Em Angola, no período pré-colonial, o fenómeno de exploração endógena era estranho. A sua apropriação fazia-se pelos extractos dirigentes pela extracção de outras linhagens, pelo comércio à longa distância, bem como de guerras predatórias. Na fase seguinte, o regime colonial negou a opção capitalista e as alternativas de integração no comércio mundial, ao impor numa lógica sistémica "um tipo de especialização económica" (café e sisal). Na fase pós-colonial, optou-se pela continuidade, ou seja, a manutenção da base produtiva herdada (com a diferença do petróleo no topo da pirâmide). Entendeu-se que a conjuntura da crise pós-independência justificou a lógica da continuidade, uma vez que havia pouca margem de manobras para se integrar no comércio mundial.

Hoje, em Angola, eliminar os constrangimentos enfrentados pelo sector agro-industrial no âmbito do aumento do valor agregado na origem é desafiador, sobretudo pelo nosso passado e herança histórica, de mentalidade tendencialmente extractiva, e por algumas "ideias fora do lugar" que se quer perpetuar. Como suportar o processo de transição industrial no âmbito do aumento do valor agregado à origem? Qual o papel/modelo da agricultura? Que políticas de Estado podem favorecer a mudança?

Dados indicam que, no período colonial, a agricultura tropical angolana suportou o processo de "industrialização" de Angola, induzido pela monocultura do café (Cf. Faria, 2015). Permitiu, de igual modo, a transformação da Angola rural com a criação de infra-estrutura de suporte às actividades agrícola e industrial a título precário.

Há o Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações - PRODESI, apresenta-se de modo voluntarista e ambicioso. No entanto, precisamos de fazer certos avanços para a "retaguarda". Ou seja, se quisermos dar um "salto pragmático" que nos permita vencer o atraso industrial e o subdesenvolvimento, devemos considerar a universidade como o elemento mais importante na cadeia de valores da agro-indústria, igualmente implementar uma reforma educativa, enfatizando o ensino, nas universidades, das ciências agrárias (agricultura e veterinária), estudar os biomas tropicais. Segundo a Associação, a agro-pecuária de Angola - AAPA, passo a citar: "Hoje não existem no País faculdades de agricultura com fazendas experimentais". Porque não criar ou potenciar um mecanismo independente, encarregado na pesquisa aplicada sobre agro-pecuária?

A tecnologia faz-se por conhecimento, por inovação sucessiva e planeada. O que se pretende, com as universidades e centros de pesquisa, é criar tecnologia e não simplesmente transferência de tecnologia. A consciencialização do sector sobre a necessidade de investir na agregação de valor. Enfim, acumulação de capacidades produtivas, por via da ciência e inovação, permitirá aos angolanos produzirem produtos cada vez mais complexos. É preciso tentar outras experiências para a evolução da agricultura tropical em Angola e agro-indústria. O nosso drama é fruto da nossa história de especialização económica. Portanto, o desenvolvimento esperado, induzido pelo desempenho industrial, passa pela transformação estrutural liderada pela industrialização e induzida pelo crescimento. Naturalmente, o custo de oportunidade de invertermos, o curso da história rendeira é alto e exigirá conhecimento, planeamento coordenado e estudo para alcançarmos a esperada vantagem comparativa.

Diallo (1996) apresenta, entretanto, "uma alternativa: a transformação do espírito e do funcionamento do Estado e das instituições". Se assim não for, é caso para dizer: a mentalidade extractiva continuará...