Conheci a Konda há uns anos, quando com uns kambas decidimos dar uma volta para explorar mais uma banda do nosso País. Dessa vez, escolhemos o Kwanza-Sul e um sitio que vimos na internet, que ficava alguns quilómetros depois da cachoeira do Binga, mas que infelizmente postos no tal local não era nem 10% do que havia na dita página, as obras nos quartos nem estavam terminadas. Granda mambo! Nessa embrulhada para encontrar um sítio para encostarmos os nguimbos pesados pelo frio e pelo nevoeiro da madrugada, descobrimos a fazenda rio Uiri, que ficava a poucos quilómetros do tal sítio do jajão.

Maravilha, um lugar de cortar a respiração, pela localização, beleza e, acima de tudo, pelo acolhimento fora de série, sensacional dos kotas. Chegamos por volta da 1h da manhã, mas a dona de casa levantou-se e preparou algo para comermos e bebermos, tudo natural que a fazenda podia oferecer, estava naquela mesa gigante no centenário galpão transformado em cozinha, espaço de lazer e conversa. Fomos descansar numa banda que, frente aos quartos, havia uma enorme fogueira, cujas chamas bailavam e se davam kwatas enquanto nos davam as boas vindas.

De manhã tivemos noção da beleza do local, situado entre as montanhas da terra dos encantos, de pessoas humildes, simpáticas, acolhedoras e conhecedoras das linguagens históricas da natureza e que não têm makas em partilhá-las connosco, meros curiosos deslumbrados, inebriados pela água do Uiri que cruza a fazenda de montanha a montanha, desvendando segredos, levando sorrisos que baptizam o maruvo, de quem não fimbou na piscina de água natural que nos abraçou.

Apesar de haver dificuldades de rede nos telemóveis, por estarmos entre montanhas, procurávamos sítios mais altos, o que só nos deixava mais antenados com tamanha beleza, o que nos fez não querer perder nenhum momento, nenhum sussurro, tom, cor ou brisa que nos quisesse acompanhar nessa apaixonante jornada. Levamos uma eternidade a sair do espaço onde estavam os quartos para irmos matabichar. Deliciávamo-nos com tudo, tudo mesmo, e só aumentou quando demos conta que o espaço para comer estava por cima de uma enorme rocha, que nos punha literalmente na copa das árvores, deixando a estrada, as motas e os carros que passavam muito mais a baixo. Sentimo-nos nas nuvens. Ainda não tínhamos acabado de nos apaixonar pela arquitectura e natureza, na casa da Andua de crista vermelha, que já havia novos amores, os pitéus e bebidas feitas na hora e que nos brindavam. Maracujás grandes e cheias de polpa, ananases, papaias, café fresco, foram apenas alguns dos deliciosos mambos que a simpática família que bem nos acolheu nos ofereceu.

O dia estava a começar da melhor forma possível. Em cada passo que dávamos havia uma surpresa fixe. Aproveitámos para saudar e agradecer a quem nos proporcionava tais sensações, tal honraria. Como se não bastasse, o mais velho do sítio convidou-nos para irmos conhecer à Tokota, um local com piscinas de águas termais. A serio!? Ficámos de boca, antes mesmo de para lá irmos. Aproveitámos o dia para dar um giro pelas localidades próximas e conhecer mais a região, que tem paisagens muito lindas, muito mesmo. Vale a pena visitá-las e conhecer também com a rica biodiversidade.

Uauuu! Assim foi a nossa entrada para a Tokota naquela fria madrugada, em que as águas termais fizeram questão de nos aconchegar e tundar o frio por. Que coisa tão boa era aquela? Sentir aquela sensação tão boa que vinha do meio das rochas da Konda e que deixava no ar uma fina neblina que tornava o momento mais mágico, mais fantástico e muito fixe. Kuyou bué, tanto que algum tempo depois regressámos à Konda, com mais pessoas, para novamente sentirmos aquela coisa que até hoje não conseguimos explicar.

Queremos voltar, para irmos ver os hipopótamos que o mais velho nos prometeu, quando nos despedíamos com aquela lágrima atrevida que não se conteve e decidiu ficar, mostrando ter mais coragem do que todos nós. Com a mistura das flores da natureza e do aroma do café a ser torrado, sentimos a nostálgica despedida, havemos de voltar.