O livro aponta a direcção para duas frentes. De um lado, mostra o quanto a corrupção deve ser combatida, pois é imoral e gera ineficiência e pobreza, ainda que não impeça o crescimento económico. O modo como o Brasil escolheu para combatê-la arrasou sectores inteiros da economia, sem, no entanto, acabar com o problema. Dizem extractos da sua sinopse.
Este livro foi-me recomendado por um amigo e colega jornalista quando avaliávamos o combate à corrupção em Angola, manifestando alguma preocupação na forma como ele estava a ser mediatizado e a relação com os efeitos na prática. O caso "Major Milionário", que teve como epicentro a Casa de Segurança do PR, mostra que se, por um lado, há discursos, certa vontade e algumas acções para combater a corrupção, acaba este combate por esbarrar num sistema e esquemas montados para encher bolsos e criar benesses. Por outro lado, os efeitos colaterais desse combate começam a ser bem visíveis com o encerramento de empresas, hostilização de empresários e políticos, desemprego, aumento da violência e contestação social.
O Estado sabe e percebe a influência da imprensa na vida das pessoas e precisa de mostrar resultados, de mostrar trabalho. Tudo isso faz com que use o espaço público de comunicação para mostrar os efeitos desse seu combate à corrupção. Os "banquetes televisivos" são uma das estratégias que o Estado usa para mediatizar esse seu programa. É que na vã tentativa de controlo da informação e de influenciar a opinião dos cidadãos, o Estado acaba por utilizar o serviço público de comunicação para manipular e promover desinformação.
Promovem-se conteúdos, entrevistas, debates, reportagens, com o objectivo de manipular os cidadãos e de criar uma narrativa baseada em agendas pré-definidas. Uma estratégia desenhada e desenvolvida em gabinetes palacianos em perfeito alinhamento com órgãos judiciais, serviços de informação e segurança, estruturas partidárias, tudo para "banquetear" o público com um espectáculo da corrupção cujas vítimas sem contraditório são já um alvo a abater. E no dia seguinte, os cidadãos já aguardam com expectativa qual será o próximo desfalque a ser descoberto.
O espaço mediático dá palco àquelas peças muito mal concebidas para o espectáculo da IGAE, que também quer mostrar serviço neste combate à corrupção. É deprimente ver em horário nobre o destaque dado quando a instituição "caça" um fiscal que extorquiu uns 15 mil kwanzas ou um polícia de trânsito que se deixa corromper por 20 mil Kz. O caso do polícia em fuga e a indignação causada junto da corporação revelaram como muitos destes enredos mediáticos de combate à corrupção são verdadeiros erros de casting.
O modo como a corrupção é debatida, entendida e aplicada acaba por ser fundamental. Muitos ruídos e espectáculos acabam, muitas vezes, por atrapalhar a sua estratégia e revelar fragilidades. A comunicação é ainda o elo mais fraco da actual governação agravada com as interferências de diferentes estruturas. Cada um, a seu nível, quer mostrar trabalho na estratégia de combate à corrupção e procura entrar em cena. Mais do que informação, surge a propaganda e também a manipulação. Mais do que adoptar estratégias, implementar programas, eliminar ciclos viciosos, ele fica muito centrado na perseguição de A ou de B, e quem depois chega acaba por ficar "engolido" pelo modus operandi que as estruturas têm montado.
O caso do "Major Milionário", da Casa de Segurança do PR, veio provar que, apesar da mudança ou rotação de chefias, a instituição estava fragilizada estruturalmente, como o sistema financeiro está vulnerável e até mesmo no Cerimonial do PR há quem não faça "cerimónias" para colocar mais algum dinheiro nos bolsos. Apesar dos "banquetes" que nos são servidos e a procurar mostrar-nos os novos "Culpados Disto Tudo", o certo é que o sistema depois de ter produzido "Marimbondos" acaba agora por produzir "Caranguejos", reflectindo sobre uma realidade de uma classe política que vive como caranguejos num balde. É espectacular o "espectáculo a que vamos assistindo em torno de um animado combate à corrupção muito próximo de se tornar naquilo que Walfrido Warde criticou no Brasil.