Segundo a Sara Caetano, uma jovem mulher de apenas 19 anos, que agora chega à selecção nacional, depois de toda a pressão de jogos em dias seguidos, no final do dia, a super-mãe-atleta Nadir Manuel ainda tinha tempo e disposição para cozinhar para o seu filhote no pequeno fogão eléctrico que levou daqui.
É animador ver a sociedade mobilizar-se à volta de gestos como este da Nadir Manuel, que não só representam o inquestionável amor de mãe, mas que também nos devem conduzir a uma reflexão particular sobre a condição da mulher desportista e os seus desafios num universo tipicamente masculino, sobretudo quanto aos privilégios, como é o desportivo.
Estamos nós a viver a jornada do Março Mulher, que, mais do que de celebração e festejos efusivos, é sim um marco de reflexão de reconhecimento da longa e dolorosa luta da mulher pela sua emancipação social, no sentido mais genérico da palavra.
Constantemente, são revelados exemplos de desigualdade de género, mas estes não são recentes, até porque têm raízes culturais e históricas, e o meio desportivo, lamentavelmente, não está imune a este tipo de constatações, havendo mesmo quem diga que as diferenças são ainda bem mais acirradas do que em muitos outros sectores da vida social.
Não restam dúvidas de que o desporto é, ainda, diria, um terreno escorregadio para a igualdade de género, ainda dominado pela discriminação e pelos estereótipos. A questão que se coloca hoje é se as mulheres em algum momento irão vencer a corrida pela igualdade no desporto.
Por cá, como é habitual, faltam-nos os dados estatísticos, mas podemos constatar a olho nu que a presença feminina no desporto é significativamente inferior à masculina, quer como praticantes, dirigentes, árbitras, etc.; e, por outro lado, em termos de exposição e divulgação na comunicação social, a actividade desportiva exercida por mulheres tem muito menos espaços.
Segundo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, as mulheres e os homens são "livres e iguais em dignidade e direitos", sendo assim, é urgente eliminar o preconceito e a desigualdade de oportunidades entre mulheres e homens e o desporto pode e deve ser um exemplo de integração e afirmação da mulher na sociedade. Com os valores do desporto, todos nós podemos fazer a diferença pela positiva, promovendo a valorização da mulher na sociedade.