A notícia do bloqueio das contas da filha do ex-Presidente da República acontece um dia depois de o grupo espanhol Abanca ter chegado a acordo para adquirir 95% do EuroBic, detido em 42,5% por Isabel dos Santos, que está de saída da sua estrutura accionista.

"O acordo de compra do EuroBic está sujeito, como acontece neste tipo de operações, a um processo de due dilligence (uma auditoria aprofundada à instituição) e às autorizações das autoridades regulatórias", indicava o comunicado que o banco enviou às redacções.

A televisão pública portuguesa (RTP) dá conta, no entanto, de que as contas de Isabel dos Santos começaram a ser congeladas na semana passada.

De lembrar que o Procurador Geral da República, Pitta Grós, se reuniu, em Lisboa, com a sua homóloga portuguesa, a magistrada Lucília Gago, no dia 23 de Janeiro.

E de lembrar também que enquanto Pitta Grós estava reunido com Lucília Gago, Isabel dos Santos aproveitava para, numa visita relâmpago à capital portuguesa, conceder "plenos poderes" a representantes legais, deixando o país ainda antes da reunião acabar.

A imprensa portuguesa avançava que a empresária rumou nesse mesmo dia ao Reino Unido, num vôo da TAP, precisamente à mesma hora em que decorria o encontro entre Lucília Gago e Pitta Grós.

Isabel dos Santos, que ainda não reagiu a estas notícias sobre o congelamento das suas contas bancárias em Portugal, anunciou, no seu último comunicado, emitido a 27 de Janeiro, onde volta a refutar as "alegações infundadas e falsas afirmações" divulgadas no dossier "Luanda Leaks", que vai avançar com acções em tribunal contra o Consórcio Internacional de Jornalismo de Investigação (ICIJ), a serem conduzidas pela empresa internacional de advogados Schillings Partners.

O "Luanda Leaks", uma investigação que expõe o percurso da filha do ex-Presidente e a forma como se tornou a mulher mais rica de África, decorreu ao longo dos últimos oito meses e foi feita a partir do acesso a mais de 700 mil ficheiros (O hacker Rui Pinto veio a público assumir a responsabilidade pela divulgação dos milhares de documentos que deram origem ao caso Luanda Leaks) entre os quais extractos bancários da Sonangol e registos de transferências do Eurobic, um banco de que Isabel dos Santos era accionista e que foi utilizado para as transferências.

De acordo com o ICIJ, a empresária Isabel dos Santos terá canalizado centenas de milhões de dólares de dinheiros públicos para um labirinto de empresas, alegadamente "com a ajuda de uma rede de entidades financeiras, advogados, contabilistas e governantes, de Lisboa a Londres, de Valeta ao Dubai.

Em Janeiro, Isabel dos Santos foi formalmente constituída arguida em Angola por alegada má gestão e desvio de fundos durante o período em que presidiu ao Conselho de Administração da Sonangol.

Branqueamento de capitais, falsificação de documentos, abuso de poder e tráfico de influências são alguns dos crimes que podem estar em causa, e, a par da empresária foram também constituídos arguidos os portugueses Mário Leite da Silva, gestor de Isabel dos Santos e o ex-presidente do Conselho de Administração do Banco de Fomento de Angola, , Sarju Raikundalia, ex-administrador financeiro da Sonangol, Paula Oliveira, amiga de Isabel dos Santos e administradora da NOS, que deixou igualmente o cargo, Nuno Ribeiro da Cunha, director do private banking do EuroBic em Lisboa, que foi encontrado morto na sua casa em Lisboa, sendo as causas o suicídio, como mostram as evidências, segundo as autoridades, numa primeira abordagem.

Entretanto, a Efacec, uma das empresas portuguesas em que Isabel dos Santos ainda tem participação, já veio esclarecer que não tem as contas congeladas e que "está a operar a todos os níveis", sublinhando que a sociedade e os seus accionistas "são entidades distintas".