"Tenho presente as propostas de vossa excelência: desejo de mudança, renovação geracional, revisão de métodos, equilíbrio financeiro, diversificação e crescimento económico, afirmação do Estado de Direito, combate à corrupção, projecção de futuro como potência regional no mundo. Tudo assinalado por uma personalidade sensível ao que mudou e muda em torno de todos nós e que conhece bem Portugal e os portugueses. Que sabe onde, quando e como pode fazer pontes de mútuo benefício", concluía o estadista português.

João Lourenço está na recta final do seu mandato. Este é o primeiro dos seus últimos 100 dias de mandato. Entretanto, o Comité Central do MPLA formalizou, na passada terça-feira, 03, João Lourenço como cabeça-de-lista do círculo nacional e candidato do MPLA ao cargo de Presidente da República, tendo em vista as eleições gerais previstas para Agosto. As propostas de governação de João Lourenço, citadas por Marcelo Rebelo de Sousa, criaram, entre os cidadãos angolanos (e não só), grandes expectativas em termos de mudanças políticas, económicas e sociais e também de uma nova cultura e atitude governativa. Também é preciso dizer-se que, em política,"a capacidade de concretizar as promessas não depende, em exclusivo, de quem as profere".

João Lourenço criou grandes expectativas com as promessas lançadas, em algumas delas falhou na realização e noutras ficou aquém dos resultados esperados. Onde, muitas vezes, em teoria se notou iniciativa política, na prática faltou coordenação política. Quando, muitas vezes, em teoria se sentiu ambição política, na prática faltou decisão política. A inspiração em Deng Xiaoping pode lá estar, mas o instinto reformador ainda entranhou totalmente no seu Executivo. Aqui também reside uma das fragilidades do poder unipessoal e onde o PR é o Alfa e o Ómega da governação - há uma excessiva dependência do líder para se decidir e se tomar iniciativas. Se João Lourenço age bem, o Executivo funciona bem. Se João Lourenço age mal, o Executivo funciona mal.

Louvo-lhe a coragem de fazer do combate à corrupção uma das bandeiras da sua governação, mesmo sabendo que os corruptos e a grande corrupção estão instalados num chamado sistema que afecta o seu próprio partido, o MPLA. A forma como lidou e liderou o processo das vítimas dos conflitos armados e como quebrou um tabu em torno da abordagem a nível presidencial da questão do 27 de Maio de 1977 e o consequente pedido de desculpas às vítimas e familiares. O seu empenho na questão do funeral de Jonas Savimbi e de outros altos dirigentes da UNITA são importantes para o processo de Reconciliação Nacional.

A cultura de responsabilização e de combate à impunidade também marca esta sua governação. É importante destacar a forma como o seu Executivo preparou a estratégia de combate à pandemia da Covid-19, como foi organizado o trabalho de prevenção, a actuação, a preparação dos profissionais, a criação de infra-estruturas e a coordenação entre as diferentes forças envolvidas no combate à pandemia. A nova abordagem na relação com os angolanos na diáspora, que começou já na mensagem a eles dirigida durante o discurso de tomada de posse em Setembro de 2017, nos encontros que com eles manteve durante as visitas de Estado e oficiais que realizou a Portugal, Bélgica, França, Alemanha e África do Sul, culminando este capítulo com o registo eleitoral dos angolanos no exterior e o inédito exercício do voto na diáspora que vai acontecer em Agosto próximo. O novo PR, João Lourenço, soube também manter a estabilidade política e a paz social no País.

É imperioso que João Lourenço tenha uma nova abordagem na relação com os seus adversários políticos; que se apresente como o estadista que consegue estabelecer diálogos com todos, o estadista que a todos consegue ouvir e que por todos é ouvido. Um estadista que promova um debate político mobilizador e envolvente. O estadista que envolva e comprometa as lideranças políticas e os cidadãos para os grandes desígnios da Pátria, que os faça perceber que os interesses da Nação estão acima de toda e qualquer disputa partidária.

Nesta edição, o NJ, faltando 100 dias para o final do mandato de João Lourenço, traz-lhe a avaliação de 15 personalidades de diferentes ramos da vida pública, académica e social, numa zelosa coordenação do jornalista Nelson Sul. É uma avaliação dos cinco anos de governação de João Lourenço, num exímio exercício de escrutínio público, rigoroso e objectivo. Começa agora a contagem regressiva. Há mais vida depois de Agosto.