É um conceito semelhante ao de greenwashing (passar uma imagem falsa de sustentabilidade). No caso do desporto, acontece quando um país recebe grandes eventos para desviar a atenção da comunidade internacional do seu historial de violações dos direitos humanos.

Um dos exemplos mais antigos remonta aos Jogos Olímpicos de Berlim, em 1936, em que a Alemanha nazi, já com Adolf Hitler no poder, procurava melhorar a sua reputação aos olhos da comunidade internacional.
No entanto, foi em Junho de 2015 que a expressão foi usada pela primeira vez, quando Baku, capital do Azerbaijão, recebeu os primeiros Jogos Europeus da história. Na altura, o governo local procurava convencer o mundo de que o Azerbaijão era um país moderno e democrático, apostando em iniciativas que envolveram um contrato de patrocínio com o Atlético Madrid ou a organização de eventos como o Grande Prémio de Fórmula 1 e a final da Liga Europa. Enquanto isso, organizações de protecção dos direitos humanos acusavam o governo azeri de práticas repressivas.

Hoje em dia, proliferam os casos envoltos em polémica, sobretudo no futebol. A atribuição do Mundial ao Qatar foi, certamente, uma das mais controversas: um dos mais pequenos estados do mundo, sem tradição futebolística, com um clima desértico adverso à realização da prova em pleno Verão, mas também um dos mais prósperos, graças ao petróleo. Na altura, foi usado como argumento público de candidatura os benefícios do alargamento do Mundial ao mundo árabe, com a promessa de construção de estádios super modernos.

Em 2011, um ano após a inédita atribuição do Mundial a um país árabe, o fundo de investimentos Qatar Sports Investments (subsidiário do Qatar Investment Authority, detido pelo Emir Tamim bin Hamad Al Thani), cujo objectivo passa por investir milhões na produção de gás e petróleo no Qatar, comprou 70% das acções do Paris Saint-Germain.

A aquisição do PSG por parte do Qatar Sports Investments fez ainda de Nasser Al-Khelaifi, presidente do fundo e do clube parisiense, uma figura relevante nos bastidores do futebol internacional, assumindo cargos de liderança na UEFA e na Associação de Clubes Europeus.

Ainda antes do Qatar, a Rússia organizou o Mundial de 2018 numa altura em que enfrentava sanções internacionais e uma grande hostilidade por parte do Ocidente: a anexação da Crimeia; a acusação de interferência nas eleições presidenciais norte-americanas para apoiar Donald Trump e noutros processos eleitorais europeus; o apoio ao regime de Bashar al-Assad e a intervenção na guerra da Síria; as suspeitas de envenenamento do antigo espião russo Serguei Skripal e da filha, Iulia, no Reino Unido; e o escândalo de doping que levou o Comité Olímpico a expulsar a Rússia dos Jogos Olímpicos de 2020.
Quando questionado sobre quem seria o vencedor do Mundial na Rússia, Vladimir Putin não teve dúvidas: "os organizadores".

Tal como são vários os exemplos de clubes de futebol que passaram a estar dependentes do dinheiro das petromonarquias do Golfo Pérsico - além do PSG, outro caso gritante é o do Manchester City, que desde 2008 tem como proprietário o Abu Dhabi United Group, do xeque Mansour Bin Zayed Al Nahyan, da família real dos Emirados Árabes Unidos.

Mais recentemente, em Outubro de 2021, a Premier League confirmou a aquisição por mais de 300 milhões de libras do clube Newscastle por parte de um consórcio (designado por PCP Capital Partners) formado em parte por investimentos da família real da Arábia Saudita, nomeadamente do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman.

Após a aprovação do negócio, a Amnistia Internacional acusou a Premier League de permitir que pessoas "implicadas na violação dos direitos humanos entrem no futebol inglês só porque têm dinheiro". Isto quando o herdeiro da Arábia Saudita fora acusado em Março desse mesmo ano de crimes contra a humanidade por um tribunal alemão.

De acordo com um relatório de uma ONG denominada GrandLiberty, o montante gasto pelos sauditas no que toca a patrocínios a eventos desportivos já ultrapassou os 1,5 mil milhões de dólares (quase 1,4 mil milhões de euros): incluem 650 milhões de dólares para a Fórmula 1, durante 10 anos, um contrato de 145 milhões de dólares com a Federação espanhola de futebol (para receber a Supertaça), entre outros contratos para acolher o Rali Dakar, torneios de golfe, snooker e boxe. Uma lista já longa que tem sido financiada pelo Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita.