Mas isso foi há muito tempo. De há um tempo a esta parte que já não permite memórias lúcidas de quem vivenciou e sobreviveu às emboscadas. Já foi há tanto tempo que a geração Z desconhece por completo este conceito de emboscada a não ser de assistir filmes e séries em plataformas de streaming.

Uma das características das emboscadas era o facto de essas serem feitas em zonas remotas, em vias lamacentas de difícil condução, e estradas estreitas sem possibilidade de retorno, em zonas rurais desprovidas de iluminação artificial, e acima de tudo tinham melhor resultado quando realizadas de madrugada.

Actualmente, e embora não seja um fenómeno recente, as emboscadas são realizadas por um misto de pessoas da geração Y e Z em plena luz do dia. Ninguém se esconde nem utiliza minas ou qualquer outro engenho explosivo. As emboscadas têm-se estado a agudizar fruto das dificuldades económicas de uma larga maioria da população que desconsegue de compras os produtos da cesta básica e facilmente tira proveito de determinadas oportunidades.

A crescente onda de emboscadas a camiões de bens alimentares é feita usando a máxima "a ocasião faz o ladrão", mas reflecte, igualmente, outras situações semelhantes como o roubo de combustível na estrada da Boavista com os camiões em andamento. Como se viu recentemente alguns dos que aproveitam o ensejo para colocar alimentos na despensa são movidos pela oportunidade, por estarem no local certo na hora certa.

Estas lamentáveis situações põem a descoberto a fragilidade da nossa sociedade, a quase inexistência de valores morais e nos obrigam a reflectir sobe que tipo de cidadãos teremos no futuro, pois as crianças assistem o saque e rapidamente aprendem a participar nele.

Quando o arroz tem de ser protegido por seguranças armados, alguns munidos do infalível arco e flecha, tal como o transporte de dinheiro, devemos reconhecer que estamos longe do corrigir o que está mal. Vai sempre haver aqueles que dispensam o uso de seguranças e na eventualidade de o camião avariar ou ficar preso num engarrafamento verão que num ápice o saque será consumado. Já foi arroz, já foi combustível e até já foi cerveja.