Em termos muito simples, a inflação é a variação de preços no consumidor. Por exemplo, quando o preço do pão de um dia, semana, mês, sobe, de modo que, um pão que custava no mês passado 10 Kwanzas, no mês seguinte já custa 12 Kwanzas, dissemos, o preço do pão subiu 20%, se comparado ao mês anterior. Se estabelecer um ano de partida, ou ano base, para as comparações, teremos o que se chama inflação acumulada. Se tomarmos como o ano base a data em que o salário foi ajustado, temos uma melhor perspectiva, de quanto foi a perda deste poder de compra.
Quando comparamos os níveis de preços em períodos idênticos do ano anterior ao corrente, por exemplo, o nível de preços do mês de Novembro de 2023, com o de Novembro de 2024, reportamo-nos a inflação homologa. O inverso de inflação é deflação, ou seja, os preços em vez de variar para cima, variam para baixo.
A pergunta que todos fazem, mas porque é que os preços variam? Os economistas monetaristas afirmam que a inflação é sempre um fenómeno monetário, é o volume de dinheiro em circulação que vai determinar o nível de preços numa economia. O volume de dinheiro tem de equivaler ao volume de mercadorias que este dinheiro vai comprar. Representado pela equação de equilíbrio monetário, que diz L=M, esse equilíbrio é fundamental para a estabilidade de preços na economia, onde, L representa a procura de moeda, M representa a oferta de moeda.
A prova mais contundente das consequências do desequilíbrio da equação monetário deu-se na pandemia da COVID-19, em que quase tudo parou, as pessoas ficaram paradas nas suas casas, mas consumiam. Poucas empresas de produção de bens e serviços trabalharam, alguns governos injectaram dinheiro na economia, concederam apoio aos cidadãos que perderam empregos, com subsídios. O equilíbrio entre os meios de pagamentos em circulação e as mercadorias não deve ser alterada, sem que uma das entidades sofra pressão. A consequência imediata do desequilíbrio é a alta de preços, até nas economias dos países desenvolvidos, que rondava, antes da pandemia, ao nível de 1,5 a 2,00%, explodiu para níveis de 7,00 a 10,00% no ano de 2022. Por quê? Porque enquanto a produção de bens estava em declínio absoluto, o meio de pagamentos para a compra desses bens aumentava. As pessoas estavam a ser pagas sem trabalharem.
Um aumento da inflação na economia implica um aumento do custo do dinheiro, o qual é a taxa de juros nominal. Foi necessariamente o que aconteceu, as taxas de juros directoras (LUIBOR) das principais economias, foram elevadas, a consequência foi a redução do investimento, que, como é óbvio, redundou na perda de milhares de empregos. Se os investidores deixam de ter capacidade de criar emprego, ou aumentar a produção com novos investimentos, o crescimento económico também é afectado. Foi necessariamente o que se passou com o fim da pandemia! As economias tiveram de enfrentar estes problemas (altas taxas de juros, alta inflação, reduzido crescimento económico). Entretanto, desde o fim da pandemia registam-se melhorias substanciais na estabilidade de preços, nas economias desenvolvidas. Porém, algumas ainda não recuperaram totalmente os níveis antes pandemia. Por exemplo, no mês de Outubro, a inflação na Zona Europeia situou-se em 2,00%, nos Estados Unidos a inflação foi de 2,60%, próximo do nível antes pandemia. Na China a inflação foi de 0,30%, o que represente uma melhoria significativa em relação o período da pandemia da COVID-19.
Olhando para os factores por de trás da persistente instabilidade de preços em Angola, facilmente se entende, que a sua razão de ser, é a reduzida oferta de produtos essenciais, porque dependem em grande medida da disponibilidade de cambiais, para a sua aquisição no estrangeiro. Se rondarmos os diversos estabelecimentos retalhistas de mercadorias das nossas urbes, verificamos que mais de 2/3 do que está exposto nas prateleiras desses estabelecimentos é produzido fora, ou seja, é importado.
Atendendo a indisponibilidade das cambiais, de que nos atemos no artigo passado, há uma reduzida oferta de produtos, a consequência é a subida de preços, com ele, reduz o poder de compra dos consumidores. Tal como um dia referi aqui neste espaço que a economia é uma engrenagem. Quando quem consome ou compra deixa de comprar, quem venda também é impactado, pois deixa de vender, a consequência imediata é a redução da produção, que, geralmente, é acompanhada com a redução do pessoal. Diz bem Ray Dalio, o bilionário americano e fundador da Bridgewater Associates, que a despesa de um agente económico, é receita de outro agente, seja empresa, famílias ou o Estado, no que resulta na multiplicidade de transacções entre esses agentes. A intensidade com que se realizam essas transacções entre os agentes económicos, determina o dinamismo da economia. Consequentemente, se as famílias perdem o poder de compra, em consequência da constante subida de preços, os que vendem, e os produtores de bens (agrícolas ou industriais), também são forçados a baixar a sua produção.
A receita para a luta contra o aumento de preços, não tem outra fórmula, se não o aumento da produção nacional. Isto de os estabelecimentos comerciais estarem abarrotados de produtos importados, como laranjas, limões, cebolas, arroz, fuba e muitos outros, contribui sobremaneira para o agravamento da subida de preços. Não estou a dizer que as lojas não devem ter variedade de produtos de outras origens, mas que não seja a base de bens comercializados. Se podermos equilibrar a equação de equilíbrio monetário com os bens produzidos no País, a variação de preços para cima, vai ser contida, vai estabilizar, nos níveis desejados pelas autoridades monetárias, de forma sustentável.
Os benefícios dos baixos níveis da variação de preços, são o inverso do que nos referimos inicialmente. Os baixos níveis de inflação (variação de preços), reduzem a taxa de juro nominal, incentivando o aumento do consumo, o que por sua vez incentiva os investidores a expandirem a produção. Os produtores ganham porque quando aumentam a produção, têm um maior retorno, o Estado ganha, pois quanto maior for o nível de emprego, consegue colectar mais impostos, o que por sua vez, aumenta as receitas públicas, consequentemente, o financiamento da despesa pública, concorrente para o bem-estar colectivo. Há quem pense o contrário, que a perda de valor da moeda nacional, o Estado acaba por ter menos obrigações para com os seus devedores nacionais. Mas a contracção do emprego penaliza todos os agentes económicos, as famílias, as empresas e o Estado.
A inflação é um imposto injusto, destrói o valor dos activos das famílias, das empresas e do próprio Estado. Já se imaginou a destruição de valor dos activos, que está a ocorrer aos credores do Estado de há 5 anos? Com a agravante que o Estado impõe que a empresa pague imposto industrial (II) na receita, que é dívida do Estado, que por sua vez, não paga. Empresas do sector de obras públicas e outras fornecedoras de bens e serviços ao Estado, estão sucumbindo por causa dessa incongruência, o que explica em parte a razão da tensão que se verifica entre as empresas privadas e a Administração Geral Tributária (AGT).
Vê-se empresas industriais e retalhistas usando estratégias de redução de gramagem nas embalagens, por exemplo, em vez do padrão de 25Kg de arroz, fuba, açúcar, entre outros, passou a ser comercializado também 10Kg ou ainda embalagens de 1KgX10, para corresponder ao poder de compra dos consumidores. É uma estratégia de pouca duração, pois o problema essencial é a perda do poder de compra por parte dos consumidores, que só se vai reverter com a contenção da variação de preços, o que só vai acontecer quando se começar a produzir bens essenciais de consumo no País. O mesmo é dizer, quando se equilibrar a equação de equilíbrio monetário, com produtos produzidos no País. Enquanto continuarmos a depender do estrangeiro, para saciar a fome dos nossos cidadãos, os preços vão continuar a variar para cima, pelo que, precisamos voltar a produzir, como se fez no passado não muito distante, o que vai estabilizar os preços, o valor da moeda, o crescimento económico, proporcionando a prosperidade colectiva.
*Jornalista