No despacho presidencial de Julho de 2017 lê-se que o capital social da INFRASAT é constituído por 40% da empresa pública Angola Telecom e os restantes 60% foram alienados a favor de três sociedades anónimas: a GAFP-Investimentos e Participações, que detém 30%, a Lello (20%), e a MACGRA-Importação e Exportação (5%), ficando os restantes 5% para os funcionários.
No mesmo despacho presidencial assinado pelo então Presidente da República ainda é referido "o lançamento em órbitra e entrada em serviço do ANGOSAT-1", previsto para o final desse ano. Mas a história do primeiro satélite angolano está cheio de reveses: o primeiro foi logo a 26 de Dezembro de 2017, quando a indústria espacial russa lançou, desde o cosmódromo de Baikonur, no Cazaquistão, o Angosat-1 para o espaço, tendo este, depois de colocado em órbita, sofrido uma avaria irreparável, sendo dado como "morto" em Fevereiro de 2018.
O contrato, que valia 121 milhões de dólares, estava salvaguardado pelo seguro e obrigava os russos da Rosoboronexport, empresa estatal responsável pelas exportações militares russas, que contratou à igualmente russa RSC Energia, empresa que lidera o consórcio responsável pela construção do engenho, a fornecerem um novo satélite sem custos adicionais para a parte angolana, mas o Governo angolano decidiu, a conselho dos fabricantes, aproveitar o falhanço do Angosat-1 para melhorar o segundo satélite, o que terá implicado o desembolso de mais uns milhões de dólares.
Em 2019, segundo o ministro das Telecomunicações e Tecnologias da Informação de então, José Carvalho da Rocha, estava previsto o Angosat-2 custar 320 milhões de dólares e ser posto em órbita em 2021, mas entretanto, no final de 2020, o director geral do Gabinete de Gestão do Programa Espacial Nacional, Zolana João, avançou que o lançamento do Angosat-2 estava previsto apenas para o primeiro semestre de 2022.
Segundo a última actualização das informações, o País vai colocar o satélite geoestacionário angolano de telecomunicações no primeiro semestre de 2022, segundo revelou o actual ministro das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social, Manuel Homem, à agência russa de notícias RIA Novosti.
Mas voltemos ao despacho assinado por José Eduardo dos Santos uns meses antes do primeiro falhanço do Angosat-1: O ainda Chefe de Estado, que esteve no poder mais dois meses, autorizou a transferência do património da Angola Telecom para a INFRASAT, designadamente terrenos, edifícios e equipamentos.
Foram ainda transferidos para o património da INFRASAT, através do mesmo documento assinado por José Eduardo dos Santos, as viaturas, equipamentos de telecomunicações e de energia, equipamentos móveis de telecomunicações, equipamento de escritório, entre outro património.
Na consulta do Novo Jornal aos documentos foi igualmente constatado que a GAFP, constituída em Janeiro de 2016 com um capital social de 3 milhões de kwanzas (cerca de 5.000 dólares), tem como objecto social desde a gestão de negócios, investimentos e participações societárias à exploração e prestação de serviços relacionados à agricultura, indústria pecuária, pesca, produção de sal, salga, construção civil e obras públicas, passando pela gestão de infra-estruturas, a saúde, a educação, a gestão de infra-estruturas portuárias e aeroportuárias, as telecomunicações, a electricidade, água e gás, entre outros.
Sobre os sócios, nada se sabe, a não ser que são detentores de um total de 4.000 acções com o valor nominal de 750,00 kwanzas.
A Lello sofreu alterações em Julho de 2017, no mesmo mês em que foi publicado o despacho assinado por José Eduardo dos Santos.
Segundo se pode ler no documento consultado pelo Novo Jornal, no dia 9 de Julho de 2017, Rui Manuel dos Santos, natural do Amboim, Kwanza-Sul, residente habitualmente em Luanda, apresentou-se na conservatória para, na qualidade de Presidente do Conselho de Administração, em nome e em representação da sociedade Lello, S.A., com sede na Rua Rainha Ginga, n.º 15, para aumentar o capital social para 50 milhões de kwanzas, distribuídos por 10 mil acções do valor nominal de 5.000 kz cada uma, com o objectivo de dar maior desenvoltura aos negócios sociais.
Rui Manuel dos Santos é o empresário fundador e detentor da SISTEC, empresa angolana que actua nos segmentos de tecnologia, telecomunicações.
Já no site oficial da empresa, criado registado Março de 2019, lê-se uma mensagem dos anteriores proprietários da Lello, a velha e icónica livraria cujo edifício se encontra abandonado e em elevado grau de degradação, na baixa de Luanda: "Devido a um conjunto de factores os accionistas fundadores e seus herdeiros não conseguiram ultrapassar algumas dificuldades que deram origem a um status quo - NULO crescimento da empresa que foi abandonando as suas praças e área de negócio, a empresa aceitou uma proposta de venda do seu capital a um investidor Angolano, Sr Rui Manuel Dos Santos, bastante conhecido no mercado Angolano onde predomina que foi, em Julho de 1981, o criador da primeira empresa privada após a independência numa época da então denominada 'Economia Socialista Planificada' e num momento em que as iniciativas privadas não eram bem vistas no geral".
A outra empresa, MACGRA, detentora dos 5%, foi constituída em 1997, com capital inicial de mil Kz, dividido por cinco accionistas: Afonso de Sousa Mbiavanga, Maria Mambo Café, Maria Nsenga da Costa, António Manuel Graça e Lúcia Adelaide Simão. Em 2007 entraram novos sócios, mantendo-se apenas a antiga dirigente do MPLA, já falecida, Maria Mambo Café, como accionista principal, mas representada por Zacarias Mendes Café Sebastião António, familiar da falecida. O capital social da empresa passou para os 40 milhões de kwanzas com a entrada dos novos sócios cujos nomes não constam na escritura pública.
No despacho presidencial agora publicado (205/21), e já com a chancela de João Lourenço, são entregues 10,8 milhões de euros à INFRASAT, quando está previsto que no primeiro semestre de 2022 o Angosat-2 seja lançado no espaço, através de um procedimento de contratação simplificada justificado com "a necessidade de assegurar que a República de Angola tenha uma rede de comunicações por transmissão de TV por Satélite que abarque todo o território nacional, garantindo a disponibilidade de serviços de comunicação ao acesso dos cidadãos a uma informação mais plural, rigorosa, isenta e credível".
No documento lê-se que "o País regista um défice efectivo de cobertura de sinal de televisão, encontrando-se vários aglomerados populacionais sem acesso ao sinal de televisão e, por conta disso, sem acesso à informação e conhecimento da realidade nacional e internacional".
Vale ainda referir que em Abril de 2021, como avançou o Novo Jornal, o Presidente da República deu o aval à realização de despesa e formalização da abertura de um procedimento de contratação com carácter de urgência para a instalação de uma antena terrestre para o Angosat-2.
Esse despacho presidencial, que não avança os custos relacionados com a aquisição desta antena gateway da Banda KA, que é suposto "rentabilizar as capacidades previstas no Angosat após o seu lançamento", são delegadas competências no ministro das Telecomunicações,Tecnologias de Informação e Comunicação Social para aprovação de todos os actos praticados no âmbito do contrato.