É uma aposta de futuro com Angola na "proa" desta empreitada de Madrid a que chamou "Foco África 2023", com a qual Pedro Sánchez pretende "liderar a estratégia da União Europeia" para o continente.

Ao longo das últimas décadas, Madrid nunca deixou de olhar para o continente africano como uma oportunidade para expandir os seus interesses económicos e sempre que deu um passo nesse sentido, Angola nunca esteve fora do "mapa" de acção, com clara ambição de, como o próprio Pedro Sánchez afirmou, dias antes de embarcar, fazer desta década - 2020/2030 - "a década de Espanha em África".

Com este périplo, que vai levar, depois de Luanda, Sánchez ao Senegal, na África Ocidental, como estão hoje a noticiar os media espanhóis, o líder do Executivo de Madrid entende que é chegado o tempo de confirmar que Espanha estão "mais próxima de África" assim como o continente está "mais próximo de Espanha".

O Governo espanhol criou mesmo um instrumento de acção denominado "Foco África 2023" consubstanciando um conjunto de etapas para levar a diplomacia de Madrid ao continente com o objectivo de firmar uma sólida aposta empresarial, virando totalmente o foco de forma a gerar algo parecido a uma parceria estratégica não com um país mas com o continente africano como um todo.

Quando Sánchez apresentou, há cerca de uma semana, o projecto "Foco África 2023", sublinhava, como relataram os media locais na ocasião, que governo espanhol quer que este fosse um marco para distinguir o antes e o depois na relação do seu país com o continente africano.

E com ele, adiantava ainda o presidente do governo espanhol, Madrid pretende transmitir aos países africanos e à sociedade espanhola que o continente é uma geografia prioritária para a diplomacia de Espanha com quem se augura a construção de uma associação estratégica.

Liderar a União Europeia em África

Os media espanhóis não se furtaram a sublinhar que o chefe do executivo espanhol tem como prioridade criar condições para um impulso nas relações "de todo o tipo", não só no que diz respeito ao "vínculos bilaterais" mas que permita ainda "proporcionar a Espanha liderar a estratégia da União Europeia com o continente africano".

Para o futuro das relações com Angola, esta deslocação de Pedro Sánchez potencia igualmente "limpar" o histórico recente pouco abonatório para Madrid, tendo em conta os múltiplos escândalos de corrupção que estalaram na justiça espanhola, como pode ser recordado aqui, aqui ou aqui, aqui e aqui nomeadamente em negócios ligados à venda de armas e os subornos pagos a quadros do sector petrolífero ou ainda ao nível do Executivo com o investimento numa infra-estrutura de grandes dimensões no sector da distribuição de alimentos.

Mas os objectivos oficiais estão bem definidos: relançar as ligações empresariais, fortalecer os laços diplomáticos e reforçar a cooperação na área da segurança e defesa, com um vasto conjunto de empresas espanholas atentas às oportunidades neste sector e em toda a economia angolana que está a apostar fortemente na diversificação e na diluição da sua limitante dependência das exportações de petróleo com especial enfoque na substituição de importações e ou na "fermentação" do sector exportador.

Esta é a primeira deslocação oficial de um chefe do Executivo de Madrid a Angola desde o início da década de 1990, quando o então presidente do Governo de Espanha, Filipe González, esteve em Luanda.

Sobre esta visita agora, o embaixador em Luanda do Reino de Espanha explicou, numa entrevista à lusa, de forma clara ao que vinha o chefe do Governo do maior país ibérico.

Manuel Ruigómez avançou que Espanha decidiu apostar de forma clara em África, com destaque para cinco países que considera estratégicos neste novo "mapa" de "conquista" de África que passa pelo apoio ao desenvolvimento do continente com investimento espanhol nas mais diversas áreas, de acordo com um plano que foi elaborado e aprovado há dois anos, onde o continente surge destacado na acção da política externa de Espanha, que destaca, além de Angola, a Nigéria, o Senegal, a Etiópia e a África do Sul.

O diplomata recorda mesmo que este interesse de Madrid por Angola remonta ao início da independência, quando o então primeiro-ministro angolano, Lopo do Nascimento se encontrou em Madrid com o seu homólogo, Adolfo Suarez, em 1976, lançando ali as bases de um relacionamento que dura até hoje e foi sendo reanimado amiúde sem que nunca tenha ganhado a dimensão que, aparentemente, ambas as partes desejam e que agora Madrid que garantir que, finalmente, se vai concretizar.

Nesta deslocação a Angola, além de Luanda, onde se vai encontrar com o Presidente João Lourenço, na quinta-feira à tarde, Sánchez visita, antes, nesse mesmo dia, um investimento espanhol no Kwanza Norte, na área de produção de energia, em três municípios, e visita ainda, no Sambizanga, em Luanda, o instituto D. Bosco. Está igualmente previsto um almoço oficial.

Vai ser divulgada uma declaração conjunta sobre os resultados desta visita e serão assinados alguns acordos em áreas como as pescas, a agricultura e os transportes.

Entre as empresas com executivos à bordo do avião de Pedro Sánchez estão a Elecnor (energia), a Satec (consultoria em tecnologia), a Airbus (aviação e armamento), entre outras.