Importa referir que planos eleitorais não são ou substituem uma estratégia. Em gestão, um plano implementa uma estratégia. Existem vários planos para o País, alguns mais realistas e outros mais utópicos, mas o que faz falta é uma estratégia real de desenvolvimento para o País, com métricas que possam ser medidas e implementadas e não sejam meras declarações de intenções. Uma estratégia inclui uma visão para o País e essa visão é mais do que uma frase ou cliché, é a visão que anima e mobiliza a Nação para um propósito comum e para a finalidade, que é tornar Angola num País de desenvolvimento médio elevado até 2040.

O que Angola precisa é de uma visão realista e estratégica de longo-prazo nos próximos 20 anos e aqui deveria haver um consenso alargado da sociedade como um todo sobre essa visão estratégica para 2040.

Os vectores dessa estratégia devem incluir a mobilização do capital privado internacional, uma melhoria radical do ambiente de negócios, uma reforma do Estado que incluísse a administração pública, saúde e educação e uma aposta no sector do agro-negócio e o sector mineral.

Se olharmos para o primeiro vector, Angola atrai muito pouco investimento estrangeiro não-petrolífero (em 2021, de acordo com o BNA, atraímos apenas 248 milhões de USF), o que torna difícil atingir os planos preconizados, e isso só se resolve com uma melhora radical do ambiente de negócios, que é uma tarefa difícil de concretizar, mas não impossível. E isso é crucial porque apenas o investimento público vai ser incapaz de acelerar passo necessário da transformação de que necessitamos, e uma estratégia para 2040 deve ser ambiciosa o suficiente para colocar Angola entre as 10 economias africanas mais competitivas.

A reforma do Estado e da Administração é fulcral para isso. Todos conhecemos os problemas de nepotismo, corrupção e de uma burocracia excessiva e não são impossíveis de resolver. A tecnologia pode resolver parte desses problemas. O uso das novas tecnologias como o uso de dados biométricos por telemóveis pode acelerar a oferta de serviços públicos que ainda está pouco digitalizada, e isso pode contribuir para diminuir a corrupção, isso está a ocorrer na Índia em larga escala, desde a distribuição de subsídios públicos até à emissão de bilhetes de identidade.

A saúde deve ser uma prioridade absoluta. Todos conhecemos os problemas que o País tem nesse sector e, ao mesmo tempo que tens um défice, temos de utilizar em larga escala os provedores de saúde estrangeiros. Aqui, podemos e devemos ter um pacto alargado para a avisão que podemos e queremos ter em 2040 e deve incluir sistemas mistos com uma participação do sector privado e social, por exemplo a Igreja Católica como parceira do Estado.

Na educação, temos de preparar Angola para os desafios deste século. A educação não deve ser vista apenas como um local onde se despeja o conhecimento e este copia e absorve sem a criação de capacidades analíticas e um espírito crítico. Acima de tudo, devemos abandonar o modelo de educação muito latino e lusófono baseado no "credencialismo", isto é, quem tem mais diplomas é o mais qualificado, ao invés de um modelo mais germânico, baseado em competências e no ensino técnico-especializado.

No plano da economia produtiva, os dois sectores que vão servir de base para a economia Angolana nos próximos 20 anos devem ser o sector do agro-negócio e o sector mineral. A sustentabilidade e crescimento do sector agrícola é mais do que uma mera intenção, a nossa sobrevivência como Estado e Nação vai depender da nossa capacidade de resposta à segurança alimentar, principalmente num contexto em que temos um crescimento demográfico que se aproxima dos 3% ao ano.

O sector mineral é um sector com um potencial incalculável e tem um potencial de crescimento muito superior ao sector petrolífero nos próximos 20 anos. Angola 2040 deve, por isso, apostar no sector mineiro como alavanca da nossa economia, não desconsiderando os termos de troca que, no longo-prazo, desfavorecem os países que só especializam em matérias-primas, como bem apontou o economista argentino Raúl Prebisch, apesar de ter uma visão mais ligada à teoria da dependência, com as suas limitações.

O sector petrolífero vai ter papel fundamental na agenda Angola 2040, apesar dos desafios da transição energética. Angola tem uma janela de oportunidade gerada pela crise na Ucrânia e pela necessidade de uso do petróleo e gás natural na matriz energética global até 2050. Asas boas reformas dos últimos anos foram positivas e permitiram que esse sector, antes de ser visto como uma "maldição", deve ser visto como uma base para a diversificação.

Não podemos esquecer o sector dos serviços, considerando a escala o crescimento da urbanização. O uso acelerado e penetração da internet pode servir para um maior peso desse sector na economia angolana, sem esquecer o papel revolucionário de tecnologias como a introdução de pagamentos digitais e o grande objectivo de aumentar a inclusão financeira e um modelo que temos no continente é o Quénia que deve servir de benchmarking para Angola.

Angola 2040 deve ter uma agenda transformadora e, mais do que isso, deve ser a concretização do nosso potencial. Uma Angola que seja uma referência em África e não seja apenas conhecida pelas razões erradas de nepotismo e a excessiva dependência do petróleo e o extrativismo.

E as eleições de 24 de Agosto? A nosso ver, devem ser o começo da agenda 2040. Pensar em Angola para 2040 é "thinking ahead", ter uma visão não só futurista, mas concretizar o futuro, porém isso requer uma melhor gestão dos quadros nacionais, aproveitar a "prata" da casa, tanto no sector público como no sector privado. Infelizmente, Angola tem sido péssima a fazer essa gestão de talento e tipicamente quem é premiado são sicofantas e "Yes Men" e no final o maior recurso que temos são as pessoas.

Independentemente de quem seja o vencedor das eleições do dia 24, é a Angola de 2022 que deve preparar o caminho para a Angola de 2040, um País melhor do que o que temos para as gerações futuras e um País que esteja entre as 10 economias mais competitivas de África e de desenvolvimento médio elevado. E desta vez, não podemos falhar, e isso requer um alargado consenso social que parece elusivo, no meio de tanta retórica eleitoral. Mas não podemos esquecer que Angola está acima de todos e, por isso, devemos todos pensar Angola 2040 como imperativo estratégico.¦
*Docente universitário da Faculdade de Direito da Universidade Nova de Lisboa