Curiosamente, todos estes logros ainda que associados a outras medidas igualmente positivas, tais como o aumento salarial para as forças de defesa e segurança, a geração de 491 mil postos de emprego formal e o apoio, através de transferências monetárias, a 588.902 famílias, não foram suficientes para que víssemos melhorada a classificação de Angola ao nível do Índice de Desenvolvimento Humano.
Tratando-se de um índice compósito que mede as realizações médias em três dimensões básicas do desenvolvimento humano: uma vida longa e saudável, o conhecimento e um padrão de vida digno, é justo que se pergunte as razões pelas quais o País não tenha avançado tanto nestas dimensões, apesar dos notáveis esforços. Que terá faltado? Por que razão, apesar da disponibilidade de mais escolas, mais hospitais e centros de saúde, mais emprego, mais estudantes licenciados e maior oferta em termos de bolsas de estudos, a sensação que temos é de que a situação não melhorou tanto como gostaríamos?
A justificativa natural para a esperança que tal aconteça pode advir do facto de que se, por um lado, fizemos progressos em relação a uma maior disponibilidade de bens e serviços, se calhar os mesmos não são tão acessíveis a todas as pessoas que dele necessitam, ou não possuem as qualidades mínimas exigíveis para que funcionem como tal, acabando por influenciar as preferências dos seus potenciais utentes ao ponto de alguns destes optarem por não utilizar um serviço que até pode estar disponível.
Vejamos o caso da esperança de vida ao nascer, baseada em dados históricos, evidências indicam que o nosso País teve sempre uma esperança de vida à nascença inferior à da maior parte dos países do mundo. Longe de pensar que agora, com o fim da guerra, que terminou há mais de 20 anos, e fruto dos tão badalados investimentos no sector da saúde, a expectativa de vida ao nascer atingiria os 85 anos, uma meta realista para muitos países nos últimos, porém, seria expectável que nesta altura devido à melhoria constante das condições de vida e aos avanços médicos, a esperança de vida à nascença em Angola fosse bem melhor da actual em muitas localidades do País, sobretudo nas zonas rurais.
Outro exemplo pode advir do sector da Educação, sem dúvidas que já não é aceitável que ainda hoje existam em Angola comunidades cujos membros, crianças, adolescentes e jovens, subsistem sem acesso à educação formal, que pode justificar a existência de milhares de jovens, sobretudo nas áreas rurais, com um nível de escolaridade mínimo, quando frequentemente são anunciadas a construção de centenas de salas de aulas. Se de facto 18 anos é o máximo de escolaridade esperados para que um indivíduo possa obter um mestrado na maioria dos países, quantos angolanos e angolanas poderão permanecer estes anos todos na escola? Onde vivem maioritariamente estes nossos concidadãos? Que políticas públicas existem neste preciso momento para assegurar a sua permanência na escola?
Se no mínimo conseguíssemos garantir, em média, 15 anos de escolaridade para todos os jovens em idade escolar (independentemente do género ou local onde vivem), seguramente que as escolas construídas, os professores contratados e os esforços anunciados e feitos, conjugados com os esforços a serem feitos levar-nos-iam para outro Estado da Nação em 2030.
Finalmente, obcecados pela ideia do crescimento económico a qualquer custo, uma ideia que tende a confundir o crescimento do rendimento nacional bruto per capita com o bem-estar geral de todos e cada um de nós, num País altamente desigual, é importante relativizarmos o crescimento expresso apenas por este indicador, isto que digo é justificado pelo nível considerável de informalidade não mensurada e produção de bens e serviços não mercantis em economias como a nossa, onde todas estas informações não são capturadas pelos dados oficiais.
É preciso não esquecer que ritmos invejáveis de crescimento económico, num passado recente, mostraram que, praticamente não resultaram em ganhos duradouros no desenvolvimento humano e bem-estar pelo facto de termos tido uma renda anual acima de 2.000 USD per capita.