"Diálogo abrangente" para identificar os principais problemas da juventude foi o que Crispiniano dos Santos prometeu após ter sido declarado vencedor do VIII Congresso Ordinário da JMPLA. Os 295 delegados ao congresso deram-lhe uma vitória histórica, num congresso também histórico, porque apresentava dois candidatos ao cargo máximo da estrutura juvenil do MPLA. Crispiniano era o candidato dos militantes e o seu adversário, Domingos Betico, era o escolhido das lideranças do Partido. Venceu a força, a voz e a vontade dos militantes. O visível é que a montanha pariu um rato e a JMPLA perdeu força na todo-poderosa máquina política do MPLA.

A campanha eleitoral foi um exemplo disso, em que se viu o candidato João Lourenço como que a remar sozinho contra a maré e não se sentiu nem se viu a tal "força motriz" da juventude partidária a dar-lhe suporte. Facilmente deu-se conta de que existe falta de estratégia, planificação e cálculo político e há esgotamento em termos de ideias e, também, falta de apoio, cooperação e solidariedade de certas lideranças. Os resultados eleitorais reflectem muito desta fragilidade de uma JMPLA que internamente tem dificuldades de mobilizar os seus militantes e mais dificuldades ainda de captar votos ou simpatias das diferentes franjas da juventude. É importante perceber que o próprio Presidente João Lourenço, no discurso de vitória que fez na sede do MPLA, destaca a necessidade de se aproximar e dialogar mais com a juventude.


É preciso perceber a força e a importância da JMPLA nesta equação e o papel do seu primeiro secretário nacional. Basta olhar e ver que o anterior (Boavida Neto) e o actual secretário-geral do MPLA (Paulo Pombolo) foram antecessores de Crispiniano na organização e que os três últimos líderes da JMPLA (Boavida Neto, Paulo Pombolo e Luther Rescova) foram governadores provinciais. Se recuarmos um pouco mais, vamos chegar aos tempos de Bornito de Sousa e Ângela Bragança. Na organização, Crispiniano tem mandato até 2024 e é importante mexer-se e pressionar as lideranças para que tenha mais espaço e influência, pois o peso e a comparação aos seus antecessores não lhe deixam muito confortável. Certamente mais desconforto deve causar-lhe a ideia de que existem correntes no MPLA que entendem que ele não está "política e ideologicamente" preparado para o combate com Nelito Ekuikui e que nomes como o de Domingos Betico voltem a ser sondados e a entrar nas contas.


Do lado da UNITA, as coisas não estão tão pacíficas quanto aparentam. ACJ, Lukamba Gato e Numa perceberam que é ao nível da juventude que se decidem eleições e que o resultado de Nelito Ekuikui em Luanda foi por causa da sua penetração no seio dos jovens, do discurso mobilizador e apelativo que permitiu captar votos até mesmo de jovens fora da sua esfera partidária. Depois de vencer Luanda, era preciso dar-lhe um novo desafio, uma nova motivação em termos políticos. Os problemas da JURA não são muito diferentes dos da JMPLA e resumem-se mesmo em termos de lideranças fortes e dinâmicas, com visão e estratégia, com discursos apelativos capazes de captar votos muito mais além da esfera dos seus partidos. Aquilo que se viveu na JMPLA em 2019 pode ocorrer agora em Março de 2023 com a JURA no seu congresso: ter uma candidatura imposta pela liderança do partido e outra que resulte da vontade dos militantes da organização. Mas aqui com a diferença de que, se Nelito Ekuikui vencer, terá total apoio da direcção da UNITA, com o objectivo de unir a estrutura em torno das estratégias do partido e acima de tudo atrair votos de fora do partido, pegar nos jovens indecisos e sem ligação às máquinas partidárias. Existe alguma contestação interna à indicação de Nelito Ekuikui e parte dela vem do "clã Savimbi" e é lógico que os adversários estão atentos para aproveitar estas discordâncias e fragilizar a sua candidatura. Nelito Ekuikui para a liderança da JURA é tudo que o MPLA não deseja nesta fase e que lhe vai obrigar a sacrifícios, até de algumas pessoas, para estar à altura da jogada feita pela UNITA. Realmente, há uma juventude muito inquieta e a tirar o sono aos kotas. A próxima cartada da UNITA será na sua estrutura feminina e aí poderá obrigar o MPLA a acelerar a pedalada.