O Professor Victorino estava tão convicto do seu desejo de ir aos Estados Unidos que conseguiu convencer o Vice-Primeiro Ministro do Governo angolano, na altura José Eduardo dos Santos, a conceder-lhe uma autorização especial para a viagem, pois só assim seria possível a mesma realizar-se no contexto daqueles anos. "Tens a certeza que queres ir para os Estados Unidos e que não haverá qualquer tipo de problemas?" "Tenho, sim, Camarada Vice-Primeiro Ministro". Foi este o breve diálogo entre os dois, segundo nos conta, com uma memória de elefante, o Professor Victorino.
A desejada e superiormente viagem veio a acontecer três anos depois de autorizada, em 1980, tendo Victorino Cunha sido inscrito por um período de três meses como membro da equipa técnica da Universidade de St. John`s liderada pelo icónico treinador Luigi Carnesseca, mais conhecido por Coach Lou Carnesseca, hoje com 95 anos de idade.
Estamos a falar do início da década de 80 do século passado, altura em que o basquetebol angolano atravessava um momento dificílimo com debandada generalizada dos técnicos e atletas que movimentavam a modalidade durante o período colonial. Um punhado de verdadeiros amantes e entusiastas da bola-ao-cesto tiveram que se desdobrar num esforço titânico para manter a modalidade viva no nosso País e, dentre eles, naturalmente que Victorino Cunha tinha um particular destaque.
A relação com a Universidade de St. John`s tornou especialmente tão intensa que em 1982 foi a vez do Professor Lou Carnessa vir a Angola, liderando uma equipa de All Star`s, portanto, atletas de várias universidades norte-americanas, não se ficando apenas por Luanda e indo, inclusive a províncias como Huíla e Namibe por estrada, atravessando o serpentear da Serra da Leba, apesar de todos os riscos num país em guerra naquela altura.
Esta histórica expedição da equipa dos " All Star" americanos foi impulsionada pelo Dr. Richard Lapchidc, na altura director do Fundo Phelps Stokes, um acérrimo defensor da luta anti apartheid, defendendo uma " Dunk Diplomacy" como chamou, ou seja, uma "diplomacia através do Smash", afirmando que aquela acção ajudaria a eliminar alguns equívocos que alguns jovens norte-americanos tinham sobre o continente africano.
E tempo foi passando e esta relação foi-se consolidando, deixando bem vincadas as marcas influenciadoras da escola do basquetebol universitário norte-americano na nova filosofia do basquetebol angolano que se ia forjando com muito suor e labor e os resultados absolutamente extraordinários não tardaram a chegar.
Nesta caminhada basquetebolística entre os dois países, não podemos deixar de referir ao célebre jogo entre a nossa gloriosa Selecção Nacional e o "Dream Team" nos jogos olímpicos de Barcelona em 1992. Foi naquela ocasião em que oficialmente, pela primeira vez, uma equipa constituída por atletas profissionais representou os Estados Unidos da América. Nomes sonantes como os de Michael Jordan, Patrick Ewing, Magic Johnson, Larry Bird e outros defrontam os nossos valorosos Jean Jaques, José Carlos Guimarães, Herlander Coimbra, Aníbal Moreira e outros craques do nosso "association". O Resultado final foi de 116 - 48 para os norte-americanos, mas apesar disto fez-se história e o gigante Patrick Ewing foi claro na conferência de impressa, deixando um aviso à navegação, dizendo "eles são bem melhores do que aquilo que nos disseram".
O jogo seguinte diante da anfitriã Espanha provou que ele estava certo, pois a nossa aguerrida equipa foi implacável e triunfou por expressivos 20 pontos de diferença, passando a nossa selecção a ser tratada pela imprensa internacional por "miracle team".
*Jurista e Presidente do Clube Escola Desportiva Formigas do Cazenga