A campanha eleitoral vai decorrer até ao próximo dia 19 de Novembro. Justino Capapinha e Adilson Hach são os candidatos ao cargo de líder da organização juvenil do MPLA. Apesar de ter sido eleito com todo o apoio e legitimidade (com 71,7% dos votos), em Outubro de 2019, Crispiniano dos Santos foi um líder desprovido de carisma, de capacidade e de autoridade política. Verdade seja dita, hoje temos uma JMPLA muito fragilizada, dividida e que internamente tem muitas dificuldades em mobilizar os seus militantes e com mais dificuldades ainda de captar votos ou simpatias das diferentes franjas da juventude.

A tendência é a JMPLA ser liderada por militantes cada vez mais jovens, e a direcção de Luther Rescova começou a fazer esta transição geracional. Isso também resulta das novas dinâmicas internas e até mesmo externas, que vão exigindo cada vez mais que as estruturas juvenis dos partidos funcionem como espaços orientadores para a cidadania consciente, crítica e participativa. Tenho dito que cada geração tem prioridades, dificuldades, incompreensões, expectativas e certas resistências.

Esta geração é mais exigente, é bem mais informada e com sentido crítico. Mas também é mais emocionada, menos disciplinada e, algumas vezes, avessa a normas e regras; é uma geração que adora certos palcos mediáticos. Já não são os tempos de Bornito de Sousa, Boavida Neto, Paulo Pombolo e Luther Rescova, cujas lideranças tiveram grande protagonismo e influência dentro do MPLA. Tempos em que, quando a JMPLA se espirrava, o MPLA corria o risco de se constipar. Basta ver os cargos que essas figuras ocuparam depois de deixarem a liderança da JMPLA.

Bornito de Sousa foi ministro da Administração do Território e depois Vice-Presidente da República; Boavida Neto foi governador nas províncias do Namibe e do Bié e foi depois secretário-geral do MPLA; Paulo Pombolo foi governador do Uíge e é, actualmente, o secretário-geral do MPLA; já o falecido Luther Rescova foi governador de Luanda e do Uíge. Tudo isso para ilustrar a importância de um primeiro-secretário nacional da JMPLA e o seu peso na estrutura do partido. Crispiniano dos Santos dificilmente seguirá o mesmo caminho dos seus antecessores e agora deverá estar a fazer planos para o futuro.

"Somos jovens e estamos em congresso" é um slogan antigo e muito conhecido entre nós. A juventude do MPLA vai realizar mais um congresso e escolher o seu novo líder. Justino Capapinha e Adilson Hach são os candidatos ao cargo de primeiro-secretário nacional da JMPLA. Justino Capapinha é filho de Job Capapinha, um militante que já foi governador de Luanda e do Kwanza-Sul. Justino foi membro do Secretariado Nacional de Crispiniano e tem o apoio da estrutura central da JMPLA. É uma aposta na continuidade e essa pode ser uma das suas fragilidades. Fez parte da equipa de Crispiniano dos Santos e também tem o ónus das falhas da sua governação e das rupturas criadas. Crispiniano recebeu o poder das bases e não o quer devolver, e isso pode não ajudar muito.

Outra situação é a de que ele não pode ser culpado por ser filho de quem é, mas pode ser penalizado por isso. O envolvimento directo de Joba Capapinha na campanha pode transferir os seus anticorpos para o próprio filho. Justino Capapinha tem de provar que pode conquistar o cargo por mérito e esforço próprio e que não precisa do empurrão do pai, nem de ser visto como uma extensão do poder dele. Job Capapinha tem de ser inteligente, expor-se menos, trabalhar em modo de baixa visibilidade, para não prejudicar a carreira do filho. É preciso que cometam os mesmos erros ou que passem a mesma mensagem da candidatura de Domingos Betico em 2019: "Quem manda na JMPLA é a estrutura central, e as bases devem limitar-se a obedecer, a cumprir ordens". A reacção das bases não foi das melhores e elas mostraram quem realmente tem poder de decisão.

Adilson Hach é um outsider, um jovem que vem do Namibe, que vem das bases e que hoje disputa a liderança. Ele obteve 128 votos contra os 172 de Justino Capapinha, menos 44. É relevante e pode ser um novo sinal de afirmação das bases contra aquilo que entendem ser os caprichos e imposições da estrutura de topo.

A estrutura central da organização passa, muitas vezes, uma imagem de arrogância e de elitismo. Os que estão em Luanda e perto do poder central gostam de impor a narrativa de que eles é que mandam, que eles é que decidem, que os provincianos servem apenas para votar e cumprir orientações. Isso faz que as bases procurem, nesta altura, fazer valer o seu poder. Elas fazem perceber a sua força e importância na equação.

A campanha de Adilson vai procurar potenciar as suas bases de apoio no Sul de Angola, onde tem uma grande população votante. Vai explorar o facto de ser um jovem com poucos apoios e que está a lutar contra a estrutura central de Luanda, que não é filho de alguém e logo não vai chegar ao cargo por privilégios de nascimento. Mas tem contra si a falta de experiência e de estruturas de apoio. Pode chegar lá com o apoio e força das bases, mas, se não for o escolhido da estrutura central, irá enfrentar muitos obstáculos e ter uma governação "cinzenta" como o actual líder da organização. Ter consigo as bases e não ter apoio da estrutura central é um problema. Ter suporte da estrutura central e não ter apoio das bases é um dilema.