O Anúncio da visita do Presidente Biden mereceu um upgrade na atenção do Estado e o esmero aconselhou planos para maquilhar todo o percurso por onde os estimados convidados iriam passar. Entre aqueles que já são recorrentes nas visitas do chefe, desta vez foram muito mais competentes. Os doentes mentais foram retirados de forma bárbara do centro da cidade e escondidos como se fossem indignos. A zunga deverá ser proibida. A sarna, tuberculose e a lepra trancadas. As escolas sem água, os esgotos ausentes, os bairros putrefactos onde moram dignos eleitores foram ignorados. A cara da cidade mostrada surge com um batom cheio de glamour, com brincos de ouro, vestido de festa. Uma beleza de cortar a respiração quando vista à distância. Olhos nos olhos com a realidade, a cidade nauseabunda aleija e deprime. A cidade dos ricos e a cidade dos pobres não se misturam.

No tempo do programa radiofónico "Elas e o Mundo", silenciado por perturbar a negacionista consciência militante, lembro-me de um governador de Luanda ter dito "que iria acabar com a Zunga, pois não era algo que os turistas devessem ver". Tem sido sempre assim. Governar com uma agenda pessoal, assente em estratégias de sobrevivência política, quando a imagem se desgasta por acúmulo de erros pessoais crassos. Governar para a Euronews. Governar em campanha eleitoral. Governar para agradar os doadores. Governar para manter o tacho. O povo não tem nenhum pódio nesta competição. Está proibido de se mostrar por ser indigno, maltrapilho, sem viabilidade económica, sem estudos que o projectem para um patamar de realização bem-sucedida por causa de ineficácia da governação. No dia seguinte, após o fim do show, o País volta a ser o mesmo sítio de dor, uma promessa falhada, um caminho sem futuro para todos.

A realização de um país apenas pode ser considerada efectiva quando ela se reflecte na felicidade do seu povo. Esta felicidade tem como pressupostos a segurança, o bem-estar, o emprego, a saúde, a educação, o acesso à água potável e a uma habitação condigna. De nada adianta maquiar a realidade quando os números falam por si e o povo é a principal vítima.

Infelizmente o MPLA e a sua liderança não aprendem com os seus erros. Não avaliam a precariedade das suas estratégias. Nem são capazes de perceber que a mentira é uma faca com dois gumes. Não percebem que governar para o povo é a única salvação partidária, gastando o mesmo tempo e os mesmos recursos, atendendo ao que é prioritário. O resto, o povo já não engole. Está farto e tem razão. A história recente provou que, não obstante os histéricos aplausos militantes, na hora de prestar contas, o líder fica sozinho, pronto para ser descartado. Nesta altura, é demasiado tarde para recuperar o poder. Demasiado tarde para pedir desculpa.