O ministro do Interior, Manuel Homem, salientou, após deslocação à Ilha de Luanda, que actividades desta natureza devem ser realizadas em coordenação com os órgãos que compõem o sistema de segurança nacional. Já o Presidente da República, João Lourenço, lamentou o sucedido, através da página da Presidência no Facebook, e sublinhou que as autoridades "estão e continuarão envolvidas, com o máximo empenho, nos trabalhos de resgate e alívio dos danos resultantes deste incidente no mar". João Lourenço ordenou os serviços competentes a encarregar-se de determinar as causas do naufrágio, para evitar tragédias similares. Segundo uma comunicação do Serviço Nacional de Protecção Civil e Bombeiros, a embarcação que naufragou na zona do Ponto Final não fazia parte das que foram seleccionadas para a actividade religiosa e transportava passageiros em excesso.
O naufrágio resultou de um processo muito mal executado, que começa logo com o tal mestre da embarcação, o jovem que aparece nos vídeos que circulam pelas redes sociais em tronco nu e a beber uma cerveja. A segurança marítima começa na pessoa do comandante, mestre ou contramestre, porque é ele que leva a embarcação para o mar; é ele que, do ponto de vista legal e operacional, é responsável por tudo quanto acontece na embarcação. O armador (dono da embarcação), sabendo que era uma embarcação de pesca, não devia autorizar o mestre que se fizesse ao mar sem os devidos equipamentos de protecção e segurança. Nós temos de começar a fazer este trabalho de consciência junto das pessoas. Temos de começar a ter capacidade de adoptar comportamentos éticos, cívicos e morais, comportamentos que não coloquem em risco as nossas vidas e as dos outros. Está errado e não podemos achar normal que um jovem vá pegar numa embarcação de pesca, uma embarcação que não estava credenciada para o transporte de passageiros e embarca pessoas sem colectes salva-vidas. Faz da embarcação de pesca uma embarcação de passeio e vai colocando várias pessoas até atingir a superlotação.
O NJ soube que, durante o passeio, o jovem mestre foi fazendo algumas paragens ao longo do percurso e pegando algumas pessoas, sendo que algumas eram da sua família e que, depois, viriam a perder a vida no naufrágio. Dentre as seis vítimas mortais, estavam a mãe, a filha e uma prima do mestre da embarcação. É que, a todos, faltou a noção do perigo e a consciência da importância do cumprimento das normas de segurança. É que, para além de estar embriagado, com excesso de passageiros, o tripulante ainda foi visto fazer manobras perigosas, manobras essas que terão contribuído para que a tragédia ocorresse. É que, sendo uma embarcação de pesca, ela tinha lá os seus artefactos, como redes. Algumas das vítimas, mesmo sabendo nadar, acabaram ficando presas na rede e afogaram-se.
Nós, enquanto cidadãos, temos de começar a ter consciência das coisas, temos de começar a ter noção do risco. Não podemos estar a levar a vida numa brincadeira e perder a vida numa brincadeira também. Não podemos ser imprudentes e inconsequentes.
O naufrágio do " Kianda do Mar" desvenda muitas fragilidades dos nossos sistemas de fiscalização e de segurança marítima. Navegam por aí um sem número de embarcações nas mesmas condições, sem qualquer habilitação. Foi preciso que acontecesse este tipo de tragédia para que se tomem medidas. Mas o País real não discute isso, prefere ficar entretido nas discussões que o mundo virtual apresenta sobre "infidelidades baltazarianas" ou de discussões públicas de figuras, também elas públicas, sobre prestação de alimentos. Hoje há famílias destroçadas, pessoas desoladas, tudo porque achamos que tudo é permitido, que é proibido proibir.
As pessoas não têm noção da responsabilidade, acham que tudo podem, que vivem na impunidade e que não há autoridade. Mas, muitas vezes, a tal autoridade, quando há, não se faz sentir. Agora estamos todos assim, a perceber as nossas fragilidades e que todos os dias vivemos no risco. Um jovem tripulante que já está detido, que vai carregar a cruz pela morte da própria mãe, da filha e de uma prima.
O dono da embarcação também entra no prejuízo e vai ter de ver a sua "Kianda do Mar", e aqui utilizo uma expressão da gíria naval, o armador vai ver a sua embarcação "fazer da quilha portaló". É como tudo isto anda e parece que o País, cidadãos e instituições andam ao contrário, andam a fazer da "quilha portaló".