais e desigualdades sociais que nos dividem entre angolanos e angolanas que têm, e angolanos e angolanas que não têm nada.


Não é difícil prever o impacto de uma decisão política sobre a vida das pessoas, quando quem as toma não demonstra sensibilidade em relação aos meios de vida e de sustento das pessoas sobre as quais incide tal política.


Quem decide, por exemplo, pode optar por não reconhecer a venda ambulante ou outras actividades das quais as pessoas mais vulneráveis dependem.


Quem de direito, que esteja disposto a contribuir para uma mudança eficaz deve estar ciente que a mudança requer uma combinação de uma melhoria no conhecimento das realidades de todas e cada uma das áreas rurais onde se pretende intervir o mínimo de capacidade tecnocrática, liderança e compromisso político de quem detém o poder e sem dúvida, níveis mais elevados de participação dos cidadãos.


Politicas exitosas de desenvolvimento rural e ambiental requerem reformas das instituições e políticas que lidam com estas situações e também financiamentos públicos compatíveis com os resultados e desejos que se quer alcançar. Caso queira obter níveis maiores de progresso em termos de desenvolvimento rural e ambiente, Angola precisa de reformas institucionais e políticas que sejam coerentes com os pronunciamentos políticos até aqui feitos.


Embora já não sejam a maior parte dos cidadãos deste País, quisera eu que os nossos compatriotas que vivem nas zonas rurais exigissem de forma mais acutilante tudo aquilo a que têm direito, afinal de conta somos todos e todas angolanas e angolanos, iguais perante a lei.