Quatro nomes, quatro continentes, quatro pessoas que tinham família, ambições, sonhos, amigos, antes de se tornarem mais um título de notícia. Em comum, tinham também o facto de serem mulheres.

Cerca de seis mulheres são mortas por hora em todo o mundo. O sítio mais perigoso, dizem as estatísticas internacionais, é o próprio lar.

A violência sobre as mulheres revela que ainda há um longo caminho para trilhar, mesmo quando são cada vez menos as que sofrem em silêncio.

Em muitos países, nascer mulher significa ser condenada a um casamento de conveniência, por vezes ainda em criança, correr risco de vida por adultério, depender de um marido, irmão ou pai para os mais pequenos gestos, ter como ponto de partida o patamar mais baixo da escala do privilégio e ter de subir os degraus mais íngremes, saltar as maiores barreiras, derrubar os muros mais altos.

Um mundo mais igualitário exige o fim de tradições e práticas que não são mais do que um atentado contra os direitos humanos, exige o fim do silêncio contra as injustiças, exige que não mais se calem as denúncias contra os abusos sexuais, o assédio e a violência doméstica.

No entanto, os últimos dados mostram precisamente o contrário. Em época de pandemia, o fardo maior parece estar a recair sobre as mulheres, indiciando um recuo de conquistas recentes que urge não deixar para trás

O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres alertou para o problema no passado dia 08 de março, afirmando que a Covid-19 "apagou décadas de avanços para a igualdade de género" e apontando aspetos críticos como a perda de empregos, a interrupção da escolaridade e uma crise crescente de violência doméstica, exploração e cuidados não remunerados.

Assinalou ainda que as mulheres estão na linha da frente da luta contra a doença que domina o mundo desde o ano passado, já que mais de 70% dos trabalhadores do setor de saúde são do sexo feminino.

Em Angola, elas são também as principais vítimas da pandemia, que se refletiu num aumento de casos de violência doméstica e da pobreza, com destaque para as zungueiras, afetadas pelas limitações ao seu negócio e descida do poder de compra.

Por isso, não queremos apenas um dia simbólico, celebrado com flores, poemas ou postais. Deem-nos armas, deem-nos voz, deem-nos salários iguais, deem-nos as mesmas oportunidades, respeitem-nos e garantam os nossos direitos, não nos tratem com condescendência, não nos subalternizem, não nos agridam.

Não deixem que este dia seja apenas uma exaltação patética do feminino, mas que seja também uma reflexão - ou uma irritação - sobre tudo o que ainda falta mudar, a começar pela educação dos nossos filhos e filhas, que terão nas suas mãos o poder para fazer a diferença no futuro.

É por elas e por eles que este dia existe. É por nós.