O Novo Jornal apurou, junto de várias empresas de maior dimensão, mais organizadas, que a opção para antecipar o pagamento de salários aos seus trabalhadores resulta da análises a vários cenários possíveis num ambiente pós-eleitoral, que vão desde a prevenção para problemas nos sistemas dos bancos que podem surgir de uma eventual corrida aos levantamentos em Multicaixa, até à possibilidade de ocorrência de tensão nas ruas face à iminência da divulgação dos resultados.

Enquanto o Ministério da Educação, por exemplo, já procedeu, pelo menos em parte, ao pagamento dos salários do seu "pessoal" nesta segunda-feira, esperando-se que o mesmo ocorra noutras áreas do funcionalismo público, algumas multinacionais vão fazê-lo até dia 19, sexta-feira, sendo a razão principal permitir que o seu pessoal gira de forma mais tranquila este momento pré e pós-eleitoral.

A conduzir as administrações das empresas que estão a optar por esta medida preventiva estão os muitos rumores que há semanas correm de que podem surgir episódios de violência pós-eleitoral, alimentados, por exemplo, pela divulgação de medidas administrativas de alguns condomínios de luxo de reforço da segurança e de limitação no acesso a estes espaços por "estranhos".

Como o Novo Jornal noticiou, a administração do Condomínio Jardim de Rosas, no município de Belas, em Luanda, divulgou uma nota interna a anunciar o reforço das medidas de segurança e redução das actividades normais do espaço habitacional de luxo para precaver quaisquer episódios inesperados após as eleições de 24 de Agosto.

Os responsáveis pela gestão do condomínio vão, a partir do dia 15, reduzir a entrada de funcionários, paralisar as obras, limitar as visitas aos moradores e as realizações de eventos festivos. Vai também reforçar os efectivos de segurança para garantir a protecção dos moradores durante o período eleitoral, soube o Novo Jornal.

A juntar a estas medidas, onde o Jardim de Rosas não foi o único a "tomar medidas preventivas", da África do Sul chegou um relatório assinado pelo ISS Africa, um instituto focado na análise de riscos de segurança, prevenção e treinamento para acção em casos de convulsões sociais, o maior deste género, privado, em África, que alerta para a possibilidade de ocorrência de violência pós-eleitoral em Angola.

Como avança a Lusa, o Instituto de Estudos de Segurança (ISS, na sigla em inglês), da África do Sul, defende que "a mediação será necessária para evitar um provável conflito violento pós-eleitoral" e considera dois cenários no pós-votação: a recusa de aceitação dos resultados pela UNITA em caso de vitória do MPLA e a recusa de deixar o poder por facções mais radicais do MPLA em caso de vitória da UNITA.

Mas, por exemplo, analistas como Ntoni-a-Nzinga, reverendo ligado à Igreja Evangélica Baptista de Angola (IEBA), e Luís Jimbo, director executivo do Instituto Angolano de Sistemas Eleitorais (IASED), realçam o comportamento cívico exemplar mantido pelas populações ao longo desta campanha eleitoral e sublinham, como se pode ler aqui, ouvidos pelo Novo Jornal, que, até agora "não se verificou qualquer incidente provocado por motivações político-partidárias".

Apesar das críticas, também os lideres dos maiores partidos em disputa pela vitória eleitoral, João Lourenço, do MPLA, e Adalberto Costa Júnior, da UNITA, têm apostado na defesa de um comportamento cívico adequado, tendo o líder do MPLA, que ainda é o Presidente da República, lançado um veemente apelo para que todos os concorrentes aceitem os resultados que forem divulgados pela CNE de forma a manter a solidez do Estado de Direito Democrático que se está a erguer em Angola.

No entanto, as igualmente veementes acusações de preparação de fraude pela instituições do Estado, desde logo a Marcy Lopes, ministro da Administração do Território, pela forma como organizou o processo eleitoral mantendo "milhões de mortos" nos cadernos eleitorais, à CNE, por não publicar esses mesmos cadernos eleitorais e aos media do Estado pela forma parcial como estão a cobrir esta campanha, beneficiando o partido no poder, admitem que possa surgir alguma tensão pós-eleitoral de difícil contenção, especialmente depois do apelo repetido à exaustão para que os militantes da UNITA votem e se sentem a 500 metros das urnas para "defenderem o seu voto", o que as autoridades policiais já disseram que vão reprimir por ser ilegal.

Já hoje, a CNE lançou um alerta sobre o potencial de gerar atritos da iniciativa da UNITA de apelar a que os eleitores votem e se sentem nas imediações das medas de voto, com um sugestivo slogan "Votou, sentou".

Lucas Quilundo, porta-voz da CNE disse que esta acção tem potencial para "gerar atrito", sugerindo que os eleitores, de todos os partidos, deixem o local de voto e se encaminhem para casa após votarem aguardando a divulgação oficial dos resultados.

Em declarações à Lusa, Quilundo lembra que "a lei diz que os eleitores depois de exercem o seu direito de voto devem regressar às suas casas. Não é assim que se faz em todo o lado? As pessoas votam e abandonam o local, não ficam por ali", sublinhando que a ideia transmitida pelo slogan "votou, sentou" não é bom para o ambiente eleitoral.

"Tem um potencial gerador de atrito e é por isso que a CNE desencoraja os eleitores a aderirem a esse apelo", disse.

Estão autorizados a concorrer às eleições gerais de 24 de Agosto os partidos MPLA, UNITA, PRS, FNLA, APN, PHA e P-NJANGO e a coligação CASA-CE.Do total de 14,399 milhões de eleitores esperados nas urnas, 22.560 são da diáspora, distribuídos por 25 cidades de 12 países de África, Europa e América.

A votação no exterior terá lugar em países como a África do Sul (Pretória, Cidade do Cabo e Joanesburgo), a Namíbia (Windhoek, Oshakati e Rundu) e a República Democrática do Congo (Kinshasa, Lubumbashi e Matadi).

Ainda no continente africano, poderão votar os angolanos residentes no Congo (Brazzaville, Dolisie e Ponta Negra) e na Zâmbia (Lusaka, Mongu, Solwezi).

A Comissão Nacional Eleitoral criou 13.238 assembleias de voto, constituídas por 26.443 mesas, no território nacional, enquanto que para a votação dos eleitores inscritos no estrangeiro foram criadas 26 assembleias de voto com 45 mesas de voto. Para este total de mesas de voto foram recrutados 105.952 membros.