Numa altura em que surgem novos players no sector de petróleo e gás, com países a anunciarem descobertas e a prepararem-se para se firmarem como futuros produtores, Angola apresenta vantagens para continuar a ser um mercado atraente.
Entre estas vantagens destacaria a presença das principais multinacionais, o facto de Angola já possuir um mercado maduro, robusto com infra-estruturas de exploração e produção, a legislação flexível (reformas económicas, estabilidade contratual), a Produção Incremental e uma série de incentivos fiscais para atrair investimentos, assim como a confiança garantida ao investidor para retorno do capital.
Pela sua natureza de negócio de capital intensivo, o sucesso do sector petrolífero depende de algumas actividades fundamentais de exploração, nomeadamente os levantamentos sísmicos e a perfuração de poços de pesquisa, que variam em termos de custos e tecnologias consoante o tipo de operação, terrestre (onshore) ou marítima (offshore).
Neste exercício de reflexão, trazemos uma perspectiva geral sobre os custos de serviços de exploração nas áreas de sísmica e perfuração de poços de pesquisa. A nossa referência é o que se pratica em Angola, comparando esses custos com os de outros países produtores como o Brasil, a Nigéria e a Namíbia.
No que diz respeito às operações onshore, há desafios a superar em Angola. Refiro-me às condições e infra-estruturas existentes na porção terrestre, nomeadamente, falta de vias de acesso, ausência de pontes, desminagem e aquisição de bens e serviços, que podem agregar complexidade ao factor logístico para essas áreas e influenciar no aumento dos preços da sísmica.
A sísmica é fundamental para a exploração e produção de hidrocarbonetos. Os custos para sua aquisição podem variar significativamente, sendo mais elevados na porção marítima devido às tecnologias utilizadas e ao grau de complexidade maior em águas profundas e ultraprofundas.
De acordo com os dados disponíveis na Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (ANPG), Concessionária Nacional e entidade Reguladora e Promotora das actividades de pesquisa no Upstream, os custos para levantamentos sísmicos em Angola, calculados em Dólares Norte Americanos por Quilómetro quadrado, rondam entre 7.500 e 17.000 para Sísmica 2D Onshore enquanto para Sísmica 2D Offshore, vão de 9.000 a 22.000. Já para a Sísmica 3D Onshore os custos situam-se entre os 15.000 e 30.000, ao passo que para a Sísmica 3D Offshore os custos variam entre os 20.000 e 40.000.
Estes custos, observados todos os preceitos ambientais, são influenciados por vários factores como a ausência de infra-estruturas logísticas, a necessidade de equipamentos especializados e as condições climáticas. Em comparação com outros países, como Namíbia, Brasil, Guiana e Nigéria, os custos em Angola são competitivos, mas tendem a ser mais altos, especialmente para operações na porção terrestre, devido à acessibilidade, necessidade de desminagem, áreas inóspitas e os procedimentos administrativos para acesso às terras.
No cenário internacional, a Nigéria, o maior produtor no continente africano e concorrente mais próximo de Angola, pratica altos custos associados a desafios logísticos e alguma instabilidade política. Em contraste, a Namíbia, nosso vizinho, apresenta custos mais baixos, especialmente em áreas costeiras, devido a menores desafios logísticos, existência de indústria de bens e serviços, bem como menor carga fiscal. O Brasil, nossa principal referência na América Latina, pratica custos mais elevados, especialmente em operações offshore (pré-sal), devido à complexidade das áreas costeiras e regulamentações ambientais rigorosas.
Em função dos preços que as companhias praticam no mercado, compilamos as tabelas abaixo ilustradas:
As comparações mostram que os custos em Angola são mais elevados, devido essencialmente a actividades como a desminagem, logística, bens e serviços. Nos projectos desenvolvidos em áreas recônditas e com infra-estrutura precária, o custo da logística poderá representar cerca de 60% do custo total. Porém, Angola continua a ser um mercado atraente devido ao seu alto potencial de recursos e política de atractividade, com destaque para as reformas do sector.
O custo de perfuração de poços constitui outro aspecto crítico nas operações de exploração de hidrocarbonetos. Seguindo a tendência mundial, os poços de águas profundas e ultra-profundas são os mais onerosos, rondam entre os USD 50 e os 150 milhões. Ainda na porção marítima, o investimento para a perfuração em Águas Rasas varia entre os USD 20 a 70 milhões por Poço, ao passo que para um Poço na porção terrestre seriam necessários USD 10 milhões.
Ressalte-se que em Angola os custos de perfuração de poços de exploração são competitivos, à excepção da porção terrestre, considerando que, em Águas Rasas Internacionais no Mar do Norte, os custos variam de USD 20 a 50 milhões, em Águas Profundas Internacionais no Golfo do México vão de USD 100 a 300 milhões e em Águas Ultra-Profundas no pré-sal do Brasil chegam aos USD 500 milhões.
Estamos a falar de custos influenciados por factores como a lâmina de água, profundidade dos poços, tecnologia utilizada, complexidade geológica e condições políticas e económicas do País.
Conforme já mencionado, apesar dos desafios, o mercado de Angola continua a ser competitivo e atractivo, com perspectivas positivas por conta das reformas em curso e o espaço de contribuição dos parceiros para as políticas de regulação do sector.
O mercado de aquisição de dados sísmicos, bem como a perfuração de poços em Angola é dominado por empresas investidoras estrangeiras que buscam a redução de custos, para optimizar as suas operações e o retorno dos investimentos. Os incentivos fiscais ajudam na redução de custos e na atracção de investimentos para exploração de hidrocarbonetos em Angola, fundamental para mitigar o declínio da produção petrolífera.
*Geólogo