Depois de noticiar que a Fundação Eduardo dos Santos recebeu cerca de 10 milhões de euros pelo projecto de construção do mercado abastecedor de Luanda, o diário espanhol El Mundo volta a revelar mais um capítulo da "Operação Trajano", que investiga a empresa Mercasa por suspeitas de corrupção nesse negócio.
"A empresa pública espanhola Mercasa subornou o vice-ministro dos Comércio de Angola com caixas de bolachas cheias de notas para conseguir um grande mercado na capital, Luanda", titula o El Mundo, que cita uma denúncia apresentada por Armando Andrade, funcionário da Mercasa, referente a informações recolhidas há sete anos.
Segundo escreve o jornal, esse trabalhador foi enviado para Luanda, em 2010, para investigar suspeitas de irregularidades sobre a empreitada, tendo concluído que o actual presidente da 6.ª comissão da Assembleia Nacional foi gratificado no âmbito desse processo.
O funcionário garante que os subornos existiram e que o poder angolano tinha conhecimento dos mesmos.
"Conhecem o episódio dos USD entregues em Luanda e logo enviados para Lisboa, as caixas de bolachas cheias de notas entregues a Cruz Neto na bagageira do seu carro, os móveis da sua casa, as prendas, etc", escreveu Armando Andrade, numa carta enviada a Álvaro Curiel, presidente do consórcio que a empresa pública tinha estabelecido com duas empresas espanholas.
Curiel, escreve o El Mundo, mandatou Armando Andrade para vigiar o intermediário no negócio, Guilherme Taveira Pinto, que trabalhava em Angola para a empresa espanhola há mais de uma década.
De acordo com a investigação, Taveira Pinto, que tem dupla nacionalidade - angolana e portuguesa - recorria ao suborno para obter contratos no país e realizava cobranças indevidas à Mercasa.
As actividades do luso-angolano colocaram-no na mira da justiça espanhola que tem um mandado de captura emitido em seu nome no âmbito da investigação à empresa Defex, decorrente de um negócio de venda de armas à Polícia de Luanda.
No caso da construção do mercado abastecedor de Luanda - que começou com orçamento de 219 milhões de euros e disparou para os 533 milhões -, a justiça espanhola acredita que o projecto nunca foi mais do que uma fraude, para cobrança de comissões avultadas.