Esses ataques criam pânico e terror e acentuam o papel do medo como instrumento de controlo da sociedade.

Neste contexto, no âmbito da sua estratégia de reforço da "institucionalização oficial do medo", na expressão do jornalista Gustavo Costa, o poder faz dos media a principal alavanca da difusão do terror.

Tal como a Rádio Televisão Livre das Mil Colinas (RTLM) e o jornal "Kangura", no genocídio do Rwanda (1994), o terrorismo mediático em Angola, liderado pela TPA, passa por incitar ao ódio, violência, racismo e xenofobia contra tudo e todos que, com voz própria, denunciam os fracassos do poder.

Esta construção social do medo passa, também, por incutir nas populações a ideia segundo a qual a oposição é um bicho-papão, antro de pedófilos e estupradores.

Esta atitude faz lembrar os anos 74 e 75, do século passado, quando adversários políticos eram rotulados de canibais que comiam criancinhas.

O condicionamento da comunicação social é acompanhado do patrulhamento da opinião, constituindo-se para tal aquilo a que o director deste Jornal, Armindo Laureano, muito bem chamou "a confraria da opinião".

De acordo com Armindo Laureano, os confrades "previamente «filtrados» e seleccionados são parte integrante de uma «ditadura de opinião», em que só existe uma verdade oficial, e as agendas e temas são impostos e debatidos até à exaustão para influenciar o pensamento".

Neste processo, a comunicação social funciona como extensão da agenda política do poder e o instrumento de repressão do pluralismo.

Se em 1994, no Rwanda, os terroristas dos media apostaram no incitamento à violência durante os massacres contra os Tutsi, em Angola os meios estatizados transformaram-se nos principais promotores da intolerância politico-ideológica, espalhando diariamente a semente do ódio.

É esse papel dos media, de incitamento à violência, que foi julgado pelo Tribunal da ONU para os crimes do genocídio do Rwanda.

Isso mesmo acabou na condenação à prisão perpétua dos jornalistas Ferdinand Nahimana, um dos fundadores e proprietários da RTLM e Hassan Ngeze, dono e editor do jornal extremista Hutu "Kangura".

No mesmo julgamento, Jean-Bosco Barayagwiza, co-proprietário da RTLM, director de relações públicas da Chancelaria do Rwanda, foi condenado a 35 anos de prisão.

Num país que representa uma heterogeneidade sociocultural e com uma história recheada de capítulos de intolerância politico-étnica e social, a manipulação das populações, usando o discurso do ódio contra opositores políticos, pode abrir caminho a purgas e extermínios com consequências inimagináveis.

Os jornalistas rwandeses condenados foram culpados por derramarem "aos poucos, combustível inflamável por todo o país, de modo a prepará-lo para um grande incêndio."

É o que faz a media pública, com a TPA à cabeça, quando destorcem os factos, omitem informação relevante sobre as acções da oposição, exacerbam e inventam ou criam factos negativos sobre os opositores, comportando-se como contendor político, em vez de se apresentarem como intermediário entre o poder e o povo, como quarto poder.

Sob a capa do programa de recuperação de activos constituídos com capitais desviados dos cofres públicos, o Governo confiscou, habilmente, empresas de comunicação social convertendo-as em órgãos vulneráveis, nos quais a censura e a autocensura determinam os comportamentos dos profissionais.

A primeira vítima dessa acção é o jornalismo como elemento estruturante da democracia, centrado no contraditório e pluralidade e a grande vítima é a democracia que de frágil embrião rapidamente passou a nado morto, ficando a sua efectivação dependente de uma nova concepção.

Essa vulnerabilidade transforma jornalistas em agentes do terror, fundamentalistas políticos que usam o medo e a mentira para manipular a sociedade, em nome da agenda política do poder.

Nesta senda, a TPA, que desvaloriza posicionamentos críticos de destacados membros do partido-Estado, como dois antigos secretários-gerais, vai buscar irrelevantes militantes de base ou mesmo meros simpatizantes de partidos da oposição para, em prime time, lançar ataques sórdidos e mensagens de ódio contra o líder da oposição.

A mesma TPA não abre os microfones e as câmaras à Associação de Juízes de Angola que repudia e qualifica de "um vergonhoso recuo" do Estado Democrático e de Direito a proposta de revisão constitucional, apresentada pelo Presidente do País, mas vai dando primazia aos confrades para papaguearem os "méritos" dessa proposta.

Resultado de políticas desastrosas, a consumação do divórcio litigioso entre o Presidente e parte significativa do País chegou poucos anos depois de um risonho casamento com a quase generalidade da sociedade, e até com líderes da oposição, conseguido graças ao esperançoso discurso de investidura, o anunciado combate à corrupção e o ataque a interesses da anterior liderança.

Situação que, atendendo ao desespero que isso provoca nas hostes do partido-Estado, leva esses meios de comunicação social a insistirem, despudoradamente, na narrativa do grande apoio popular ao Presidente, no intuito de transformar em verdade uma mentira repetida várias vezes.

Para esta manipulação-desinformação e propaganda político-mediática, e na vã tentativa de credibilizar o que divulgam, utilizam marionetas e fantoches, aos quais são atribuídos títulos como de destacados membro da oposição ou de movimentos associativistas.

Substituindo critérios jornalísticos por critérios de terror, esses mesmos órgãos realizam pseudodebates, com todos os ingredientes de ameaças veladas aos opositores e aos críticos do actual estado do país e sua governação.

Com a diminuição da liberdade editorial e de imprensa e o crescimento da censura e da autocensura, as leis convertem-se em autênticas letras mortas e os reguladores em instituições do faz-de-conta.

Perante reguladores da comunicação social e do jornalismo sem poderes efectivos, e eles próprios também em autocensura porque são alvos de chantagem económico-financeira e material, a violação da ética e deontologia jornalística ganha estatuto de normalidade.

Neste quadro, os meios de comunicação social perdem o apoio da população que, rejeitando a conivência destes órgãos com o poder, deixam de acreditar na sua informação.

Este descrédito é de tal forma que, nas redes socias, com o sentido de humor característico dos angolanos, há cidadãos a afirmar, caricaturalmente, que quando o/a jornalista da TPA diz boa noite, vão à rua para certificar se de facto é noite.

Na sua campanha de imposição de uma agenda política e ideológica, a sobre-representação de iniciativas do partido no poder é tão expressiva que abafa por completo qualquer menção noticiosa a outros actores políticos.

Neste terrorismo mediático, as brigadas digitais acobardando-se no anonimato, encarregam-se de espalhar, pelas redes sociais, o terror, ataques de caracter e à honorabilidade de figuras de referência do jornalismo, da política, do activismo e, inclusive, da esfera eclesiástica.

Essa autêntica guerra psicológica integra também o bombardeamento das populações com as narrativas do poder de forma dogmática.

Como a visitação dos media representa, nas sociedades modernas, a terceira ocupação do ser humano, depois do trabalho e do sono, o terrorismo mediático surge como o caminho certo para manipular e preparar os cidadãos para aceitarem inconscientemente decisões políticas que contra si são tomadas.

Quando tomou posse, o PR Lourenço comprometeu-se a "assegurar um maior investimento público no sector da comunicação social, de modo que os angolanos tenham acesso a uma informação fidedigna em todo o território nacional".

Neste quadro, apelou "os servidores públicos para que mantenham uma maior abertura e aprendam a conviver com a crítica e com a diferença de opinião, favorecendo o debate de ideias, com o fim último da salvaguarda dos interesses da Nação e dos cidadãos."

O que se assiste hoje no País, com o terrorismo mediático, sob o olhar silencioso do titular do Poder Executivo, a quem cabe nomear e exonerar os administradores dos órgãos de comunicação social estatizados, faz da figura do PR um cúmplice dessa estratégia.

Será que na sua recente privada visita ao Dubai, o PR reflectiu sobre que legado quer deixar quando sair do Palácio das Colinas de S. José?

E será que pensou que o seu nome pode vir a ser associado à uma sociedade onde as regras são ditadas por fundamentalistas políticos?

O actual inquilino da Cidade-Alta, historiador, que entrou no Palácio como reformador, auto intitulando-se de Deng Xiaoping de Angola, não quererá, certamente, ficar na História como um político bipolar.