Políticos que em plena era do digital continuam a confiar na propaganda alicerçada à mentira e repressão como meio de travar qualquer revolta popular.

Revolução popular desencadeada por uma geração jovem atirada à condição de indigente por políticas geradoras de desigualdades e de pobreza, que se arrastam há anos.
Incapazes de ler e interpretar os sinais dados por jovens em todo o continente e seu efeito contágio, esses políticos ignoram que a juventude deste tempo, sem fronteiras em matéria de conhecimento, faz da partilha da informação o seu quotidiano.
Usando o poder das armas e a corrupção, esses regimes instrumentalizam alguns jovens para propagandisticamente rotular outros da mesma geração como perigosos inimigos da paz, desestabilizadores e violentos.
Diferentes dos lambe-botas do partido, os jovens revolucionários enfrentam a fome, a pobreza e o desemprego, a injustiça, a violência policial e a opressão. Muitos deles, depois de anos de formação, são forçados a emigrar ou a viver da mendicidade e precariedade.
Aos sinais dados pela juventude de querer participar da solução dos problemas do País e não apenas ser um instrumento eleitoral, usado de cinco em cinco anos, para ajudar a legitimar o simulacro de democracia, os vândalos de Estado respondem invariavelmente com violência.
Essa juventude que destapa "carências de gerações de desvalidos que nada beneficiaram com a independência", de acordo com o escritor moçambicano Ungulani Ba Ka Khosa, quer que o seu voto conte, que se traduza em políticas públicas à favor da maioria, pela justiça social, contra os privilégios e caprichos da decrépita classe política.
Tal como ontem, os revolucionários de hoje sabem que "não é preciso ir à academia militar para lutar na própria terra para conquistar a liberdade de seu povo", como dizia Amílcar Cabral.
A liberdade ansiada pela Geração Z significa dignidade de vida, sem deixar ninguém para trás, com escola, saúde, cultura, poder de decisão e escolhas informadas, igualdade de direitos e de oportunidades.
Em busca da dignidade, a juventude do Quénia, com manifestações de protestos e muitos sacrifícios, incluindo a morte de quase quatro dezenas de jovens, em meados deste ano, travarou um plano fiscal do Presidente William Ruto.
Se fosse avante, a referida reforma fiscal afectaria sobretudo os mais pobres, num País onde, em contraste com a maioria da população, a elite política mantém salários elevados e o Estado tem gastos excessivos em alguns sectores.
Por outro lado, no Senegal, quase 30 jovens foram mortos pela polícia durante as manifestações do ano passado que impediram uma hipotética alteração constitucional para acomodar um terceiro mandato para o Presidente Macky Sall.
Os jovens senegaleses protestavam ainda contra as manobras de Sall para barrar a candidatura presidencial de Ousmane Sonko, líder panafricanista do partido Patriota Africanos do Senegal para o Trabalho, a Ética e a Fraternidade (PASTEF).
Há quatro anos, jovens malawianos ocuparam as ruas durante seis meses, em protesto contra a fraude eleitoral de um escrutínio que dava a vitória ao Presidente Peter Mutharika e que, depois dos protestos, foi anulado pelo Tribunal Constitucional, por irregularidades "generalizadas, sistemáticas e graves".
Uma revolução que poderia ser pacífica, se os líderes políticos enveredassem pelo diálogo inclusivo, sem mise en scène e sem o uso de instrumentos de violência legal, nomeadamente a polícia e as forças armadas.
Segundo Kwame Nkrumah, "as bases duma revolução são lançadas logo que as estruturas orgânicas e condições numa determinada sociedade levaram as massas a desejar ardentemente o derrube completo das estruturas dessa sociedade".
A juventude em África deseja "ardentemente" derrubar o absolutismo, a intolerância e exclusão política, bem como a divinização do poder que transforma líderes em seres infalíveis que não assumem erros, nem pedem desculpas aos governados, muito menos justificam os seus actos políticos.
Luta também pelo resgate da soberania popular, contra as fraudes e adulteração de resultados eleitorais, contra os esquadrões da morte, a repressão e opressão praticadas por vândalos de Estado, bem como pelo fim da normalização da pobreza e da miséria.
É vandalismo de Estado deixar milhões de crianças sem escola, sem presente, nem futuro, quando recursos do País são gastos em luxos e futilidades da classe política, numa das mais desequilibradas e injustas distribuição da riqueza.
Porque a fome, "expressão biológica dos males sociais", resulta da "falta de vergonha na cara" de quem governa, como diz Lula da Silva, Presidente do Brasil, é preciso uma revolução para combater essa chaga em sociedades onde vândalos de Estado, de forma despesista organizam banquetes de milhões perante o entristecido e impotente olhar de quem vê o filho morrer à fome.
Revolução contra o vandalismo de Estado, traduzido em prepotência e abuso de autoridade de políticos cúmplices da morte por acidente de crianças que são retiradas da escola e usadas para compor o ramalhete de recepção de governantes impopulares, mas desesperados por simularem o contrário.
A revolução é igualmente contra os vândalos de Estado que obrigam professores e outros funcionários públicos a deixarem as suas tarefas e servir de cordão propagandístico de boas-vindas sempre que o político-chefe visita a sua região.
Só uma revolução para acabar com a partidarização de instituições do Estado, como os órgãos de gestão das eleições, a função pública e a justiça, esta última usada para perseguir adversários políticos e críticos do regime.
Perseguir, violentar e matar quem zunga pela sobrevivência e da sua família, num país onde a classe governamental está centrada em manter e consolidar o poder político, sobretudo, o económico e financeiro, e é incapaz de satisfazer as necessidades básicas do Povo, é vandalismo de Estado.
Os vândalos de Estado esquecem-se que, independentemente do belicismo da polícia ou do exército, tentar travar a vontade de um povo, a indignação popular, transformada em fúria por liberdade, equivale a querer "travar o vento com as mãos".
Como travar quem já perdeu tudo, incluindo a esperança e a dignidade e tem de assistir em doloroso silêncio suas filhas, irmãs ou esposa a vender o corpo em troca de comida?
Porque violência gera violência, perante vândalos de Estado que apostam na violência estrutural da polícia e transformam povos em párias, a mudança de paradigma passa por uma revolução pela liberdade, dignidade e democracia.
É violenta, porque os vândalos de Estado tratam os cidadãos com violência, transformando-os em enteados, expropriando a sua identidade e amputando o sentimento de pertença à sua terra.
Transformar questões políticas em casos de polícia, ignorar arrogantemente as causas dos problemas e pegar nas suas consequências, mascará-las para desonestamente responsabilizar e diabolizar os revolucionários pelo caos, e acusá-los de terrorismo ao serviço de agentes estrangeiros, mais do que miopia, é vandalismo de Estado.
Confrontados com as dificuldades em travar a determinação do Povo na luta pela dignidade, os vândalos de Estado buscam desesperadamente apoios interno e externo. Para tal, criam narrativas mirabolantes sobre a sua hipotética condição de salvadores da pátria e únicos capazes de conduzir o País a bom porto.
Para essa empreitada, usam os sequestrados media, sobretudo os de capitais públicos, que manipulam factos, criam boatos e inverdades, no cumprimento da missão de imbecilizar o Povo.
Contra a captura de descredibilizadas instituições do Estado que deviam ser republicanas, contra "ordens superiores" com estatuto de lei, só uma revolução popular para devolver a legalidade e a esperança ao Povo que só depende de si próprio para construir uma nação livre, próspera e solidária.
Contra o medo, como instrumento de controle da sociedade, a desumanização e a infantilização de quem se recusa a subscrever a cartilha do tirano, que prioriza a protecção de infra-estruturas em detrimento da vida humana, a revolução popular é inevitável.
De movimentos libertadores a partidos da opressão, vândalos de Estado, históricas formações políticas africanas estão hoje "à deriva, desconectadas da realidade, e muito longe de um ancoradouro sustentável", como escreve Ungulani Ba Ka Khosa.