Este bater de tampas ganhou alguma expressão nos tempos da pandemia da Covid-19, quando foi usado para agradecer a classe médica pelos esforços e dedicação na luta contra a pandemia. Depois foi usado como forma de protesto na nossa urbe em resposta a solicitações do exterior e acabou por ser transportado para os nossos irmãos do Índico que atravessam um período conturbado. Com esse recado das mamãs, será que a música das panelas, um clássico das manifestações, está com os dias contados?

As panelas, com seus ruídos metálicos e ritmos irregulares, sempre foram a percussão natural de qualquer protesto. Sejam de alumínio, aço inoxidável ou ferro fundido, elas unificavam vozes, criavam um coro ensurdecedor e, acima de tudo, incomodavam quem não queria ouvir. Mas parece que a era das panelas está a chegar ao fim, dando lugar a uma sinfonia mais moderna e estridente.

Os apitos, com seus sons agudos e penetrantes, são uma opção mais portátil e menos sujeita a danos. Aqui também já foram forma de avisar que os malandros estavam à solta, chamando pela intervenção da turma do apito, essa também derrotada pela ordem. Já as vuvuzelas, com seu som único e inconfundível, podem transformar qualquer manifestação num jogo de futebol. Milhares de pessoas, de todas as idades, agitando vuvuzelas em uníssono, criam uma onda sonora capaz de abalar os alicerces do poder.

Mas a questão que fica é: qual o futuro da música das manifestações? Será que veremos a criação de instrumentos específicos para protestos, como panelas à prova de som ou vuvuzelas com amplificadores? Ou talvez as manifestações do futuro se inspirem nos concertos de kizomba, com batucadas ensurdecedoras?

Nem sempre o barulho é sinónimo de razão. Às vezes, o silêncio pode ser mais poderoso e eloquente. Afinal, a voz do silêncio é mais alta do que a do barulho. No entanto, há vezes que, independentemente do ruído, a caravana passa, sem muitos sobressaltos e as mamãs choram em silêncio com a perda dos seus filhos e filhas.