A pergunta - bastante pertinente, diga-se - que se coloca é: Porquê esta campanha de vacinação, se Angola foi declarada livre da pólio desde Julho de 2011, tendo recebido a certificação da eliminação da doença pelo Comité Africano de Erradicação da Pólio em Novembro de 2015?
Aproveitando o espaço gentilmente concedido pelo Novo Jornal, iremos, então, elencar as razões epidemiológicas e outras que estão na base da realização desta campanha de vacinação. Desta forma, queremos também encorajar os pais e tutores das crianças a esperar os vacinadores em casa nos dias 8, 9 e 10 de Setembro (sexta, sábado e domingo). Caso na segunda-feira, 11, esses não tenham passado, dirigir-se à unidade sanitária mais próxima da sua residência, onde estarão estacionadas equipas para o devido atendimento.
A primeira razão pela qual se decidiu a realizar a campanha de vacinação é que a República Democrática do Congo, país vizinho, apresenta um surto activo de Poliomielite. Para além disso, Moçambique, país com que temos uma interacção muito intensa, e Malawi, vizinho de Moçambique, sofreram importação do Poliovírus selvagem do Paquistão, entre 2021 e 2022. Esses factores combinados colocam Angola numa situação de País em risco de importação da Poliomielite, segundo os critérios da Organização Mundial da Saúde. A resposta recomendada nestes casos é uma campanha de vacinação de bloqueio que será sincronizada com a RDC, buscando maximizar a eficácia dos nossos esforços de prevenção.
A segunda razão prende-se com as nossas coberturas vacinais que são ainda muito baixas. A pandemia da Covid-19 teve efeito negativo nas coberturas da vacinação de rotina contra a Poliomielite em todo o mundo, e Angola não foi excepção. Nos últimos três anos, as coberturas de vacinação de rotina para todos os antígenos sofreram um declínio, devido, principalmente, à realocação de recursos humanos para lidar com a pandemia. Apesar de, desde Julho de 2022, termos feito esforços significativos para recuperar rapidamente as coberturas de vacinação por meio da vacinação ampliada em postos fixos, complementada mediante equipas avançadas e móveis de vacinação num esforço de reduzir rapidamente as crianças Zero-Dose, os níveis de cobertura ainda constituem motivo de preocupação. Dali a necessidade do seu reforço com uma campanha de vacinação.
A campanha de vacinação constitui, assim, uma estratégia preventiva para se evitar a importação da doença no nosso País e consolidar os ganhos alcançados na eliminação do vírus da pólio. Lembro que esse esforço foi de todos, não apenas do Ministério da Saúde. Desde 1999 que, em Angola, se registou o maior surto de Poliomielite em África, com 1.181 casos e 113 óbitos até à certificação em 2015. Departamentos Ministeriais do Executivo, embaixadas de Governos amigos, organismos de cooperação bilateral e multilateral, órgãos de comunicação social, organizações não-governamentais, igrejas, organizações comunitárias de base, pais, tutores e as próprias crianças engajaram-se num esforço sem precedentes para que, através de campanhas de vacinação, vacinação de rotina, vigilância epidemiológica e comunicação/mobilização social sobre a doença, fosse efectivamente eliminada do nosso País. É esse esforço que se deseja honrar e preservar. Estão mobilizadas para a campanha de vacinação 8.492 equipas de vacinação (compostas por vacinadores, administradores de Vitamina A e Albendazol, mobilizadores e registadores), 2. 250 supervisores de equipas, 167 assessores provinciais, 61 assessores nacionais num total de participantes directamente envolvidos por ronda de pelo menos 38.050 pessoas.
Apelo, mais uma vez, aos pais e tutores das crianças que permitam que as suas crianças sejam vacinadas. Os vacinadores irão passar de casa em casa nos dias 8, 9 e 10 de Setembro (sexta, sábado e domingo). Repetimos, caso na segunda-feira, 11, esses não tenham passado, dirigir-se à unidade sanitária mais próxima da sua residência, onde estarão estacionadas equipas para o devido atendimento. No mesmo diapasão, pedimos aos pais e tutores que tenham as suas crianças nas creches que se articulem com as direcções da instituição dos vossos filhos, pois serão destacadas equipas para atender-lhes lá. Aqui também fica um apelo às administrações dos condomínios, no sentido de permitirem o livre acesso dos vacinadores para a requerida vacinação das crianças no seu interior.
Aproveitamos o ensejo para agradecer, desde já, a estes milhares de profissionais que emprestam, mais uma vez, a sua competência e bem-fazer para salvar as vidas das crianças, o nosso futuro. Agradecemos, também, a várias instituições que, sem o seu apoio, essa campanha seria menos desafiadora, para não dizer impossível. E aqui destacamos, sem desprimor dos outros, os Ministério da Administração do Território e das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social. O primeiro por facilitar o engajamento dos inestimáveis governadores provinciais e administradores municipais, e o segundo por, através da divulgação noticiosa e veiculação publicitária das nossas mensagens, assegurar o conhecimento e adesão dos pais e tutores das crianças à campanha. Um agradecimento sempre especial vai também para os Ministérios da Defesa e Veteranos da Pátria e Interior, pelo sempre presente apoio no transporte da logística para as áreas de difícil acesso.
Gostaria de expressar a nossa profunda gratidão à OMS, GAVI, UNICEF, ao Banco Mundial, Fundação Bill e Melinda Gates, USAID e a todos os outros parceiros nacionais e internacionais que nos têm acompanhado de maneira abnegada ao longo desta jornada longa e desafiadora.
E finalmente... agradeço às nossas crianças! Razão dos nossos trabalhos e esperança, pela sua confiança e alegria na forma como também contribuem na sensibilização para uma Angola sem Pólio: Sim, a vacina cuia, como sambapito... e salva vidas!
Ministra da Saúde*