João Lourenço, neste seu discurso perante o maior fórum mundial, adiantou estar cada vez mais convencido da existência de "uma mão invisível" interessada na desestabilização do continente africano.

Por detrás dessa "mão invisível" está apenas alguém "preocupado com a expansão de sua esfera de influência, que sabemos não trazer as garantias necessárias para o desenvolvimento económico e social dos países africanos", referiu o Chefe do Estado.

Lembrou que até há relativamente pouco tempo, a região do Sahel era assolada apenas pela acção de grupos terroristas reforçados por mercenários a soldo, que tendo encontrado um vazio de poder na Líbia, ali se instalaram e se expandiram para os países vizinhos.

"A acrescer a esta situação de si já perigosa, eis que mais ou menos na mesma região surgiu uma onda de mudanças inconstitucionais do poder protagonizadas por militares", lamentou.

Defendeu que o mundo não se pode esquecer do sofrimento do povo palestino e, muito menos, ignorar a necessidade da resolução do conflito no Médio Oriente, com destaque para o israelo-palestino, cuja fórmula de dois Estados a conviver lado a lado de forma pacífica, já foi encontrada pelas Nações Unidas há anos sem que tivesse alguma evolução, carecendo apenas de ser implementada.

"A comunidade internacional corre o risco de ser acusada de estar a dar tratamento diferente, privilegiado ao conflito na Europa em detrimento de outros, por estarem no Médio Oriente ou em África onde o do Sudão é tão mortífero e destruidor quanto o da Ucrânia, mas que merece menos cobertura dos média internacionais e menor atenção dos grandes centros de decisão sobre a paz e segurança mundial", apontou.

O Presidente de Angola reiterou a defesa da atribuição a África de assentos como membros permanentes no Conselho de Segurança, com todos os privilégios inerentes à categoria.

Neste domínio, no que diz respeito ao continente africano, segundo João Lourenço, "defendeu o consenso de Ezulwini e a Declaração de Sirte, que estabelecem a necessidade de atribuição a África de assentos como membros permanentes no Conselho de Segurança, com todos os privilégios inerentes à categoria".

Na sua opinião, as Nações Unidas vêm lidando ao longo de décadas com uma série de situações a respeito das quais tem sido adoptado um conjunto de resoluções que são simplesmente ignoradas e desrespeitadas, sem que isto produza alguma consequência para os seus protagonistas.

"Penso ser necessário reflectirmos juntos sobre a necessidade de procurarmos criar mecanismos que reforcem a autoridade da ONU, para que não a desacreditemos e nem fragilizemos o seu papel decisivo na construção de uma arquitetura de paz e segurança mundial eficaz, à qual todas as nações do mundo se devem sentir vinculadas com um forte sentido de comprometimento, independentemente do seu poderio económico e militar", sugeriu.

De acordo com João Lourenço, apesar de se terem feito grandes esforços no caminho da criação de um mundo mais pacífico e próspero, reconheceu que, passados quase 78 anos desde a fundação da organização, "não foi possível construir uma base sólida de confiança entre as Nações de modo a evitar-se o surgimento de focos de tensão aqui e ali, que degeneram em conflitos abertos em África, na Ásia, na América Latina, no Médio-Oriente e agora na Europa, onde seria pouco expectável que ressurgisse uma guerra de tão grandes proporções, como a que ocorre neste momento".

Para o Chefe de Estado angolano, "nas últimas décadas, África testemunhou transformações que galvanizaram mudanças com impacto nas gerações vindouras, porque muitos resolveram conflitos, investiram o que lhes foi possível no desenvolvimento socioeconómico e promoveram a educação dos seus cidadãos, tornando-os mais informados e dispostos a contribuir para o desenvolvimento económico e social dos respectivos países".

"As transições democráticas tornaram-se regulares e as instituições essenciais para a consolidação da democracia mais interventivas e, por isso mesmo, mais capazes de dar sustentação e solidez às conquistas democráticas alcançadas nas nossas nações", referiu sublinhando que trata-se de um registo que deve ser enaltecido.

"Contudo, a falta de perspectivas que se observam em muitos dos nossos países no plano económico e social, cria um terreno fértil para a subversão e para a fragilização das democracias recentes no nosso continente", acrescentou frisando que torna-se, por isso, urgente e imperativo que seja concedido apoio real ao desenvolvimento por via do financiamento em condições favoráveis para a construção de infra-estruturas.

Referindo-se a Angola, sublinhou que tem-se assumido como promotora do diálogo que não se limita aos espaços políticos e diplomáticos, designadamente organizações da sociedade civil, empresas e indivíduos e a juventude, verdadeira força motora das transformações que almejam para garantir o progresso das nossas nações.

"Foi imbuída deste espírito que Angola decidiu albergar o Fórum Pan-africano para a Cultura de Paz em África organizado em parceria com a União Africana e a UNESCO, cuja 3ª edição realizar-se-á em Novembro deste ano em Luanda", informou.

Salientou que Angola tem procurado contribuir com a sua experiência em termos de construção da paz, da harmonia e da reconciliação nacional, para a resolução de conflitos que assolam o continente africano, com especial enfâse para o que ocorre na RDC onde acreditam que se poderá construir uma base de confiança entre os beligerantes para abrandamento da tensão na região dos Grandes Lagos.

"Essas diligências para conter a expansão do terrorismo e outras acções de desestabilização, implicam custos financeiros que nem sempre os nossos países estão capazes de suportar e que, por isso, podem comprometer o sucesso das operações de pacificação que se levam a cabo e deitar por terra as esperanças que se alimentam à volta desses processos", concluiu João Lourenço.