Durante a cerimónia de apresentação da Frente Patriótica Unida (FPU), a alternância no poder em Angola foi colocada como o primeiro objectivo desta iniciativa política, que promete o princípio da continuidade do Estado como o húmus da sua acção.
A FPU, segundo o texto introdutório lido no aranque cerimónia, promete constituir-se como uma força para vencer as eleições gerais de 2022.
Tal como o Novo Jornal tinha avançado aqui, o líder do maior partido da oposição, a UNITA, encabeçará a lista e, concomitantemente, será o candidato a Presidente da República, com Abel Chivukuvuku em número dois e, assim, candidato pela Frente a vice-Presidente da República.
Filomeno Vieira Lopes, o primeiro dos três líderes a discursar, passou em revista os múltiplos constrangimentos que encontra na democracia angolana, sublinhando o problema da "atípica Constituição" que permite a perseguição aos líderes da oposição, satisfazendo os interesses do partido que sustenta o Governo, o MPLA, afastando os cidadãos da luta legítima pelos seus direitos.
A vontade do partido do poder é imposta como acto consumado que não pode ser contestada sob pena de "repressão impiedosa dos órgãos de repressão do Estado", lamentou.
"Há uma ausência clara de igualdade dos cidadãos", disse Vieira Lopes, acrescentando ainda que a forma de funcionamento dos media do Estado distorcem e impedem a funcionalidade da democracia angolana.
"A elite do MPLA tem escrito na sua base genética o assalto desenfreado aos bens públicos e o abandono total dos cidadãos à sua sorte, incapacidade crónica de concluir qualquer projecto de desenvolvimento nacional", descreveu.
Em quase meio século de governação não há esperança de qualquer mudança relevante no futuro do país, apontou ainda Filomeno Vieira Lopes, que considera que Angola vive um problema civilizacional, é um país em completo retrocesso civilizacional.
Face a isto, a única resposta possível é de "carácter global", sendo esta Frente a resposta mais eficaz para mudar este cenário, considera ainda o líder do Bloco Democrático.
"A democracia conta cabeças, não corta cabeças", disse, acrescentando, num recado ao MPLA, que a oposição é parte integrante da democracia e nela conta com direitos garantidos, não sendo, por isso, um problema estar na oposição, sublinhando que o mais importante é acabar com a fome e a miséria no País, dizendo que é para isso que o Bloco está nesta Frente.
Abel Chivukuvuku subiu ao púlpito, apenas por segundos, sublinhando e saudando a "coragem e a visão" por detrás deste projecto político demonstrada pelos parceiros que integram a FPU.
Disse também, numa curtíssima intervenção, que o que está subjacente a esta parceria é a construção de uma alternância política para 2022 em Angola.
Adalberto Costa Júnior
Adalberto Costa Júnior começou por apontar baterias à urgência de construir uma plataforma de esperança que possa criar condições para que a todos realize as suas aspirações.
Este é um acto mais que simbólico, demonstrando que é possível diferentes entidades trabalharem juntos para fazer frente à realidade difícil em que vivem a maior parte dos angolanos.
"É possível trabalharmos todos juntos e responder à vontade do soberano que é o povoe que tem pedido que nos juntemos para este objectivo".
Enfatizou a "coragem" de Abel e de Filomeno ao entrarem nesta plataforma politica-eleitoral, denominando a FPU um "estuário" onde há espaço para todos aqueles que queiram contribuir para mudar Angola.
Sublinhou que o interesse pessoal e partidário estão aquém do que é fundamental para a Pátria que reclama por uma alternância, que é um imperativo nacional.
Apontou como problemas a resolver de imediato o desespero da população angolana.
A alternância que a Frente propõe valoriza a instituição militar que não deve obediência a nenhum partido político, que vai libertar a Justiça das grilhetas partidárias, combater a fome e a pobreza extrema.
Disse ser possível nunca mais repetir as más lições da história
"A alternância que queremos exclui a vingança, serve para libertar a sociedade e construir uma angola democrática e melhor para todos", disse o presidente da UNITA e agora líder desta Frente ad hoc.
"Juntos podemos salvar a Pátria comum", sublinhou.
O modelo adoptado para dar corpo a esta plataforma visou passar o bloqueio do Tribunal Constitucional como seria o caso de uma coligação formal eleitoral, optando por uma plataforma ad hoc, recorrendo a uma força política já consolidada, a UNITA, que não se confrontará com esses eventuais problemas, como, por exemplo, sucedeu com o projecto PRA-JA Servir Angola.
Pediu o fim da censura nos media estatais e disse que todos são fundamentais para transformar angola, sublinhando que a mudança é "já uma certeza".
"Angla carece de um pacto de transição que acautele o período campanha eleitoral e pós eleitoral, que deve ser vivido em paz e com respeito pela democracia", disse.
Adalberto Costa Júnior passou em flashback a generalidade das questões que têm feito o grosso das reivindicações da oposição angolana, desde logo a exigência de garantias de lisura eleitoral, a libertação da Justiça das amarras partidárias e uma CNE à altura dos desafios que o País tem pela frente quando se impõe a construção de uma democracia eficaz e consolidada.