Fernando Miala e Eugénio Laborinho têm uma particularidade em comum: gostam de marcar o seu território, de definir o seu espaço. Mas também têm as suas diferenças e algumas delas irreconciliáveis. São ambos quadros experientes, exigentes e com serviço prestado à Pátria. Ambos lideram instituições que têm uma responsabilidade enorme na defesa da soberania e segurança nacional. Instituições que, num passado não muito distante, faziam parte da mesma estrutura e tinham comando único. Penso que Sebastião Martins "Potássio" terá sido o último governante a assumir a dupla liderança como ministro do Interior e chefe da nossa "secreta interna". Mas também divergem muito na visão sobre soberania, segurança nacional, visão e organização de Estado. Uma das suas divergências era sobre a gestão e controlo do SME.
Há alguns anos que o SINSE vinha sinalizando irregularidades, falhas graves e sérios atentados à segurança nacional. Criou-se na instituição grupos e esquemas de atribuição fraudulenta de passaportes nacionais a cidadãos estrangeiros bem como títulos de residência. A instituição começou a ser rotulada como "A Casa da mãe Joana" e onde tudo se praticava com uma certa impunidade e muitos bolsos cheios.
João António da Costa Dias "Jó" era apenas um peão na jogada, era visto internamente como uma figura decorativa, um "moço de recados" tal era a sua incapacidade perante a actuação de grupos de poder com ramificações externas. É preciso não generalizar e fazer perceber que existem no SME quadros competentes, com espírito de missão e sentido de Estado. Efectivos com vários anos de casa, que não se sentem confortáveis com a imagem de uma instituição fragilizada, corrupta e de gestão danosa. Mas isto vem de anos e este rótulo colou-se ao SME e dificilmente dele libertar-se-á. A vergonha, a desmotivação, a indignação com escândalos ao longo dos anos, bem como os casos de exposição excessiva e desnecessária nas redes sociais fazem deixar muitas vezes para o SME uma solução Tiririca: Pior do que está não fica!
João Lourenço chamou a si o ónus da remodelação, obviamente, com as informações privilegiadas e disponíveis. Sabendo-se que a Inspecção-Geral da Administração do Estado (IGAE) há duas semanas que anda pelos gabinetes da instituição. Como dizia, João Lourenço nomeou e deu posse aos novos directores do SIC e SME dentro de uma estratégia para organizar, disciplinar e reestruturar estas instituições. Deu sinais de que não estava "refém" da relação de proximidade, cumplicidade e compadrio com Eugénio Laborinho, indo buscar a sua solução, com quadros de instituição (SINSE) que este menos esperava. Esvaziou-o e até alimentou narrativas de que Laborinho pode estar a prazo. Na verdade, esvaziou-o, mas não o descartou, continua a tê-lo ali, contudo, deixou-lhe uma lição.
A criminalidade assumiu índices alarmantes e passamos a ter a imagem de um país inseguro com consequências para a sua imagem e até para retrair investimentos. Os esquemas de corrupção, narcotráfico, contrabando de combustível, atingindo altas esferas da instituição não ajudaram. As rupturas e divergências entre o Ministério do Interior e o Comando-Geral da Polícia Nacional também terão criado um desalinhamento entre Arnaldo Carlos e Eugénio Laborinho.
Também é bem verdade que as denúncias feitas pelo ministro de Estado e chefe da Casa de Segurança do PR, General Francisco Furtado, criaram um clima de suspeição em torno de instituições como a Polícia Nacional, e abriram uma fenda na guerra surda entre este e Eugénio Laborinho. Hoje, Laborinho ainda resiste e em modo de: um contra todos e todos contra um.