Qual é o papel do SENRA? Como é que Eduarda Rodrigues criou e alimentou esta imagem de poder, bem como alimentou uma narrativa de que era intocável ou de que estava bem encostada? Como é que entra em rota de colisão com o homem que a acolheu e a projectou? Eduarda tinha mãos de tesoura e a todos queria cortar ou fatigar. Ela criou um poder paralelo ao procurador-geral da República, e esse levou algum tempo a perceber o que se estava a passar. Criou um poder paralelo ao processo penal, chegando mesmo a ter interferências nos processos de colegas. É acusada de dar ordens a colegas da mesma categoria.

A investigação feita pelo NJ e que será apresentada nas próximas edições atesta que Eduarda Rodrigues criou uma figura de "investigação patrimonial", em que tudo quanto era património ela resgatava para a sua esfera e negociava directamente. Actuava numa posição de força, usava o poder que tinha e explorava a situação de fragilidade de muitos dos arguidos ou cidadãos sob investigação. Muitos deles aceitavam negociar directamente, para evitar um processo ou até tinham medo de ir parar na cadeia. Ela é que decidia quem ficava com o quê e como ficava. Foram forçadas e apressadas vendas de património com preços combinados e comprados por pessoas bem seleccionadas.

Soube criar uma ideia de poder e alimentar uma narrativa de que não faltava muito para ser procuradora-geral da República. As nossas fontes atestam que Eduarda Rodrigues criou expectativas e induziu o Estado em erro em muitos processos de recuperação de activos. Não se sabe, realmente, o que foi negociado; quanto património foi realmente recuperado e quando foi entregue. Em nome de um combate à corrupção e de recuperação de activos, cometeram-se excessos e abusos. Cidadãos como Amadeu Maurício, Hélder Vieira Dias "Kopelipa", Leopoldino Fragoso do Nascimento "Dino", Manuel Rabelais, Carlos Panzo, Joaquim Sebastião, Carlos São Vicente, Augusto Tomás, José Pedro de Morais e outros sentiram bem os efeitos de um SENRA que actuava, muitas vezes, sem obedecer a regras e princípios do Direito e com métodos de intimidação muito parecidos até aos das extintas, tenebrosas e nada saudosas PIDE e DISA. Tudo muito mau para a transparência, lisura e objectividade de todo o processo.

Certo é que Eduarda Rodrigues foi exonerada no início da semana. O NJ sabe que ela lutou até ao fim para permanecer no cargo. No último fim-de-semana, houve uma intensa maratona de contactos, com várias figuras a intercederem em seu nome em corredores palacianos e também no nosso "Kremlin". Já era tarde e má hora. Não podem existir poderes paralelos na PGR. Muitas revelações começam a vir ao de cima. Eduarda Rodrigues perdeu dois activos muito importantes e vai levar tempo para os recuperar: a confiança e a credibilidade. Eduarda teve muito poder e mãos de tesoura. Eduarda Rodrigues deixou de ser um activo e vai para o arquivo. Foi "desactivada" e dificilmente será recuperada. Há dias assim...