João Lourenço, enquanto homem do leme, começou a perceber os avisos à navegação que lhe chegam da sua " tripulação", percebeu que era muito arriscado ir ignorando os sinais e deixar tudo para o congresso de 2026, criou um facto político e mediático e agora começa a perceber os sons, os alertas e os "barulhos" dos mares em que navega.
A navegação do homem do leme será muitas vezes solitária, feita no escuro e parecendo, muitas vezes, sem direcção. Ao entrar por mares nunca dantes navegados, o nosso homem do leme começa a perceber que há mais mundos para além do seu mundo. Que há muito começam a existir opiniões, visões e tendências diferentes das suas. É o homem do leme que define a rota e a velocidade da navegação. Que tem de ter a capacidade de decifrar os silêncios e interpretar os barulhos.
O nosso homem do leme sabe que navega com uma tripulação dividida entre aqueles que desconfiam da rota seguida e que têm medo de naufragar e aqueles que confiam na rota traçada e seguem tranquilamente a viagem. Num mar onde ainda lhe incomodam alguns "barulhos", o nosso homem do leme sabe que já não se pode navegar em silêncio nem ignorar os alertar para os perigos e mistérios dos mares por onde navegam.
" O mundo não está interessado nos temporais que você encontrou. Ele quer saber se você trouxe o navio", escreveu alguém um dia. João Lourenço sabe que existem várias correntes e tendências no seio do partido. Este congresso extraordinário vai servir para analisar, estudar e alterar estatutos, ganhar tempo e preparar terreno para 2026.
O anúncio servirá para retirar sobre si alguma pressão e forçar algumas movimentações. Será um congresso difícil, mas necessário. Difícil, sobretudo, no momento em que se vai realizar e necessário para ter tempo, espaço, liberdade para gerir o congresso ordinário em 2026. Há, no País, um sentimento generalizado de declínio da economia, de deriva, de descrença e indignação, de governação no abstracto e de improviso.
Tem-se generalizado a noção de mediocridade, de incapacidade, de falta de coesão, comunicação e coordenação, de falta de horizonte na política. Temos um Executivo desgastado, a revelar cansaço, com falta de criatividade e a perder credibilidade a cada dia. João Lourenço tem a necessidade de fazer a remodelação que há muito vem adiando. O MPLA da era João Lourenço vive aquilo a que tenho chamado de medos contraditórios. Por um lado, tem medo de uma possível alternância política, por outro, tem medo que o seu líder decida avançar na estratégia de um terceiro mandato. O MPLA tem medo de que, com o poder absoluto, João Lourenço caia na tentação de se tornar num absolutista, preferiram a abstenção e não lhe deram a maioria absoluta nas eleições de 2022. Tudo feito com o objectivo de o condicionar, de o limitar ao cumprimento escrupuloso da Constituição.
São estas correntes e tendências no seio do MPLA que acusam o Executivo de João Lourenço de não cumprir muitos dos programas do partido que foram sufragados pelos eleitores, eles não querem partilhar com o líder e o seu Executivo o ónus da impopularidade. A actual liderança do MPLA tem o ónus da queda de Luanda nas últimas eleições, bem como a tarefa hercúlea de garantir Luanda como bónus para 2027.
O ónus e o bónus da situação. Mas o MPLA tem uma grande capacidade de regeneração, tem uma grande capacidade de se unir quando percebe que está perante perigos iminentes. Faz parte da sua força e mística. Capacidade de se unir em torno do líder para garantir a estabilidade, união e coesão. Ser líder do MPLA tem esta inusitada particularidade de ser visto ao mesmo tempo como parte do problema e parte da solução.
O nosso homem do leme vai andar em modo de "navegação de cabotagem", navegando entre "portos do mesmo território" sem perder a costa de vista, ou seja, sem perder o leme. É isso que João Lourenço vai passar aos militantes em Dezembro: Que o MPLA está preparado para enfrentar ventos e tempestades não é uma nau à deriva, segue uma rota, tem um líder no leme e que está nesta altura em navegação de cabotagem até Dezembro de 2026.