O BCA entrou no mercado , em 1957, com um objectivo: ser mais moderno, ágil e competitivo do que o Banco Nacional de Angola (BNA). Em apenas doze meses, a primeira instituição bancária privada da Província , ligada ao Banco Português do Atlântico , captou depósitos no valor de mais de um milhão de contos (cerca de 5 milhões de euros hoje), uma vitória que muito se deveu à acção de um grupo de sete funcionários metropolitanos, destacados para ajudar a implementar o novo negócio em Angola.

O Banco Comercial quebrou a hegemonia do Banco de Angola, que passou a ter concorrência e foi forçado a partilhar o mercado das trocas comerciais (de divisas provenientes do café, sisal, etc.) com o estrangeiro . Os serviços do BCA eram muito mais rápidos: em vez de demorarem um mês a analisar garantias bancárias para a concessão de créditos, tratavam de tudo numa semana. O risco era diminuído por «uma boa rede de informadores que forneciam dados fiáveis sobre a saúde financeira dos clientes «Na assessoria jurídica, o BCA contava com gente de peso: Diógenes Boavida e Maria do Carmo Medina, dois dos mais prestigiados advogados da Luanda de então. A revolução no mercado bancário começou aí (em 1957) e materializou-se, dez anos depois, com a construção de uma sede que ensombrou o edifício cor-de-rosa, baixo e tradicional do Banco de Angola .

Ao descerrar a placa inaugural, o governador-geral, Rebocho Vaz, abriu definitivamente ao público uma torre que mudou a face da Marginal ainda antes de estar terminada. Rebocho Vaz disse na inauguração : «Este edifício ficará a perpetuar e a invocar às gerações futuras o simbolismo da heróica fixação portuguesa em terras de África».

O arcebispo de Luanda, D. Manuel Nunes Gabriel, abençoou as instalações e assinou o livro de honra. Artur Cupertino de Miranda, presidente do Conselho de Administração, destacou a grandeza do novo símbolo e monumento da cidade: «Não é só um marco gritante de fé no futuro. Não é só um alto expoente da força de uma economia e da determinação de uma fé. Por todas as circunstâncias de que a sua inauguração se rodeou, pelo que representa de estímulo e de entusiamo para todos, o arranha-céus do Banco Comercial de Angola fica, neste princípio de 1967, como uma pedra branca na economia de Angola. Branca e azul, a simbolizar a esperança e a certeza de que vamos em frente».

Cupertino de Miranda salientou ainda que o BCA passava a ser um dos dez bancos mais modernos do mundo e o mais arrojado de Portugal inteiro. Cupertino de Miranda estava ladeado de dois outros administradores presentes, Braz Cabrita de Almeida e Manoel Vinhas (o da CUCA).

Outro dado curioso é de que a maior parte do dinheiro que o BCA tinha em caixa, na data da inauguração da nova sede, foi transferida para os cofres do Banco Nacional de Angola, por motivos de segurança. No entanto, sobraram 23 mil contos (cerca de 115 mil euros hoje) das operações realizadas nesse dia, e que teriam de ser transportados para as novas caixas-fortes. Várias empresas participaram da construção do então edifício mais alto do Império: A Construções Especiais, Lda. foi a responsável pela concretização da obra, a Empresa Comercial do Ultramar foi a fornecedora dos vidros e portas Covina, do mosaico bizantino Vidrul para revestimento das fachadas, loiças sanitárias Valadares, ladrilho das Cerâmicas São Paulo e as tintas Robbialac. A Lusolanda, representante em Angola de produtos tão variados como electrodomésticos Philips e motos Suzuki, assumiu os créditos de uma autêntica lança em África: a instalação de um sistema centralizado de ar condicionado que produzia 24 milhões de BTU"s por hora, uma capacidade excepcional em todo o continente nesta época.

Depois da independência nacional, em 11 de Novembro de 1975, o Banco Comercial Angolano (BCA) passou para Banco Popular de Angola (BPA) e nos anos 90 do século XX passou a ser o Banco de Poupança e Crédito (BPC) ou como diz o povo na sua fértil e bem humorada imaginação : BPC - Banco da Paciência e Coragem. Curioso será também dizer que hoje existem, em Angola, instituições bancárias privadas com iniciais que o actual BPC já usou. Há o BCA - Banco Comercial de Angola e o BPA - Banco Privado Atlântico .

No dia 28 de Janeiro deste ano, assinalaram-se 57 anos da inauguração daquele que já foi o edifício mais alto do império. O BCA -Banco Comercial de Angola ou Bai Continuar Ainda.

Esta semana foi reinaugurada após anos de obras de restauração e este é sempre um bom momento para se falar da história e estória deste edifício emblemático de Luanda e de Angola. Um edifício que já foi o mais alto do império português.

Fontes: "Luanda como ela era", de Rita Garcia e antigos moradores de Luanda