Foi de todo infeliz, deixando transparecer que o PR é um paladino da "lei da rolha", de uma imprensa pública que não noticia certos acontecimentos politicamente incómodos para o poder ou, quando os divulga, oculta e deturpa deliberadamente a verdade.
Ao contrário do seu predecessor que, nos seus quase 40 anos no poder, revelou ser um hábil «gestor de silêncios», JLo tem sido incapaz de resistir aos impulsos mediáticos, expondo-se de forma excessiva e inoportuna à luz dos holofotes.
Rigorosamente, não se pode dizer que o PR não comunica, o que lhe falta é estratégia de comunicação ou, por outras palavras, comunica mal, para não dizer pessimamente.
Das duas, uma: ou o PR, do alto da sua sobranceria, já perdeu a noção do ridículo ou tem estado nas tintas pelas reacções negativas que os seus infelizes pronunciamentos provocam no espaço público, sobretudo nas redes sociais.
Pois, só assim se justifica a sucessão de erros e gafes que comete nas suas sucessivas intervenções no espaço público, sem que faça a " correcção do tiro" ou aprenda dos seus próprios erros.
Hoje, para o desagrado dos angolanos, quase ninguém acredita que o jornalismo angolano cresceu, pelo contrário, regrediu, e muito, ao ponto de o nosso País ter sido relegado para a cauda das estatísticas dos índices da liberdade imprensa no mundo, segundo as avaliações feitas periodicamente pelos organismos afins.
O que cresceu, isso, sim, foi o jornalismo de sarjeta, da subserviência política, o chamado "jornalismo bem comportado", a que o Presidente brasileiro Lula da Silva fez referência, em termos jocosos, aquando da sua visita oficial a Angola, em Agosto de 2023.
Após a chegada de João Lourenço ao poder, em Setembro de 2017, a comunicação social angolana, mais concretamente a pública, registou alguns avanços em matéria de liberdade de imprensa, mas, com o decorrer do tempo, foi perdendo o pouco que já tinha sido conquistado.
Houve, de facto, uma abertura na abordagem dos temas antes tidos como "proibidos" ou tabus pela censura ou autocensura. Notou-se algum esforço na busca do contraditório, assim como em escutar outras vozes e sensibilidades políticas diferentes dos habituais círculos do poder ou dos seus apêndices.
Os avanços, ainda que tímidos, fizeram que Angola subisse em 2018 12 lugares no ranking da liberdade de imprensa mundial, de acordo com uma avaliação da organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF).
Apesar da subida, Angola continuava, porém, a ser o pior país em matéria de Liberdade de Imprensa no seio dos PALOP"s.
De acordo com os RSF, Angola tinha ascendido, em 2019, três lugares no ranking da Liberdade de Imprensa no mundo, mas isso não evitou que o país continuasse a figurar na zona cinzenta.
Com a conquista dos 12 pontos durante o período que se convencionou chamar "primavera lourencista", supunha-se que a tendência seria "subir para cima", ou seja, Angola conquistar mais pontos acima desse valor, mas o que se assistiu foi uma descida vertiginosa. De censura em censura, o País foi recuando, tendo perdido, em 2023, 26 lugares, passando da 99.ª posição para 125.ª.
Ao comparar o desempenho da mídia pública durante o período monolítico, ou seja, de partido único com o actual momento político, JLo quis acintosamente "queimar etapas" ou, no pior dos cenários, "apagar" uma parte importante da nossa história, ofuscar um marco que assinalou o "antes e o depois de José Eduardo dos Santos"; do homem que praticamente entregou o poder de bandeja ao actual PR, colocou-lhes a máquina partidária a seus pés, escancarando-lhes os cofres do Estado para alcançar o poder.
Tirando esse curto e efémero período áureo do jornalismo angolano, o Titular do Poder Executivo (TPE) socorreu-se dos mesmos métodos do seu predecessor para manter a media pública sob seu controlo, ou seja, rendida aos seus pés e caprichos, por via das famosas "ordens superiores".
JLo, que chegou ao poder com o selo de reformador, em nenhum momento abdicou de um dos seus excessivos poderes, ou seja, o de nomear os Conselhos de Administração dos órgãos públicos de comunicação social, mantendo os seus membros numa relação de subserviência política e editorial.
Por via dos seus auxiliares, abocanhou e manteve sob controlo do Estado vários órgãos de comunicação social privados, a pretexto de que os mesmos tinham sido construídos com dinheiros públicos, com o objectivo escuso de subverter as suas linhas editorais.
Como se isso não bastasse, mandou encerrar órgãos privados de imprensa por razões aparentemente de natureza administrativa, atirando para as sarjetas do desemprego milhares de jovens, sem que isso lhe provocasse pruridos ou remorsos.
Durante o seu consulado, JLo não moveu uma palha para evitar o desaparecimento da imprensa escrita, fazendo com que o Estado se exonerasse da sua obrigação de conceder incentivos à imprensa privada, tal como está previsto na Lei de Imprensa.
Em Portugal, por exemplo, quando os jornais privados estavam à beira da sua extinção, o Estado gizou uma estratégia de publicidade institucional direccionada para que os mesmos não sucumbissem, o que seria a morte da democracia, como bem defendeu na altura o PR, Marcelo Rebelo de Sousa.
Aqui, fizeram exactamente o contrário, ajudaram a cavar a sepultura dos jornais, como se os Pilatos não tivessem a ver com a morte de um dos principais pilares que sustentam as democracias.
O «jornalismo que cresceu» não é seguramente o jornalismo que crítica as acções do Executivo ou que procura distanciar-se das propagandas governamentais, que não promove o bajulismo e o culto de personalidade.