Na semana em que recebe o primeiro-ministro português, António Costa, e o Presidente egípcio, Abdul Fatah Al-Sissi, João Lourenço tem uma onda de manifestações pelo País, por causa da questão da retirada gradual das subvenções e do consequente aumento do preço da gasolina, também associado ao plano atabalhoado de distribuição de cartões de combustível.

Nesta semana, João Lourenço foi a espécie de pai que, enquanto recebe visitas em casa, os filhos andam à porrada. É algo que não é abonatório para a imagem do País. Grave também é terem morrido cinco cidadãos angolanos nestas manifestações e não ter havido até ao momento uma reacção do Executivo de João Lourenço. Aqui devo dizer que há ocasiões em que vale a pena revisitar a história política dos outros para repensar a nossa própria história. Não podemos cair na falácia de que somos imunes ao que vimos acontecer aos outros países, temos de ler sinais, ouvir as diferentes vozes e sensibilidades, bem como agir no interesse comum.

Não é normal que João Lourenço esteja no início do seu segundo e último mandato (de acordo com a Constituição) e existam inquietações sobre um eventual terceiro. Deveria ser ele o primeiro a clarificar isso e não alimentar mais suspeições ou replicar de forma muito enigmática. Foram os medos contraditórios no seio do próprio MPLA que fizeram escapar a maioria absoluta ao seu presidente.

O MPLA vivia estes medos contraditórios, por um lado o medo de uma alternância política, por outro, o medo de que, com o poder absoluto, João Lourenço se tornasse um absolutista. Preferiram a abstenção e não lhe deram o poder absoluto. Limitaram-no e condicionaram-no ao cumprimento no que está consagrado na Constituição. Mas os medos persistem, por isso é que se justifica que, estando o segundo mandato no início, se esteja a indagar a possibilidade de um terceiro. Ele percebeu o jogo e, apesar de saber que a pergunta é legítima, também sabe que não é inocente e joga com o momento, sem comprometimento, nem futurologia. É esse mesmo MPLA que não quer partilhar com João Lourenço o ónus da sua impopularidade e do seu Executivo. Correntes no MPLA acusam-no de não ouvir o partido e acusam o seu Executivo de não cumprir muitos dos programas do partido que foram sufragados pelos eleitores.

Outro dado importante, é necessário que o topo do partido faça um trabalho de maior aproximação e auscultação às bases. Dez meses após as eleições de Agosto de 2022, o presidente do MPLA ainda liderou amplos actos de massa junto dos seus militantes para lhes agradecer pelo voto solicitado, nem para justificar a perda de três praças eleitorais aos adversários, sendo uma delas a maior praça eleitoral do País, a cidade de Luanda. É que o MPLA de João Lourenço tem o ónus da queda de Luanda e tem de a recuperar e oferecer como bónus em 2027 para o seu sucessor.

Hoje, a crise no País não é apenas económica, é uma crise política e de legitimidade. Uma crise de identidade e de falta de ética de responsabilidade. Mas do que os cidadãos já não acreditarem é já não respeitarem os poderes. Não é realista que o Executivo cometa erros uns atrás de outros e não esperar que a oposição tire proveito da situação, que a opinião pública não escrutine ou que o Jornalismo não noticie. Não podemos ter políticos que, no dia-a-dia, demonstram não se importar com o povo, mas que querem ser populistas. É preciso reflectir, debater e incluir. É preciso pensar País e inverter o quadro.