As dificuldades orçamentais, num país que se vem diversificando numa conjuntura difícil, e a um ritmo mais lento que o necessário para que não haja tanta dependência do petróleo, obrigam a atrasar obras contratadas, adiando a solução de alguns dos problemas mais prementes da região, ligadas ao estabelecimento de um conjunto de infra-estruturas que assegurem uma melhor gestão da água. Continuam por equacionar outras soluções para melhorar o ecossistema, como a arborização intensiva, o tipo de projecto que seria facilmente financiável no âmbito das iniciativas propostas pelo Acordo de Paris, criando novas oportunidades.

Em Luanda anunciam-se mais refinarias (poderemos vir a ter quatro nos próximos anos!), e a licitação de mais dois blocos para a extracção de hidrocarbonetos, aparentemente em contraciclo com a tendência mundial de redução de investimentos neste sector da economia. Isto, quando há uma clara aposta internacional no combate às emissões de carbono, com o objectivo de se chegar a zero em 2050, e já se começam a sentir os efeitos do realinhamento da economia mundial no sentido de promover a economia verde: aposta na mobilidade eléctrica, e no hidrogénio e energias renováveis para o mix energético, retirando, significativamente, espaço ao mercado dos hidrocarbonetos. É claro que a petroquímica continuará a ter uma participação significativa por muitas décadas, mas a questão que nos colocamos é o que acontecerá com o parque existente de refinarias quando sectores que hoje se encontram entre os maiores consumidores de derivados de petróleo, como o dos transportes e produção de electricidade, virem os seus consumos reduzirem-se. Segundo um estudo da BloombergNEF, Oil Demand From Road Transport: COVID-19 and Beyond, de 11 de Junho de 2020, o pico de consumo de combustíveis fósseis no sector de transportes acontecerá cerca de 2030. Provavelmente quando as nossas refinarias estarão em condições de produzir.

O Metro de superfície agitou a imaginação dos luandenses, e, quiçá, dos angolanos em geral. E a questão que se coloca é sempre a mesma: sendo os recursos escassos, - diríamos mesmo que, no nosso país, neste momento, são muito escassos - deverão estes ser aplicados num projecto deste tipo em detrimento de outros que se apresentam talvez mais urgentes e importantes para que se resolvam alguns dos mais significativos problemas do povo? Não temos dúvidas sobre o quão necessário é a introdução de soluções como esta e a do BRT (sistema baseado em autocarros a circular em vias dedicadas, e com óptimos resultados em várias cidades no mundo, que já tinha sido iniciado, e que foi, entretanto, suspenso), para se resolver a questão da mobilidade urbana numa cidade com a dimensão (e velocidade de crescimento) de Luanda. A questão que se coloca é sobre a oportunidade, dada a situação económico-social do país. E porque a história recente não credibiliza soluções de PPP (parcerias público privadas), que aparecem para justificar investimentos com o argumento que a parte privada vai assumir um risco importante no mesmo, mas no fim acaba o Estado a bancar os prejuízos quando os mesmos acontecem (veja-se o que se passou com o projecto da Baía de Luanda). Os números apresentados pelo NJ na sua última edição, deixa-nos preocupados: apesar da participação do Estado com uma parcela de 30% na sociedade que vai implementar o projecto, e da subsidiação em quase 50% do custo previsto para o bilhete (não sabemos se este subsídio é parte do investimento do Estado ou um custo adicional), este vai custar, ao câmbio actual, mais de 1.000 Akz por viagem, o que parece manifestamente muito para a grande maioria da população luandense. Se a isso juntarmos o histórico de subvalorização dos custos em projectos similares, e o estado decadente das infra-estruturas que terão que servir o projecto, temos uma noção clara dos riscos que se estão a correr.

Por último, as notícias que nos chegam da África do Sul e de Cuba, países a que, por razões distintas, estamos especialmente ligados, deixam-nos tristes e apreensivos.

Precisamos de um pouco mais de Sol neste cacimbo!