Em comunicado divulgado hoje, a Indra, empresa que já esteve presente em várias eleições em Angola, e com um vasto currículo de fornecimento de soluções tecnológicas e logística eleitoral em vários continentes, mas com processos complicados relacionados com a lisura eleitoral em África e na América Latina, garante que foi seleccionada por ter cumprido todos os requisitos exigidos pela CNE e em concorrência com outras empresas do ramo.

Citado pelo JA, o comunicado da empresa, onde esta diz que "garante o cumprimento dos requisitos de transparência e de segurança exigidos por lei, o que implica a redundância dos sistemas de computação, transmissão, processamento e divulgação de resultados, entre muitos outros serviços", é uma resposta clara às acusações recentes da UNITA, como pode reler nesta notícias do Novo Jornal, onde o maior partido da oposição lança graves suspeitas sobre o seu desempenho no passado que teme vir a repetir-se em Agosto próximo.

Em sua defesa, a empresa diz que nunca lhe foi "movido qualquer processo judicial em nenhum dos países onde tem trabalhado em processos eleitorais. E, consequentemente, nunca foi condenada", embora tenha sido, segundo o jornal El Confidencial, multada em Espanha, no decurso de uma investigação, pelo pagamento de comissões ilegais de quase 3 milhões USD durante as presidenciais angolanas de 2012.

Face a este registo, a UNITA, que igualmente levantou suspeitas sobre o seu comportamento em eleições passadas, e ainda antes de ser conhecido oficialmente que a sua contratação estava decidida, veio , na passada semana, a público mostrar-se "extremamente preocupada" com a contratação da empresa espanhola para organizar a logística para as eleições gerais que terão lugar no mês de Agosto deste ano por causa das suspeitas que existem quanto à lisura da sua actuação.

"Porquê contratar uma empresa conotada com organização de fraudes eleitorais em África e América Latina? Porquê contratar uma empresa amiga das ditaduras no mundo", questionou o líder parlamentar do partido do "Galo Negro", Liberty Chiaca, durante uma conferência de imprensa sobre a transparência, a verdade eleitoral e a estabilidade política no País.

A Indra é vista pela oposição angolana como estando na génese das repetidas fraudes eleitorais no País. E, segundo o jornal El Confidencial, apesar de recusar culpa, foi multada em Espanha, no decurso de uma investigação pelo pagamento de comissões ilegais de quase 3 milhões USD, durante as presidenciais angolanas de 2012.

Também e resposta a esta polémica contratação, a CNE veio a pública repudiar as acusações, tendo o seu porta-voz da CNE, Lucas Quilundo, em conferência de imprensa, explicado que apenas duas empresas apresentaram propostas e que uma delas, a SmartMatic, foi excluída por violação das regras do concurso, tendo sobrado apenas a Indra, a quem foi, por isso, entregue o contrato.

Lucas Quilundo, sobre as acusações e suspeitas que pendem sobre a Indra, apressou-se a sublinhar que a CNE é alheia a essas questões e nada têm a ver com o concurso que é da responsabilidade da Comissão, acrescentando que esta não tem qualquer conhecimento de impedimentos legais para esta empresa ser escolhida.

A CNE não tem interesse que o processo seja ensombrado de qualquer maneira, sublinhou o responsável, mas adiantou que os factos são os factos. Estes: "A CNE lança um concurso e apresentam-se dois concorrentes, um é eliminado, é assim em qualquer competição, ainda que tivesse havido mais concorrentes só um sobraria e prevaleceu a Indra".

Citado pela Lusa, disse ainda que "não compete à CNE fazer avaliações subjectivas em relação aos concorrentes (...) é do interesse que o processo eleitoral decorra com a máxima lisura e é isso que a CNE está a fazer, é esse o compromisso que tem".

A Indra

A Indra está definida oficialmente como uma empresa de tecnologias de informação e sistemas de defesa.

Esta empresa espanhola, que está colocada em bolsa, em Madrid, fazendo parte do Ibex 35, está organizada em três pilares essenciais, tecnologias de informação, simulação e testagem automática de equipamentos e equipamento electrónico de defesa.

A larga abrangência da sua actuação vai do controlo de tráfico aéreo, simuladores de aviões, sistemas de saúde, sistemas de energia, à defesa e à tecnologia eleitoral e organização de processos eleitorais.

Na sua página oficial, apresenta-se assim: "A Indra é uma das empresas líderes mundiais em tecnologia e consultoria e o parceiro tecnológico para as operações chave dos negócios dos seus clientes em todo o mundo. É líder mundial no fornecimento de soluções proprietárias em segmentos específicos dos mercados de Transporte e Defesa, e a empresa líder em transformação digital e consultoria em Tecnologia da Informação na Espanha e América Latina através da sua subsidiária Minsait. O seu modelo de negócio baseia-se numa oferta abrangente de produtos proprietários, com uma abordagem end-to-end, de alto valor e com um elevado componente de inovação. Em 2020, a Indra teve uma receita de 3.043 milhões de euros, 48.000 empregados, presença local em 46 países e operações comerciais em mais de 140 países."