Lá se foi mais um sol, mais um dia, mais uma semana e mais um mês e, como se soubesse, com ele foi também mais um ciclo que poderá dar azo a algo mais fixe.

Por muito que tenha custado, o sol pôs-se sem pressa e sem atrasos, levou exactamente o mesmo tempo a esconder-se noutra margem que já não é Cambambe, iluminando com aquelas cores quentes o Kwanza que gingava com águas turbinadas em direcção ao Dondo e de lá para a nguimbi, Luanda, levando luz às vidas de muito boa gente.

O olhar do sol no sábado foi diferente dos outros, era a despedida de quem sorria com lágrimas teimosas que tentavam fimbar que nem kamikazes para fora das órbitas oculares e abandonarem as íris, abraçando aquele solo sagrado onde os umbigos fertilizaram a tal banda e fizeram gerar vida, alegria e boa energia.

Sem querer, despedimo-nos também. Katé quando? Não sabemos responder, mas vamos com o sentimento de termos feito o que nos cabia e, se calhar, melhor do que se esperava, mesmo com os obstáculos naturais e artificiais criados por cazumbis com nome e rosto conhecido, mas que se escondem por trás de um sorriso kinganji de tutatuz.

O que aprendemos? Quando é chegada a hora, há que saber reconhecer, tirar voado, agradecer a bênção e dar lugar a quem se sinta mais bem preparado para continuar a caminhada e tenha a falida de quem oriente.

Hora di bai, como dizem também os que ajudaram a construir esse mambo, assim como outros tantos contratados, que viveram nos icónicos bairros Vaz Guedes, Acta, Cambutas, Sambila e Casernas, que, mesmo sem precisarem do histórico Forte que virou ruínas, se tornaram heroínas e heróis anónimos para muitos e famosos para as suas famílias e kambas, por darem o litro para garantir que a geração que passou pelo Dondo continuasse a iluminar a banda.

E de noite quando ainda ceávamos sob o sorriso tímido da lua que nos acompanhava na última noite em que nos deliciávamos a ver o rio bué achado a brilhar com a luz da outra que, embora tristonha, fora abraçada pelas nuvens que tentavam conter-se para não chorarem por tudo quanto aconteceu e pela despedida repentina que deixou muitos sem pão, nem sal, cujas lamentações e pregações abafaram silenciosamente o som turbinado das águas. Mas aí lembramo-nos de que o fim de um ciclo não significa o fim de tudo, mas, sim, o princípio de um novo ciclo que pode ser bem melhor que o anterior, porque a experiência colhida é bué fixe e poderá ajudar a sabermos o que semear, onde, quando e com quem, para que os mambos brotem fixe e que os frutos sejam fabulásticos e sirvam para adoçar o paladar de muita boa gente.

Na despedida houve jinjinje, mussolo, cacusso, robalo, mufete, calulu, boa companhia, pôr-do-sol e, como é sabido, muhalahala para degustar e animar sempre com a energia que nos é característica e nos faz continuar a fazer o bem numa linda calma. Será que haverá chá de caxinde, de folhas de laranjeira com bombó assado e frito a acompanhar a ginguba torrada para o matabicho? De uma coisa temos a certeza, o sorriso firme e aconchegante da recepção da Zé e do Zé continuarão a brindar a todos como se fossem da família, porque a maior riqueza de Cambambe não é prata mitológica, nem a electricidade que turbina as águas, é, sim, a energia que vem das pessoas cheias de boa luz. Katé