Há um suspense sobre a definição, no Tribunal Constitucional (TC), de muitos dossiês de possíveis concorrentes às eleições gerais, entre os quais o da longa batalha para inscrição do PRA-JA. Olhando para este dilema, fundamentalmente para os «chumbos» à formação do experiente Abel Chivukuvuku, acha que o Esperança, de que é mentor, conseguirá a legalização a tempo de participar nas eleições deste ano?

É uma questão bastante pertinente. Nós somos Esperança, esperança é isso, é acreditar. Acreditamos que vamos ser devidamente legalizados, porque entendemos que, primeiro, vamos cumprir com tudo o que a lei diz e temos estado a cumprir. Nós precisamos de abraçar os caminhos da reconciliação e não da dominação, precisamos de buscar os consensos e os desequilíbrios, e penso que o poder, as instituições e o Tribunal Constitucional devem ter esse sentido de tolerância no jogo político, sobretudo porque precisamos de manter a estabilidade. Não acredito que seja boa opção o tribunal fechar tudo e todos. Tem de haver sempre uma porta aberta, e, seguramente, quer nós, quer outros que estão no TC deverão merecer essa sorte da legalização. Nós não queremos, enquanto Esperança, ingressar no exército de comissões instaladoras ou partidos contestatários contra o Tribunal Constitucional. Nós vamos manter a confiança e acreditar no Tribunal Constitucional, e o Esperança tem de ser visto não só como mais um partido político que nasce, mas também como a apresentação de uma nova geração política, que também contribui para o bem deste País.

Não obstante contar ainda com uma Comissão Instaladora, como é que está o Esperança em termos de representação pelo País?

Nós temos estado à altura dos acontecimentos, já evoluímos muito, deixámos de ser uma Comissão Instaladora. Do ponto de vista material, já somos uma máquina político-eleitoral. Criámos todas as estruturas no que concerne a uma máquina político-eleitoral, que é, sobretudo, a implantação do projecto político a nível nacional, a nível das províncias, dos municípios e, também, dos distritos. Nessa altura, já criámos a nossa equipa de marketing eleitoral para a campanha. Uma coisa é o marketing para o partido e outra é o marketing para o período eleitoral. Vamos agora lançar a campanha Esperança 2022, conquistar e competir. Somos estrutura do topo, suportada com várias estruturas de base, que fazem do Esperança um projecto ou partido muito forte, capaz de acreditar em bons resultados eleitorais. Percebemos que o Esperança tem sido dos partidos que mais crescem no nosso mosaico político nacional.

Em que indicadores se basearam para chegar a esta conclusão?

Se formos às redes sociais e à imprensa, o Esperança é o partido que mais aparece, que mais expressão tem, que mais ideias apresenta, a par, obviamente, do MPLA e da UNITA. É o partido que mais organiza actividades, estando atrás do MPLA e da UNITA, também porque as condições desses dois permitem estar um pouco mais avançados. Mas nós temos capacidades de fazer frente a esses dois partidos, já nessas eleições de 2022.

Referiu-se à sorte quando falava da expectativa em ver legalizado o Esperança. A legalização no TC é questão de sorte?

Não necessariamente, porque é preciso reconhecer o esforço dessa juventude, que está bastante empenhada, que gasta muito dinheiro, muito tempo, muito intelecto para ter um País diferente. Estamos a cumprir a lei e vamos cumpri-la, e penso que, conjugado com outros factores fundamentais, nós teremos, sim, o partido Esperança legalizado.

Que outros «factores fundamentais» são estes?

Há aqui um empenho que nos permite acreditar que é possível sermos legalizados, mas eu não quero acreditar que o tribunal há-de fechar tudo e todos. Bom, cada caso é um caso. Não estudei, ao pormenor, o que aconteceu aos outros. Lamento bastante. Eu sou um democrata por excelência, aliás, condenei fortemente o impedimento de outras comissões instaladoras de se fundamentarem em partidos. Mas, no Direito, cada caso é um caso, nenhum caso é julgado da mesma forma que os outros.

Uma pergunta retórica: o Esperança nasce de um desespero?

O Esperança é entendido como uma forma de fazer voltar os angolanos a acreditar no País.

Há descrença no País?

Não diria uma descrença como tal. Há uma falta de confiança. As pessoas deixaram de acreditar no País. A Independência era para devolver a dignidade ao angolano, era para projectar o futuro de Angola nos marcos do desenvolvimento sustentável, mas, infelizmente, os protagonistas da altura mergulharam o País numa guerra que criou consequências incalculáveis até aos dias de hoje, e, fruto de outras situações políticas, as pessoas acreditam menos no País. Por isso é que se justifica também essa fuga de quadros, essa vontade de as pessoas emigrarem. Angola precisa de uma esperança para acreditar, e essa esperança somos nós, a nossa geração, que traz ideias e soluções muito convincentes para os grandes desafios do País. Portanto, os partidos que lutaram para/pela Independência são que nem Moisés, que tiveram a missão apenas de libertar o País do jugo colonial, mas não conseguiram levá-lo para a prosperidade. Nós é que temos de fazer o País prosperar, porque somos os Josués da nova era.

De quanto tempo precisou para estruturar o projecto e apresentá-lo ao TC?

Começámos no início do ano [de 2021]. Temos um grupo de jovens bastante competentes, jovens valentes dessa Angola, com ideias muito puras, académicos, professores, juristas.

Os jovens de que fala têm, na sua maioria, históricos de ligação partidária?

Não. São pessoas que nunca tiveram ligações político-partidárias. Antes de avançarmos com todo esse processo, chamámos especialistas de várias ordens: economistas, sociólogos, psicólogos, juristas e camponeses, que apresentaram um conjunto de contribuições e, depois, fomos ganhando consciência no agir. O agir é que nos levou até Junho do ano passado, altura em que apresentámos a Comissão Instaladora, num acto que foi bastante concorrido. O Esperança, para essas eleições de 2022, é a novidade, a promessa, a escolha e também a confiança. As nossas convicções resultam de estudos. Basta perceber que, enquanto Comissão Instaladora - aliás, não sei se há uma outra comissão instaladora com a nossa capacidade de transformação -, já evoluímos para um centro de estudo, análise e de formação política, onde temos especialistas de várias ordens, que têm estado a fazer estudos de mercado. Eu, na política, não me movo sem ter o mínimo de ciência para analisar os factos. Tudo que lhe vou dizer é baseado em estudos. Eu digo, seguramente, que o Esperança, nas eleições de 2022, será a terceira maior força política. Todos os sinais, todos os resultados de estudos apontam para isso.

Estamos a falar de um projecto com quantos membros?

Não consigo calcular. Como disse, nós estamos a transformar-nos numa máquina político-eleitoral, que pressupõe descer às bases, como os núcleos a nível dos municípios e dos distritos.

Não tem noção de uma estimativa do número de membros do seu projecto político?

Não tenho noção de um número como tal, porque fizemos aqui duas coisas fundamentais: separar a estrutura da Comissão Instaladora da estrutura da máquina eleitoral. Depois, aplicámos um princípio: a nós não interessa, nessa altura, mobilizar militantes; a nós interessa mobilizar votos, que são coisas muito diferentes. Eu não vou a tempo de fazer campanha de mobilização de novos membros. É verdade que as pessoas estão a inscrever-se, estão a vir. Eu não tenho dificuldades em fazer comício.

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