O Presidente admitiu, no entanto, que este projecto, que vai abranger vários municípios, com prioridade para aqueles que "são mais populosos e os que mais têm sofrido com a seca" no Cunene, não resolve ainda o problema da seca na região sul do País.

"Para mim, este projecto representa uma vitória, embora não possamos ainda considerar que o problema está resolvido. Este projecto é apenas o início de um amplo programa que vai beneficiar as populações vítimas da seca, não só na província do Cunene como também do Namibe e da Huíla", disse o Chefe de Estado.

O objectivo é, segundo o Presidente, "minimizar o sofrimento das populações desta província do Cunene, não importando de que município seja", afirmou.

João Lourenço lembrou que a "a agricultura era incipiente", mas garantiu que, "com a abundância da água que passará a existir e com o apoio não apenas do Ministério da Agricultura, como de algumas organizações não-governamentais, vamos começar - aliás já começámos, são as informações que eu tenho - a dar formação às populações locais, aos seus filhos, de como lidar com a terra, para da terra tirarmos alimentos", sublinhou.

Para João Lourenço, com a quantidade de água agora disponível "não há razões para nos próximos anos as populações continuarem à espera de ajuda alimentar, uma vez que terão a possibilidade de eles próprios produzirem os seus alimentos, não só para auto-consumo (...) como também para colocarem no mercado, ganharem algum dinheiro para satisfazerem outro tipo de necessidades".

"Estamos a trabalhar para o desenvolvimento do País no seu todo e aqui no Cunene há projectos que estão em curso e que vão mudar a vida das populações nos próximos anos. Este é um deles, vai haver mais água, para haver desenvolvimento precisamos de ter dois bens essenciais, que são energia e água", afirmou, citado pela Lusa, destacando que estão igualmente em curso outros projectos.

"Isto é desenvolvimento, não virá tudo de uma vez, afirmou, acrescentando: "Roma e Pavia não se fizeram num dia e acreditamos que o Cunene, daqui a cinco anos, não será o Cunene que foi há cinco anos".

Segundo o Chefe de Estado, a meta é assegurar o desenvolvimento equilibrado do país e reduzir as assimetrias regionais, sublinhando que, no caso específico do Cunene, existem projectos em curso nos domínios da energia e água, bem como está em construção uma centralidade e um projecto de 200 casas, que vão ajudar a mudar a vida das populações.

Quanto à inauguração do projecto do Cafu, o Presidente angolano considerou que representa "uma vitória sobre o sofrimento das populações" e o início de um amplo programa para beneficiar as populações vítimas da seca nas províncias do Cunene, Namibe e da Huila.

Segundo João Lourenço, o sistema implantado em Ombadja vai abranger vários municípios, priorizando os mais populosos e afectados pela seca na província do Cunene.

Ainda na segunda-feira, o Presidente da República entregou, na localidade de Lyepombo, vários equipamentos agrícolas, no âmbito do programa de incentivo e desenvolvimento da actividade agrícola na zona ribeirinha do Cafu: 16 tractores, alfaias, moto-cisternas, equipamento de rega, moagens, adubos, sementes, entre outros, que vão servir de apoio às famílias constituídas em cooperativas.

João Lourenço referiu que, "para além de criar gado, é preciso que a população pratique a agricultura diversificada, para garantir alimentação de qualidade, principalmente às crianças".

João Lourenço entregou também, de forma simbólica, os três primeiros títulos de propriedade de terras aos camponeses do perímetro do Cafu, processo que, segundo o Governo, vai abranger 2.000 famílias residentes ao longo do canal.

Projectos aprovados para o Cunene

O Sistema de Transferência de Água do Rio Cunene, um dos projectos cujas obras foram consignadas em 2019, depois de uma visita do Chefe de Estado à província de Angola mais assolada pela seca, adjudicado à empreiteira Sinohydro, consiste num sistema de estruturas e meios, que desviam uma quantidade de água limitada do rio Cunene, na localidade de Cafu, bombeando até ao cume da margem esquerda do rio, que será transportada por gravidade para as áreas visadas através de canais a céu aberto.

Em 2019 foram ainda consignados mais dois projectos, mas que não avançaram logo "devido a constrangimentos financeiros agora ultrapassados", segundo as palavras de João Lourenço numa visita anterior, em Julho do ano passado.

Um dos projectos envolve a construção de uma barragem de terra com 19 metros de altura e com um volume de armazenamento de 100 milhões de metros cúbicos de água, a montante do rio Cuvelai, na localidade de Calucuve, bem como o transporte de água por gravidade através do curso natural do rio.

Esta infraestrutura, segundo os dados avançados pelo Governo, vai satisfazer as necessidades domésticas de cerca de 81.000 pessoas, garantir a qualidade de água servida à população, permitir o abeberamento de cerca de 182.000 cabeças de gado e fornecer água para a irrigação anual de uma área estimada em 2.600 hectares.

O primeiro lote de construção (projecto e construção da Barragem 128 Calucuve), está a cargo do consórcio Omatapalo e Mota Engil, enquanto o segundo lote das obras (projecto e construção do canal adutor associado à Barragem 128 (Calucuve) a partir de Mupa até Ondjiva e 44 chimpacas (pequenos lagos artificiais), será executado pela empreiteira CRBC.

A Barragem 71 (Ndúe) e o seu canal associado visa a construção de uma barragem de terra com 26 metros de altura, com um volume de armazenamento de 145 metros cúbicos de água, no montante do rio Caundo, na localidade de Ndué.

Quando estiver concluída a obra serão, segundo o Governo, beneficiadas cerca de 55.000 pessoas, aproximadamente 60.000 cabeças de gado e uma área irrigada estimada em 9.200 hectares, além de poder tornar-se numa importante fonte de abastecimento de água à província do Cunene.

Os custos dos três projectos estão estimados em 136 milhões de dólares.

Para o Cunene, nos planos de João Lourenço, está igualmente prevista a construção e apetrechamento do Hospital Geral, obra aprovada em Novembro de 2020 e que implicará uma despesa de 50,5 milhões de euros (ler aqui). Em Maio de 2021, o Presidente deu também o seu aval a um contrato de empreitada para a construção da centralidade do Cunene, com 1000 habitações e respectivas infra-estruturas, que vale 182,9 milhões de dólares, a que se juntam 4,5 milhões para fiscalização. A empreitada está enquadrada na linha de crédito da Luminar Finance, sendo as obras da responsabilidade do grupo israelita Mitrelli (ler aqui).